ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, QUINTA  28    CAMPO GRANDE 28º

Comportamento

Quer ajudar um cego? Então aprenda!

Elverson Cardozo | 09/11/2012 09:40
Márcio Ramos e Telma Nantes falam sobre o relacionamento com as pessoas cegas. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Márcio Ramos e Telma Nantes falam sobre o relacionamento com as pessoas cegas. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Imagine a situação: Você está acompanhando, entra em uma loja para comprar roupas e a atendente, ao invés de se dirigir a você, pergunta a pessoa que o acompanha o que você gostaria de ver e qual sua cor preferida.

No restaurante, o garçom, muito educado, esquece que você pode falar e ouvir, o ignora e, como a atendente da loja de roupas, pergunta a quem o acompanha o que você gostaria de comer.

Desagradável, não?

“Não é a pessoa que vai saber o que eu quero vestir ou o que eu quero comer. Eu vou acompanhando para ter um auxílio”. O desabafo é do coordenador pedagógico Márcio Ramos, de 31 anos, que vivencia situações como essas com um frequencia inacreditável, desde que perdeu a visão, aos 15 anos. O equilíbrio, afirmou, foge ao controle. “Às vezes eu dou um coice”, disse.

Alguma vez você já deve ter ajudado um cego a atravessar a rua, a subir em um ônibus ou a sentar-se, por exemplo. Já imaginou que, ao invés de ajudar, pode ter atrapalhado? Mas não se culpe por isso. Se depois de ler essa matéria perceber que algum dia atrapalhou ou foi desagradável com um deficiente visual, saiba que não está sozinho.

A intenção de ajudar, garantiu Márcio, é por si só uma atitude louvável. A ajuda propriamente dita tem ainda mais valor e não costuma ser dispensada por eles, mas é preciso entender que os cegos ou aqueles que têm baixa visão são pessoas normais, que aprenderam a conviver com a limitação física.

Não há, portanto, motivo para tratá-los de maneira diferenciada. A deficiência não os torna incapazes de serem compreendidos, de se relacionarem ou de manter uma vida ativa, do campo pessoal ao profissional.

Para Márcio, o erro mais comum e o que mais irrita é puxá-lo pelo braço como um fantoche. “Eu perco toda a coordenação”, disse, ao explicar que a maneira correta é oferecer o braço durante o trajeto e deixar que a pessoa segure em você.

Mas não há, para um cego, situação mais desagradável que as conversas dirigidas a terceiros, como se a deficiência visual se estendesse à audição do indivíduo.

Para Márcio, o que mais irrita é o diálogo dirigido a terceiros. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Para Márcio, o que mais irrita é o diálogo dirigido a terceiros. (Foto: Rodrigo Pazinato)

“O que ele quer comer? Poxa! Eu que vou comer e não ele”, exemplificou, se referindo a situação que passou em um restaurante.

Diretora presidente do Ismac (Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos “Florisvaldo Vargas”), em Campo Grande, Telma Nantes, de 45 anos, afirma que a recomendação é agir com naturalidade.

“Tem pessoas que são tão naturais, que se dirigem a você, perguntam a você. Para as pessoas com deficiência isso é muito importante”, ressaltou. O cego, completou, busca autonomia e independência, mas isso não significa correr risco, alertou.

Pensando no bom relacionamento com pessoas cegas, o Ismac elaborou um material impresso que traz 21 dicas de convivência. O Lado B reproduz:

1. Não se dirija a pessoa cega através de sua acompanhante, admitindo assim que ela não tenha condições de compreendê-lo.

2. Não trate as pessoas cegas como seres diferentes somente porque não podem ver. Saiba que elas estão sempre interessadas no que você gosta de ver, de ouvir e de falar.

3. Não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que você conhece, estendendo-o aos outros cegos. Não se esqueça de que a natureza dotou a todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas.

4. Procure não limitar a pessoa cega mais do que a própria cegueira o faz, impedindo-a de realizar o que ela sabe, pode e deve fazer sozinha.

5. Não se refira a cegueira como desgraça. Ela pode ser assim encarada logo após a perda da visão, mas, a orientação adequada consegue reduzi-la a defeito físico suportável, como acontece em muitos casos.

6. Não diga que tem pena de pessoa cega, nem lhe mostre exagerada solidariedade. Ela não necessita de piedade, e sim de compressão.

7. Não fale de “sexto sentido” nem de “compensação da natureza” – isso perpetua conceitos errôneos. O que há na pessoa cega é simples desenvolvimento de recursos mentais latentes em todas as criaturas.

8. Não modifique a linguagem para evitar a palavra ver e substituí-la por ouvir. Conversando sobre cegueira, use a palavra cego sem rodeios.

9. Não deixe de oferecer auxílio a pessoa cega que esteja querendo atravessar a rua ou tomar condução, ainda que seu oferecimento seja recusado, ou mal recebido por algumas delas; esteja certo de que a maioria lhe agradecerá o gesto.

10. Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaborações ou aceitar gentilezas por parte de alguma pessoa cega. Tenha sempre em mente que a solidariedade humana deve ser praticada por todos, e que ninguém é tão incapaz que não tenha algo a dar.

11. Não guia a pessoa empurrando-a ou puxando-a pelo braço; basta deixá-la segurar seu braço, que o movimento do seu corpo lhe dará a orientação de que ela precisa. Nas passagens estreitas, tome a frente e deixe-a segui-lo mesmo com a mão em seu ombro.

12. Não pegue a pessoa cega pelos braços, rodando com ela para colocá-la na posição de sentar-se, empurrando-a depois para a cadeira. Basta colocar-lhe a mão no espaldar ou no braço da cadeira, que isso lhe indicará sua posição.

13. Não diga apenas “à direita”, “à esquerda”, ao procurar orientar à distância uma pessoa cega. Muitos se enganam ao tomarem como referência a própria posição e não a do cego que caminha em sentido contrário ao seu.

14. Não deixe de falar ao entrar no recinto onde haja uma pessoa cega; isso anuncia a sua presença e auxilia a identificá-lo.

15. Não saia de repente quando estiver conversando com uma pessoa cega, principalmente se houver barulho que a impeça de perceber seu afastamento. El apode dirigir-lhe a palavra e ver-se na situação desagradável de falar sozinha, chamando a atenção dos outros sobre si.

16. Não desperdice seu tempo nem o da pessoa cega perguntando-lhe: “Sabe quem sou?”... “Adivinha quem está aqui?”... “Não vá dizer que você não me conhece?”... Se não tiver intimidade, o melhor é logo ir dizendo: “É o Fulano,...!”

17. Não deixe de apresentar o seu visitante cego a todas as pessoas presentes; assim procedendo, você facilitará a integração dele no grupo.

18. Mostre ao seu hóspede cego as principais dependências de sua casa, a fim de que ele aprenda detalhes significativos, e a posição relativa dos cômodos, podendo assim locomover-se sozinho.

19. Não se constranja em advertir a pessoa cega quanto a qualquer incorreção no seu vestuário, para que ela não se veja na situação desagradável de suscitar piada alheia.

20. O pedestre cego é muito mais observador que os outros. Ele tem meios e modos de saber onde está e para onde vai, sem precisar estar contando os passos. Antes de sair de casa, ele faz o que a gente deveria fazer. Procura saber bem o caminho a seguir para chegar ao seu destino. Na primeira caminhada poderá errar um pouco, mas depois raramente se enganará. Saliências, depressões, quaisquer ruídos e odoros característicos, tudo ele observa com sua boa orientação.

21. Não deixe de apertar a mão da pessoa cega ao encontrá-la ou ao despedir-se dela. O aperto de mão cordial substitui, para ela, o sorriso amável.

Nos siga no Google Notícias