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Comportamento

Prestes a completar 1 ano na Santa Casa, amor de Luiz e Edna muda de quarto

Paula Maciulevicius | 13/02/2016 07:12
Nessa sexta-feira, depois de 355 dias morando na Santa Casa, eles se despediram do hospital pela janela da ambulância.
Nessa sexta-feira, depois de 355 dias morando na Santa Casa, eles se despediram do hospital pela janela da ambulância.

Ainda não é a casa, mas já é a cidade. Os 135 quilômetros que separaram durante quase um ano seu Luiz do lar, agora não existem mais. Do quarto 417, o casal se mudou para o apartamento 15. Nessa sexta-feira, depois de 355 dias morando na Santa Casa, eles se despediram do hospital pela janela da ambulância e seguiram para a cidade de Aquidauana, onde pelos próximos 30 dias ficam internados no Hospital Funrural.

O Lado B contou o amor de Edna e Luiz no último dia 25 de janeiro, quando eles faziam 336 dias de vida dentro da Santa Casa e que o olhar era a única comunicação entre eles. Dona Edna, que depois do último AVC somado ao histórico de saúde complicado há 20 anos, respira pela traqueostomia e só consegue dizer sim ou não pelo sorriso ou choro. 

Quem interpreta todas as reações é o marido, Luiz Carlos Barbosa, caminhoneiro, de 61 anos, que não via a hora de pegar estrada. Ao lado da esposa, ele dormia e acordava na poltrona da Santa Casa, cuidou tão bem que a Edna não ela apresentou escaras. O amor com que ele fala dela não fica só nas palavras, seu Luiz tatuou no braço o nome da amada. A tatuagem agora volta para a terra natal, assim como os donos dela. Ele da marca, ela do nome. 

Seu Luiz tem o amor no peito e também tatuado no braço. (Foto: Fernando Antunes)
Seu Luiz tem o amor no peito e também tatuado no braço. (Foto: Fernando Antunes)
Na despedida, seu Luiz de camisa do Corinthians olhando pela última vez para a Santa Casa.
Na despedida, seu Luiz de camisa do Corinthians olhando pela última vez para a Santa Casa.

"Na própria estrada ela já compreendeu que estava indo para a casa", conta Luiz. Para ser colocada na ambulância, a equipe daqui colocou medicamentos para que Edna seguisse a viagem mais tranquila. "Perguntei se ela estava feliz e ela correspondeu que sim, sorriu".

Foi pouco mais de 1h30 de viagem e muita emoção desde a saída do quarto. "Eu sempre acreditei que ia trazer ela para Aquidauana com vida e meu deu um nervoso por dentro. Parecia que não caía a ficha, só depois que a gente embarcou mesmo", descreve.

Corintiano roxo, seu Luiz descreve que agradeceu e se despediu da equipe que os acompanhou na Santa Casa sentindo como se estivesse numa partida final. "É como se eu tivesse ganhado um campeonato. Ganhei uma parte, falta só eu levar ela para casa".

Em Aquidauana, só elogios para a equipe médica, de enfermagem, fisioterapia e estrutura do hospital. Luiz teve de entrar na Justiça para conseguir que o Estado bancasse os equipamentos necessários para ele poder levar a esposa para casa. O processo inclui desde fraldas, dieta específica, cama hospitalar e oxigênio, divididos entre Prefeitura e Estado.

Por ora, serão 30 dias em que Edna ficará internada no hospital, até a adaptação da casa, que é de responsabilidade da família.

Já em Aquidauana, o olhar de quem sabe que está em casa. (Foto: Giselli Figueiredo)
Já em Aquidauana, o olhar de quem sabe que está em casa. (Foto: Giselli Figueiredo)

Filha do casal, Luiza Carla Olive Barbosa, de 29 anos, é a maior fã e testemunha do amor dos pais. A caçula de três filhos, viu a alegria voltar aos olhos do pai quando a ambulância encostou para buscá-lo. "Para ele é muito gratificante, já tinha quase um ano. Passamos por várias fases, em momentos que a gente pensava.... Em outros, agradecia por Deus ter nos dado mais um dia com ela. Foram altos e baixos", descreve.

Luiza Carla acredita que em casa, a mãe receba outros estímulos, principalmente das amigas. "Foi uma despedida do hospital muito emocionante, foi onde eles fizeram amigos, a equipe toda, foi mais que um serviço, eles se tornaram família para a gente", explica a filha.

Seu Luiz é aposentado, Luiza está desempregada e dona Edna não tem renda. Ainda assim, a família precisa adaptar a casa para que a dona dela volte ao lar. Parede terá de ser quebrada e ar condicionado instalado, o mínimo de estrutura e que eles agora correm contra o tempo para conseguir. "Mas com fé em Deus a gente vai conseguir todas as coisas", acredita. 

Num linguajar de caminhoneiro, seu Luiz conta que não via a hora de sair do "toco". "É que toco significa estar parado num lugar, sentado, esperando. E eu sempre dizia, a gente vai sair do toco, você está me entendendo? E ela piscava que sim".

O próximo mês ainda será no hospital, mas seu Luiz está na contagem regressiva para encontrar a felicidade. "Em casa, ali que mora a felicidade. É onde vou mandar a tristeza ir embora... 

A vida mudou, voltou a ser o que era. Ela até já dormiu um sono gostoso. A hora que vinha chegando, que passou pela ponte, eu agradeci tanto. Fiz minhas orações, agradeci muito a Deus e pedi para ele ponhar ela em cima de uma cadeira de rodas para mim, que já está bom demais", diz um homem apaixonado.

"Eu sempre acreditei que ia trazer ela para Aquidauana com vida..." (Foto: Giselli Figueiredo)
"Eu sempre acreditei que ia trazer ela para Aquidauana com vida..." (Foto: Giselli Figueiredo)
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