Produtividade tóxica: saiba quando se dedicar pode virar obsessão
Busca por desempenho pode afetar a saúde física e mental, e psicóloga ajuda a diferenciar as duas coisas

Quem não conhece alguém que bate no peito e diz que vive pelo trabalho? Se antes o termo “workaholic”, ou viciado em trabalho, era considerado de “sucesso”, hoje, além de antigo, pode ser sinônimo de produtividade tóxica. Ou seja, quando a busca por desempenho se torna uma obsessão e afeta, e muito, a saúde física e mental. Mas, afinal, como saber identificar se é apenas dedicação ou excesso?
RESUMO
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A busca incessante por alta performance no trabalho pode se transformar em produtividade tóxica, uma obsessão que compromete a saúde física e mental. Especialistas alertam para os sinais: culpa por descansar, comparação compulsiva, preenchimento excessivo da agenda e ansiedade constante. A pessoa se define apenas pelo que faz, desconectando-se de momentos pessoais e familiares. Para combater esse ciclo, é crucial redefinir o conceito de produtividade, valorizando atividades como leitura, convívio social e descanso. Limitar o uso de redes sociais, aprender a dizer não e praticar pausas regulares, como a técnica pomodoro, são passos importantes. O objetivo é desacelerar, reconhecer os próprios limites e priorizar o bem-estar em detrimento da pressão por resultados.
Para a psicóloga Cristiane Lang, existe um limite tênue entre ser produtivo e ser obcecado. Vivemos em uma era em que produzir virou não só uma necessidade profissional, mas também uma moeda social. Nada é o suficiente e tudo muda o tempo todo. Quem acorda cedo, lota a agenda e acumula entregas é reconhecido como exemplo.
“A produtividade tóxica costuma se disfarçar de ‘força de vontade’ ou ‘disciplina exemplar’, mas, nos primeiros sinais, ela deixa pistas de que o ritmo não é saudável. Esses sinais iniciais costumam ser: sentir culpa por descansar; comparação compulsiva com os outros; pular da meta atingida direto para a próxima; preencher a agenda como se o tempo livre fosse algo ruim. A pessoa também sente ansiedade por ‘ficar para trás’, pode esquecer de comer ou dormir porque ‘não dá tempo’ e se define apenas pelo que faz.”
Cristiane explica que a pessoa não consegue desligar. Mesmo quando o corpo pede pausa, a mente insiste que parar é sinônimo de preguiça ou fracasso. Ela não dá tempo para sentir satisfação ou reconhecer o próprio esforço e preenche cada minuto do dia com obrigações. Tem gente que aceita até perder momentos importantes com a família, amigos ou consigo mesmo para manter o ritmo.
Ela pontua que uma boa régua para medir se a dedicação está passando do limite é avaliar se os resultados do trabalho são constantemente mostrados em qualquer momento, mesmo que o assunto não envolva trabalho. Segundo a psicóloga, a produtividade saudável é silenciosa e equilibrada. A pessoa não precisa impressionar ninguém, apenas sustentar a vida que deseja viver.
Dois lados da mesma moeda?
Nesse cenário, é preciso ter cuidado para não cair na procrastinação e deixar de cumprir com os deveres. Aqui, há dois extremos perigosos: o “faz tudo” e o “faz nada”. Os dois podem parecer opostos, mas produzem consequências igualmente ruins.
“O dia do ‘faz tudo’ é medido pelo número de tarefas concluídas e, em qualquer momento de pausa, ele acha que está desperdiçando tempo. Essa mentalidade, alimentada por redes sociais piora. Ela pensa no trabalho antes de dormir, responde e-mails no almoço e transforma hobbies em possíveis oportunidades".
Uma das consequências disso é o famoso burnout, além de ansiedade e perda da identidade fora do ambiente profissional. “Ele pode ser admirado, mas raramente é feliz. Do outro lado, temos o ‘faz nada’. À primeira vista, pode parecer pura preguiça, mas muitas vezes é o oposto, é uma paralisia diante da pressão. Quem vive nesse extremo sente tanto medo de não dar conta ou de não atingir o padrão exigido que prefere não começar.”
Segundo a psicóloga, a procrastinação vira uma defesa inconsciente. “Se não faço, não falho, mas isso traz outro tipo de sofrimento, como frustração, sensação de inutilidade e perda de propósito. O ‘faz nada’ também é um produto da produtividade tóxica.”
O que fazer?
Desacelerar da produtividade tóxica não é simplesmente fazer menos, mas sim reaprender a viver sem medir o valor pessoal apenas pelo quanto você produz. Desacelerar é um verbo, ou seja, uma ação. É um processo que exige consciência, prática e, muitas vezes, desconforto no início, conta Cristiane.
“Antes de mudar o ritmo, você precisa admitir que está preso nele. É preciso redefinir o conceito de produtividade e entender que ler um livro por prazer, cozinhar, dormir bem, conversar com alguém que você ama, tudo isso alimenta sua vida, mesmo que não gere lucro ou reconhecimento externo”.
Também é preciso entender que pausas não são luxo, elas são importantes para a manutenção do corpo e da mente.
“Use técnicas como o método pomodoro ou marque na agenda momentos de ‘tempo livre’ e trate eles como compromissos inadiáveis. Grande parte da produtividade tóxica vem de medir sua vida pela régua dos outros. Limitar tempo de uso das redes sociais ou silenciar conteúdos que disparam comparação pode ajudar".
Uma das coisas mais importantes é valorizar o “fazer nada”, e o começo pode ser com apenas poucos minutos , de 5 a 10 por dia, por exemplo.
“Respire e observe o ambiente. A mente desacelera quando percebe que não precisa preencher cada minuto com tarefas. A pessoa também precisa aprender a dizer ‘não’. Recusar convites, tarefas e responsabilidades desnecessárias é essencial para abrir espaço ao que realmente importa. E, acima de tudo, descansar, porque um corpo descansado produz melhor e, principalmente, vive melhor.”
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