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Comportamento

Pegar carona é trauma que ficou na jovem que perdeu o braço em acidente

Paula Maciulevicius | 24/05/2016 06:05
Gabrielli Guenka nunca julgou a amiga que provocou o acidente e carregou como lição o quanto é essencial ter paciência. (Foto: Alcides Neto)
Gabrielli Guenka nunca julgou a amiga que provocou o acidente e carregou como lição o quanto é essencial ter paciência. (Foto: Alcides Neto)

Prestes a completar dois anos do acidente, a jovem que era carona do carro que acertou a academia ao ar livre da farmácia São Bento, na esquina da Amazonas com a Ceará, vê na data uma comemoração do segundo aniversário de uma vida. Foram 12 dias de hospital e um ano de recuperação incluindo idas ao médico, fisioterapia e terapia ocupacional e também acompanhamento psicológico. Gabrielli Guenka nunca julgou a amiga que provocou o acidente e carregou como lição o quanto é essencial ter paciência. O trauma que ficou não se resume nem ao lugar da batida, que ela visitou dias depois do acidente, e sim a pegar carona. 

Antes de embarcar do lado direito do motorista, ela pensa duas vezes. Foi para uma reportagem sobre o que um deficiente ouve nas ruas que o Lado B chegou até Gabrielli. Estudante de Engenharia da Computação, de 23 anos, que lida muito bem com a amputação no braço direito. Foi a aceitação dela, ao ver dos médicos, que a ajudaram tanto na recuperação à época.

Gabrielli era passageira do Celta. A motorista perdeu a direção do veículo e atingiu os equipamentos da academia. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)
Gabrielli era passageira do Celta. A motorista perdeu a direção do veículo e atingiu os equipamentos da academia. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)

Gabrielli era passageira do Celta dirigido pela amiga Célia Caroline Oliveira na madrugada do dia 19 de junho de 2014. A motorista perdeu a direção do veículo, bateu em um carro estacionado e depois atingiu os equipamentos da academia. Com o impacto da batida, o braço da jovem foi arrancado e a condutora, presa por embriaguez. "Se mexeu com a minha vida? Mexeu sim", fala Gabrielli hoje.

Aquela noite as duas saíram para comemorar o aniversário de uma amiga na Valley. Como estava de carona, Gabrielli não se preocupou e diz ter enchido a cara mesmo. A amiga, ela conta que só tomou uma cerveja. "Acho que ela caiu no sono. Na época todo mundo falou que ela estava bêbada, mas a gente acha que ela só dormiu, não fez a curva e aconteceu o acidente", conta.

A última coisa que a jovem se lembra é de estar indo comer na madrugada pós balada. "Quando eu acordei, achei que estava morta, no hospital, porque não conseguia me mexer e nem falar", recorda. Foi um dia e meio para a ficha cair de que ela estava viva.

"Quando olhei para o lado e vi que não tinha braço, eu pensei: pelo menos estou viva". No momento do acidente, pelo menos três pessoas conversaram e lhe fizeram companhia. Um senhor que passava pela rua, a farmacêutica dali e o bombeiro. Mas isso foi o que contaram depois, na recuperação.

Antes de embarcar do lado direito do motorista, ela pensa duas vezes. (Foto: Alcides Neto)
Antes de embarcar do lado direito do motorista, ela pensa duas vezes. (Foto: Alcides Neto)

Passado o susto imediato, o que Gabrielli lembra de ter visto foi uma série de julgamentos em cima da amiga. "Caíram na alma dela. Eu estava bêbada, ela não. Não lhe deram atendimento médico na hora, levaram direto para a cadeia como se fosse uma bandida", comenta a estudante. Também pela internet, Célia recebeu tudo quanto foi tipo de ameaça.

"Eu nunca julguei, não foi de propósito. Ninguém faria de propósito e ela já estava sofrendo tanto", explica. Duas semanas depois de ter saído do hospital e quando já podia receber visitas, é que a motorista foi até a casa da amiga. "Ela ficou tão mal, só chorava. Eu não ia piorar a situação dela, já estava ruim para mim".

De início, Gabrielli não gostava de olhar para o braço que faltava. O medo era que atrás do curativo, houvesse um buraco. Mas foi o tempo e a paciência de esperá-lo que lhe mostraram que a vida continuava. "Eu mudei bastante em relação à ter mais paciência. Tudo o que eu faço tem que ser mais devagar. Na primeira vez, eu não conseguia amarrar o sapato, por exemplo", conta.

O acidente e amputação lhe ensinaram também a pensar duas vezes antes de fazer alguma coisa. "Fiquei com trauma de andar de carona. Prefiro ir de carro ou minha mãe me buscar. Não que eu culpe ela, mas fica um pouquinho de medo. Antes do acidente, eu não tinha medo nenhum", descreve.

Ela e Célia continuam amigas, hoje à distância, porque Célia se mudou do Brasil. "Às vezes eu ainda estranho o braço, porque você viveu com ele durante 20 anos e de repente? De repente não tem mais".

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