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Comportamento

O que você ouvia quando era criança?

Ângela Kempfer e Anny Malagolini | 12/10/2012 07:55
Maria Clara destoa de sua geração: ouve Maria Bethânia.
Maria Clara destoa de sua geração: ouve Maria Bethânia.

Lembro até hoje qual foi o primeiro disco que chamei de “meu” nesta vida. Era um LP de capa marrom, de Milton Nascimento. Achava as músicas tristes, não aguentava chegar à segunda faixa, mas era um prêmio, tomado na marra de meu pai.

Simpatizei com ele, mas o que ouvia mesmo e dançava pra danar era uma canção de letra fácil, que repetia “Comprei um quilo de farinha, pra fazer farofa, pra fazer farofa-fa”.

E é por lembrar do sucesso daquele tempo que saio em defesa das crianças neste 12 de outubro. Se eu e tantos amigos ouvimos e dançamos ao som da melô da farofa, porque eles não podem cantarolar por aí “Agora eu fiquei doce, doce, feito caramelo”, ou algo parecido?

A bancaria Karoline Gomes Dutra, de 28 anos, ouvia Xuxa, a filha de 7 anos, Izabella, só escuta sertanejo, é fã do cantor Luan Santana.

Para mãe, não há problema. Ela acha que hoje as crianças já não são mais ligadas em música como antes. “Hoje as crianças têm muita informação, são diferentes, nem de casinha ela quer brincar”, argumenta.

Mesmo bem mais nova, sem a oportunidade de viver os tempos de glória do Balão Mágico, Simone Fonseca, 27 anos, gostava da trupe da quase xará Simony. Também lembra de músicas infantis, como o hit do “carimbador maluco” Raul Seixas.

Hoje, com dois filhos, Júlia, de 7, e Enzo, de 4 anos, ela tenta contagiar as crianças. Toda sexta-feira, ao lado do marido no violão, reserva um tempo para colocar MPB para tocar.

“Tem pai que para o filho ficar quieto acha melhor colocar na frente de uma TV ou no computador. A escola das crianças também incentiva eles a gostarem de músicas para crianças, com letras e temáticas apropriadas para a idade delas”. Um bom conselho de Simone.

Ana Karla Rigon, 33 anos, é um exemplo de como a família pode ser decisiva nesse quesito. A menina cresceu e depois de muito cantar com o Balão Mágico aguçou o gosto musical com o estilo clássico, justamente por influência do pai que participava da banda do Exército.

O filho Caio Vinicius, 4 anos, ouve agora o hit infantil do momento, a  “Galinha Pintadinha”, um sucesso que há muito não se via no Brasil. Tudo bem para a mãe, o menino se diverte.

Izabella é fã de Luan Santana.
Izabella é fã de Luan Santana.

Se há uma música que faz o casal Fernando Teles, 44 anos, e Veridiana Nicolatt, 38 anos, voltarem no tempo é a de abertura do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Mas o filho Felipe Augusto, é moderno. Com apenas 12 anos, já gosta de música eletrônica. O menino tem um ouvido diferente desde de muito cedo, quando bebê, “se mexia todo quando ouvia a banda Charlie Brown Jr”, conta o pai.

O outro filho, Pedro Afonso, 10 anos, se rendeu à onda do sertanejo universitário. Gosta mesmo é de “Camaro Amarelo”. Vai entender como um ouve o oposto do outro, se as referências são as mesmas.

Para mim, a moral da história é deixar a criançada se divertir. Já vi gerações dançando na “boquinha da garrafa” e nem por isso vejo uma legião de jovens enlouquecidas de shortinho de malha e top andando por aí.

Mas também vejo outra moral nesta conversa e peço licença à mãe de Maria Clara, uma menina linda de cabelos pretos e óculos escuros, para desenhar o que penso sobre a sensibilidade e a humanidade presente em boas canções.

Aos 6 anos, ela se diverte como poucas crianças. Já canta, atua e cria poemas e canções. “Desde pequena eu ouvia os sons com atenção, e comecei a escrever sozinha. Minha mãe disse que eu sou o gravador dela, porque tudo que eu escuto gravo”, comenta a menina articuladíssima.

Impressionante, mas a menina gosta de Maria Bethânia. Nem sei se isso vai significar algo para Maria Clara no futuro, mas hoje ela tem a capacidade de questionar, o que já é uma vantagem e tanto em um mundo em que até adulto tem dificuldade de pensar, respeitar, criar e amar.

Depois de muito ouvir a mãe falar sobre Bethânia, perguntou se a cantora era realmente famosa, porque nunca ouviu em rádios e nenhuma de suas amigas a conheciam.

Bem, fica o recado de uma criança em forma de pergunta.

Júlia
Júlia
Pedro Afonso
Pedro Afonso
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