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Comportamento

Pai doa pedaço de fígado para filha e diz que cicatriz é "tatuagem de amor"

Elverson Cardozo | 05/11/2014 06:13
"Se fosse preciso eu daria o meu coração para ela", diz Felipe, sobre a cirurgia que fez para doar um pedaço do fígado à filha de 9 meses. (Foto: Arquivo Pessoal)
"Se fosse preciso eu daria o meu coração para ela", diz Felipe, sobre a cirurgia que fez para doar um pedaço do fígado à filha de 9 meses. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu fiz o que qualquer pai faria para salvar a vida de um filho”. A frase, que já foi dita outras tantas vezes, partiu, desta vez, do monitor escolar Felipe Hartelsberger Moreira, de 23 anos, morador de Ribas do Rio Pardo, a 103 quilômetros de Campo Grande. E ele, como os outros, também tem um motivo especial para falar isso.

Há 2 meses, o rapaz doou um pedaço do próprio fígado à filha, Lara, hoje com 9 meses, em uma cirurgia que durou 16 horas e envolveu uma equipe de 8 médicos do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Felipe levou quase 30 pontos e ganhou uma cicatriz enorme na barriga, mas a marca, para ele, tem um significado especial. “É a tatuagem que vou lembrar para o resto da minha vida. É uma tatuagem de amor, que simboliza nossa trajetória e caminhada até aqui e daqui para frente”.

O monitor diz “nossa trajetória” porque inclui, nesta caminhada, a esposa, também monitora escolar, Irmantina Ribas Rodrigues, de 21 anos, a Tininha, que viu de perto a luta da filha pela vida e o ato de amor do pai.

O nascimento - Juntos há 6 anos, o casal recebeu Lara em janeiro de 2014, depois de uma gestação não planejada. A menina veio ao mundo apresentando olhos e pele amareladas. Os médicos falaram, em um primeiro momento, de icterícia e recomendaram banho de sol, diz a mãe.

Lara vive sorrindo e nem parece que enfrentou um transplante. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lara vive sorrindo e nem parece que enfrentou um transplante. (Foto: Arquivo Pessoal)

Tininha diz ter seguido as recomendações durante dois meses, crente de que o problema desapareceria, mas a coloração amarelada permaneceu. Foi então que, em um nova visita ao pediatra, ela saiu com uma outra suspeita.

A garota poderia ter atresia de vias biliares, grave obstrução congênita das vias biliares, ductos que conectam o fígado e a vesícula biliar ao duodeno e que conduzem a bile, fluído necessário para digestão da comida.

Antes dos três meses, Lara já estava em Campo Grande, internada na Santa Casa. No hospital, conta a monitora, os médicos descartaram essa hipótese e passaram a tratar o problema como citomegalovírus, doença que, entre outras coisas, pode causar infecção do sistema digestivo.

“Ela tomou remédio por dois meses, mas não houve melhora. Continuava amarela e começou a inchar”. No início de julho, prossegue, a equipe resolveu encaminhar Lara para o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Lá, relata, os profissionais chegaram à conclusão de que o problema era, de fato, atresia de vias biliares. “Eles explicaram que é uma doença rara, muito grave, e que a criança precisa ser transplantada, mas para isso acontecer tem uma série de fatores. Tem que ficar na fila de doadores cadáveres e vivos. A possibilidade mais fácil seria encontrar uma pessoa compatível para doar um pedaço do fígado”, declara.

Lara no pós-operatório. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lara no pós-operatório. (Foto: Arquivo Pessoal)

A cirurgia - Aí entra o pai da menina, Felipe Hartelsberger, que, sem hesitar, submeteu-se a uma série de exames para descobrir se era compatível e se poderia enfrentar a cirurgia. Deu tudo certo. A resposta saiu em 15 dias e, em 3 de setembro, ele e a filha já estavam no centro cirúrgico.

A cirurgia, feita pelo SUS (Sistema Único de Saúde), correu bem. Lara recebeu alta e, até agora, não apresentou qualquer sinal de rejeição. Antes, a menina tomava 7 medicamentos por dia. Atualmente, faz tratamento com apenas quatro.

O casal ainda estão em São Paulo, morando em um kitinet alugada, porque precisa acompanhar a filha nos retornos semanais ao hospital pelos próximos três meses. Os dois estão com saudade da casa em Ribas do Rio Pardo, claro, mas felizes em ver Lara bem, sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

“Até quando sofria ela sorria. Agora é só alegria, tanto para ela como para nós. Nem parece que aconteceu um transplante”, afirma Felipe, ao comentar que, se fosse preciso, daria o próprio coração para a menina.

“Hoje, vendo que ela está bem, isso faz a gente enxergar que tudo valeu a pena. Deus faz a coisa certa, do jeito certo”, comemora.

Tininha, Felipe e Lara. (Foto: Arquivo Pessoal)
Tininha, Felipe e Lara. (Foto: Arquivo Pessoal)
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