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Comportamento

O dia em que o Viagra dos guató quase foi parar em laboratório italiano

Lenilde Ramos | 20/03/2016 07:56
Estanislao Pryemski pelos corredores do São Julião.
Estanislao Pryemski pelos corredores do São Julião.

Estanislao Pryemski chegou ao São Julião com 90 anos e virei secretária dele. Falava 5 idiomas, espantava os médicos com seus conhecimentos e era nosso William Bonner, porque saía espalhando o que ouvia nas rádios de Moscou, Alemanha e EUA.

Intitulou-se "Engenheiro Agrônomo Residente" e fez uma hortinha.

Quando Joel Pizzini fazia seu filme sobre os guató, xeroquei para ele todo o material que herdei de Estanislao. Espero que tenha servido.

O polonês um dia contou que, na época da cheia, muitos guató morriam picados pelas cobras que subiam nos cocorutos, as ilhotas do Pantanal.

Salvou muitas vidas com soro antiofídico e, como recompensa, os índios lhe deram a poção feita de uma frutinha vermelha nascida de uma batata que brotava na beira dos corixos, chamada Flor das Cobras, porque os calangos picados comiam a batata e se salvavam.

A outra função da Flor das Cobras era sexual.

Os guató diziam que se o homem passasse aquela frutinha moída no pinto, teria um orgasmo de 50 mil decibéis.

Na mesma época, chegou ao São Julião o representante de um laboratório italiano que realizava pesquisa no hospital e Irmã Silvia apresentou o velho ao big boss.

Estanislao falou sobre a Flor das Cobras e o italiano pirou. Nem existia Viagra...

O italiano pediu uma amostra da batata e em troca prometeu patrocínio para o projeto do livro e da gravação das vozes da natureza. Fui encarregada de fazer o projeto: me coloquei como produtora, o Indio (meu marido) como guia e mais dois amigos para captar imagens e áudio. Tinha Jeep e barco no projeto.

O italiano viajou e pediu que Estanislao enviasse a batata da Flor das Cobras, antes deles liberarem a verba. Estanislao teimou e foi sozinho ao Pantanal. Voltou e despachamos as batatas para a Itália.

Passaram-se 6 meses e nada da batata florescer. De tanto apertarmos o polonês, ele confessou: "Aquele italiano ia desvirtuar a raça humana e eu não seria conivente com esse sacrilégio, por isso desidratei as batatas".

Ficamos de cara e eu quase matei o velho (de raiva). Passamos vergonha com o laboratório italiano e nosso projeto de gravar as vozes da natureza naufragou.

Mas, valeu por essa e tantas histórias do velho Estanislao Pryemski, que é um dos personagens do meu livro História sem Nome.

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