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Comportamento

Padre é famoso por chorar em todo casamento, ao lembrar da esposa que partiu

Jayme é conhecido por se emocionar em casamentos, ao lembrar da esposa que partiu e fez ele escolher pelo sacerdócio

Thailla Torres | 03/01/2018 07:58
Jayme lembra que foi feliz as décadas que conseguiu viver ao lado da esposa. Mas hoje é cheio de saudade. (Foto: André Bittar)
Jayme lembra que foi feliz as décadas que conseguiu viver ao lado da esposa. Mas hoje é cheio de saudade. (Foto: André Bittar)

Jayme Aguiar surge com sorriso doce na porta de casa, no bairro Taquarussu, em Campo Grande. De cara fica emocionado ao saber que mais uma vez irá falar de Hilda, a esposa e o grande amor que o deixou há 16 anos. Motivo de choro quase que diário, mas que ele não teme em falar.

Jayme é padre e médico conhecido pelo olhar emocionado, e sabe da fama que tem ao chorar em toda cerimônia de casamento. A lágrima parece inevitável ao lembrar da esposa que esteve com ele por 24 anos antes do exercício do sacerdócio.

"Choro, choro mesmo porquê a união e o amor são coisas muito preciosas na vida. E tive isso com Hilda, ela é onipresente pra mim".

Jayme e Hilda Salomão Costa, trocaram alianças em 1977, na casa dela em Bela Vista (MS), longe da família dele. "Naquela época eu tinha vindo do Rio de Janeiro. E minha família era muito pobre, não tive condições de trazê-los".

Mas juntos, ele e Hilda tiveram uma história de amor que perdura. "Sempre de muita alegria, companheirismo e afeto. Eu e Hilda não tínhamos ciúmes de nada e olha que ela era uma baileira. Mas dançava lindamente e gostava muito de samba, eu como bom carioca ainda amo", ri.

Um dos retratos de Hilda que Jayme adora. (Foto: André Bittar)
Um dos retratos de Hilda que Jayme adora. (Foto: André Bittar)

A alegria deu lugar a saudade quando veio diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica. Uma doença incurável que fez o coração de Hilda parar dentro de sete meses. "Ela é provocada pela degeneração progressiva no primeiro neurônio motor superior no cérebro e no segundo neurônio motor inferior na medula espinhal. É uma doença que não lhe causou dor, mas também não deixou viver. Ela foi paralisando tudo, nem oxigênio adiantou".

Fraqueza nas pernas e a mudança na voz foram os primeiros sintomas. E a notícia da doença veio da forma mais triste e rápida que Jayme podia imaginar, quando a esposa estava com 57 anos. "Ele [médico] me disse que Hilda estava com uma doença rara, incurável e que morreria logo. Foi exatamente assim, nessa ordem, que ele me contou e me deu um livro para ler mais sobre a esclerose. Foi um susto, mas Hilda continuava lúcida, entendendo tudo a sua volta, mas falando com muita dificuldade".

Ao saber da expectativa de vida, a esposa viveu a negação, superou a depressão até compreender que a doença a levaria em pouco tempo. "Foi um curto período na fase depressiva, até que depois ela simplesmente aceitou que iria morrer. Foi tudo muito rápido, tanto que um mês antes da sua morte, ela deu todas as roupas que tinha para a família e se preparou para partir". 

A esposa faleceu dias depois do seu aniversário. Datas que deixam o padre sempre emocionado.  "Ela fazia aniversário no dia 1º de janeiro e faleceu no dia 26, de maneira silenciosa, sem apavorar ninguém. Por isso esse é um mês muito tocante pra mim".

A memória de Jayme aparece em detalhes, até no salto alto que Hilda usava fazendo "toc toc" pela casa. "Ela andava com perfeição. Você não imaginam como Hilda era linda", recorda.

Cheio de saudade ele faz questão de mostrar um dos únicos vestidos que ainda guarda de lembrança da esposa. Um modelo vermelho, usado por ela na formatura de Jayme, em 1980. Que teve uma história surpreendente depois da sua morte. "O vestido foi parar nas mãos de alguém, não sei quem. Mas um dia uma encomenda dentro de um envelope chegou na porta de casa. Era esse vestido enrolado em um plástico. Até hoje não sei quem mandou, mas decidi não ir atrás, quem enviou sabe o quanto essa encomenda foi especial pra mim".

O vestido que Hilda usou em sua formatura, há pouco tempo voltou para as mãos de Jayme. (Foto: André Bittar)
O vestido que Hilda usou em sua formatura, há pouco tempo voltou para as mãos de Jayme. (Foto: André Bittar)

Na mão esquerda ainda está a aliança trocada com esposa na década de 70, mesmo depois de virar padre. "Não tenho porque tirar. Na vida religiosa, só não posso casar novamente, mas nada me impede de lembrar da Hilda com amor".

Jayme não casou de novo, tornou-se padre há 16 anos, participa de missas, casamentos, bodas e passa os dias atuando como médico voluntário. Muito bem disposto e saudável, prestes a completar 79 anos, amanhã, dia 4 de janeiro.

Chegou em Campo Grande há 40 anos para servir o quartel. Depois de casado, formou-se em Medicina na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e hoje garante que trabalha para retribuir toda saúde que ganhou na vida e para não esquecer a Medicina. "É o melhor que posso fazer. A gente precisa estar sempre com a mente trabalhando e não posso esquecer tudo que aprendi. Digo que sou feliz até onde cheguei, sempre acompanhado de pessoas muito queridas na vida".

Juntos não tiveram filhos, mas não faltaram crianças para alegrar os dias da casal. "Nunca me arrependi disso, Hilda também não. Éramos dois profissionais muito ocupadas e sempre preocupados com o próximo. Por isso ter um filho nunca passou pela nossa cabeça, até pela idade em que chegamos, mas nunca faltaram crianças. Aliás muitas até pareciam filhos da Hilda".

Agora, na companhia dos pacientes e da vida religiosa. O padre só quer levar o bem ao próximo. "Resolvi ser padre para servir a população e me dei muito bem. Faço isso com fé e amor. É um bem ouvir as pessoas e levar a palavra que hoje pode ser nossa maior esperança no mundo".

Mas a cada minuto, o nome da esposa é lembrado. Hilda partiu, mas deixou um "jeitão", como descreve o padre. "Era o jeitão dela que encantava, sempre muito sorridente e feliz. Hilda se foi, mas seu sorriso ficou".

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Mesmo após Hilda partir, padre nunca tirou aliança do dedo. (Foto: André Bittar)
Mesmo após Hilda partir, padre nunca tirou aliança do dedo. (Foto: André Bittar)
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