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Comportamento

Quando os alunos são adultos, vale até stand up comedy para segurar a evasão

Projeto em escola pública criou várias atividades e tem até espaço para pais levarem crianças durante ano letivo.

Wendy Tonhati | 20/02/2019 08:45
Alunos tiveram noite de integração (Foto: Paulo Francis)
Alunos tiveram noite de integração (Foto: Paulo Francis)

A noite de terça-feira foi de integração na Escola Estadual Arlindo de Sampaio Jorge, na Moreninha 2, em Campo Grande. No pátio, decorado com bandeirolas, foram colocadas cadeiras para os alunos acompanharem apresentações culturais. O grande desafio é combater a evasão, mesmo com as dificuldades do dia-a-dia.

E nesse caminho, vale tudo. Na acolhida deste começo de ano letivo foram dois dias com músicas, danças, apresentações culturais, exposição de trabalho fotográfico e até comédia com show de stand up. A escola também tem um espaço para as crianças, de até 8 anos, para pais que não têm com quem deixar as crianças.

A ação é chamada de Trem da Cultura e reuniu os estudantes do Projovem, que tem de 18 a 29 anos, e não terminaram o Ensino Fundamental, além dos alunos do EJA (Ensino de Jovens e Adultos) para todas as idades que queiram concluir o Ensino Médio.

A ideia de integrar os alunos e fortalecer o vínculo com a escola pode ser explicada pelas características dos estudantes, que são na maioria adultos, trabalham e têm responsabilidades que superam e muito as tarefas escolares.

Os educadores fazem o trabalho de perto. Quando um aluno falta por algum tempo às aulas, eles ligam para saber o que aconteceu. Quando as ligações não são atendidas, vão até a casa dos alunos para tentar descobrir os motivos que estão por trás da evasão escolar. Mesmo com essas estratégias, o Projovem da escola das Moreninhas têm índice de evasão. Dos 175 alunos matriculados, cerca de 100 são frequentes nas aulas. Ainda há vagas para esse ano e as matrículas ainda podem ser feitas.

Alunos fizeram apresentação com músicas típicas (Foto: Paulo Francis)
Alunos fizeram apresentação com músicas típicas (Foto: Paulo Francis)

O professor de língua portuguesa, Nizael Almeida, explica que o Projovem é um programa do governo Federal com apoio do governo Estadual para atender uma demanda de jovens de 18 a 29 anos que não terminaram o ensino fundamental, porém, sabem ler e escrever. Com isso, o calendário é diferente do ensino regular. As aulas começaram em outubro de 2018 e os alunos não tiveram férias. Apenas um pequeno recesso. Em janeiro deste ano, foi concluído o primeiro módulo.

“Como estamos terminando o primeiro módulo e ele é voltado para a questão juventude e a cultura, a ideia era fechar isso com uma semana cultural, que é o Trem da Cultura, que é esse evento que nós construímos com os alunos”, diz Nizael.

Segundo o educador, os alunos estudaram a cultura de forma ampla e foi afunilando até o regional. “Dentro desse projeto, focamos nessa cultura sul-mato-grossense, em relação à cultura do bairro. Quando o bairro encontra a cultura do bairro e quando a cultura do bairro encontra essa cultura regional”.

A finalização do projeto cultural, foi uma acolhida feita pelos alunos do Projovem para os alunos da EJA. Eles produziram todo o evento com decoração, fotos e apresentações culturais de música e de dança.

Nizael comenta que os alunos do Projovem e do EJA têm perfis semelhantes. São adultos, trabalham o dia inteiro e estão buscando concluir seus estudos.

“É um pouco desanimador. Você trabalha o dia inteiro, tem toda a sua família precisando de carinho e atenção. Tem um conjunto que não favorece. Você vai para a escola tradicional, cansativa e não fica. Faz-se necessário primeiro motivá-los e produzir acesso à atividades, bens culturais que incentive-os a permanecer. Serve para mostrar que a escola não é esse lugar quadradinho, chato e que também é um lugar onde eles podem fazer e podem acontecer”.

Professor Nizael foi um dos responsáveis pelo evento "Trem Cultural" (Foto: Paulo Francis)
Professor Nizael foi um dos responsáveis pelo evento "Trem Cultural" (Foto: Paulo Francis)

Um dos alunos do Projovem é Diogo Aguiar Landes, 24 anos. Ele parou de estudar quando tinha 17 anos, no oitavo ano, para trabalhar. “É uma chance para a gente terminar os estudos e entrar no Ensino Médio. Eu tentei, fui às escolas. Tentei estudar no ensino normal e algumas coisas da minha vida particular atrapalharam”, conta.

Sobre a vida na escola, Diogo cita a conexão com os professores. “Não são aqueles professores tradicionais, de antigamente, que só te dão conteúdo. Eles conversam com a gente, percebem a nossa dificuldade e tentam ajudar”, diz. Ele participou da produção do evento e também foi um dos alunos que participou da confecção das bandeirolas.

“Tinha muita coisa que nem eu sabia, morando em Campo Grande. Trouxemos para a EJA o que a gente está aprendendo. Não penso em parar nenhum dia. Todo dia saio do serviço e venho para a escola. Trouxe a minha esposa para estudar também no EJA.

Aluno do Projovem, Carlos Alberto Santo Gil, 20 anos, é um aluno da educação especial. Ele havia parado no 4º ano. “Trabalho de manhã e era muito corrido para mim, porque eu estudava a tarde e não dava nem tempo de ir para a escola. Então, a minha mãe ficou sabendo do Projovem e me colocou aqui para estudar de noite. Aprendi muitas coisas. Fiz Projovem, fiz amigos eu sempre estou presente. A gente fez muita correria para fazer o evento”.

Carlos diz que também já chamou amigos para participar do projeto. “O professor conversou com agente e disse que o evento tem que ser bacana. Tem que chamar o povo que está afastado para o Projovem. Eu já chamei meus amigos. Alguns falaram que não querem, mas eu vou fazer a minha parte e ajudar todo mundo”

Carlos Alberto retornou aos estudos após parar no 4º ano (Foto: Paulo Francis)
Carlos Alberto retornou aos estudos após parar no 4º ano (Foto: Paulo Francis)
Diogo retornou aos estudos após parar no 8º ano (Foto: Paulo Francis)
Diogo retornou aos estudos após parar no 8º ano (Foto: Paulo Francis)

O diretor da escola, Luiz Carlos confirma que a evasão escolar é uma preocupação. Ele explica que é o primeiro ano do Projovem na escola, mas que já havia o EJA.

“É sempre uma grande preocupação, porque há vários fatores que faz com que o aluno se evada: família, trabalho, às vezes está muito tempo fora da escola. Então, temos vários trabalhos para manter os alunos. [os eventos culturais] Favorecem porque eles veem que a escola não é só professor, quadro, sala de aula. Eles veem que também podem, por exemplo, com a música regional, que é uma coisa que eles conhecem”.

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Alunos fizeram fotos do bairro onde moram e exposição (Foto: Paulo Francis)
Alunos fizeram fotos do bairro onde moram e exposição (Foto: Paulo Francis)
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