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Comportamento

"Sinto que perdi um filho", a dor da mãe de um assassino confesso

Maria Rita é mãe de Lucas Pergentino, que matou a ex-namorada e a jogou às margens de uma rodovia em Campo Grande

Lucas Mamédio | 27/04/2020 06:12
Rita Maria desesperada no quintal enquanto é consolada (Foto: Henrique kawaminami)
Rita Maria desesperada no quintal enquanto é consolada (Foto: Henrique kawaminami)

Há alguns anos, revendo reportagens sobre o conhecido Sequestro do Ônibus 174, no Rio de Janeiro, em 2000, que acabou com a morte da professora Geísa Firmo Gonçalves e, em seguida, com a morte do sequestrador, Sandro Barbosa do Nascimento, assisti uma matéria que me tocou muito.

Enquanto o país se mobilizava, com toda razão, entorno da morte da professora, a mãe de Sandro, a faxineira Elza da Silva, enterrava seu filho sozinha em um cemitério carioca numa cova rasa para indigentes. Caía uma chuva fina, o funcionário do cemitério empurrava o carrinho com o caixão simples em cima, seguido por Elza. Uma imagem muito, muito triste.

As circunstâncias forçaram a mãe a aceitar deixar o filho naquela cova. Sociedade civil, Estado, imprensa, todos estavam dissecando a vida de Sandro. Resignada, Elza não teve escolha, remanesceu em silêncio e sozinha.

Mas que culpa ela tem de tudo que aconteceu? Qual preço ela teve que pagar pelo erro do filho? Pra mim são perguntas fáceis de serem escritas, mas só quem sente essa dor sabe responder.

Rita Maria conversa com o filho preso no camburão (Foto: Henrique Kawaminami)
Rita Maria conversa com o filho preso no camburão (Foto: Henrique Kawaminami)

Rita Maria da Silva havia acabado de chegar da delegacia. Tinha tentando, em vão, visitar ou saber notícias do filho, Lucas Pergentino, 26 anos. Ele foi preso no último sábado (25) após confessar o assassinato da estudante Maria Graziele Elias de Souza, de 21 anos. Os dois tinham uma relação de oito anos, que acabou tragicamente.

Quem nos recebe é seu Adão Pergentino, pai de Lucas. Firme, apesar da dor, ele se diz conformado com as consequências do ato do filho.  “Se ele errou ele vai pagar. Por que eu nunca fui numa delegacia? Porque eu nunca errei.”

Sentada, mais distante de nós, Rita fala algumas palavras soltas. Nos aproximamos. “Pra mim foi um choque muito grande porque eu não acreditei que meu filho fez aquilo. O que eu podia fazer para o meu filho eu fazia. Nunca deixei faltar nada”.

Amor que se estendia à Graziele. “Mesma coisa pra ela, o que eu comprava pra mim, comprava pra ela, eu considerava ela minha filha”.

Rita Maria é amparada por familiares (Foto: Henrique Kawaminami)
Rita Maria é amparada por familiares (Foto: Henrique Kawaminami)

O choro vem num rompante, como quando nos damos conta do que estamos falando. “O que a mãe dela tá sofrendo eu também do sofrendo. Meu filho está preso. Eu acabei de vir da delegacia eu não sei se ele comeu, se ele dormiu”.

Sobre o relacionamento dos dois, dona Rita diz que era conturbado. “A relação deles uma hora estava boa outra hora estava ruim, sempre passava a mão porque assim como gostava, gosto na verdade, do meu filho, gostava dela, queria o bem dela”.

A correção no tempo verbal de “gostava” para “gosto” mostra como Rita está lidando com tudo. Parecia que Lucas havia ido também. “É complicada a vida da gente. A gente não tem explicação pra falar nada. A única coisa que eu estou fazendo é entregar na mão de Deus pra ter força, pra eu enfrentar o que está vindo por aí ainda”.

Rita Maria chora ao receber a notícia que o filho é o assassino da ex-nora (Foto: Henrique Kawanami)
Rita Maria chora ao receber a notícia que o filho é o assassino da ex-nora (Foto: Henrique Kawanami)

Cada frase é interrompida por um silêncio curto, como se ela precisasse de um tempo para convencer a si mesma que o que estava falando era real; que o filho, com o qual conviveu 26 anos, matou a mulher que um dia disse amar. “Está difícil pra gente. Eu não consigo comer, eu não consigo dormir, eu não consigo nada, desde que essa menina sumiu”.

Ela conta como foi o comportamento de Lucas durante o período em que Graziele ficou desaparecida e quando ninguém das duas famílias suspeitavam dele. “Ele estava uma grosseria dentro de casa, uma estupidez. Estava muito nervoso”.

Separados havia alguns dias antes do último encontro, a mãe lembra que Lucas já tinha mudado bastante durante esse período sem ela. “Dentro de 15 dias que eles separaram a cabeça dele deu a volta. Acabou nossa vida”, e emenda justificando mais uma vez; “mas jamais eu vou saber que meu filho fez uma coisa dessas. Se acha que filho vai falar tudo pra sua mãe, não vai”.

A atitude de Lucas vai marcar pra sempre a vida de três mulheres, a de Graziele, que se foi pelas suas mãos, a da mãe da jovem, que viveu ao lado do assassino a angústia pela descoberta da autoria do crime, e a de dona Rita, que vive o luto de perder o filho que sempre achou que tinha.

“Ela enterrou a filha e eu de certa forma perdi meu filho também, eu sinto que perdi meu filho, pelo menos um pedaço dele”.

Nós fomos à casa da mãe de Graziele, mas abalada, ela preferiu não nos atender. "Não é a hora ainda".

Lucas permanece e preso e só poderá receber visitas depois que for tranferido para o presídio (Foto: Paulo Francis)
Lucas permanece e preso e só poderá receber visitas depois que for tranferido para o presídio (Foto: Paulo Francis)

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