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Comportamento

Universitário careca que emocionou milhares na internet fecha o ano curado

Ângela Kempfer | 28/12/2012 07:06
Universitário careca que emocionou milhares na internet fecha o ano curado
Jaito, no dia da formatura, emocionado com a homenagem dos colegas.
Jaito, no dia da formatura, emocionado com a homenagem dos colegas.
Os amigos surpreenderam raspando a cabeça para ficar como o amigo, debilitado pela quimioterapia.
Os amigos surpreenderam raspando a cabeça para ficar como o amigo, debilitado pela quimioterapia.

Nunca tanta gente se emocionou ao mesmo tempo lendo uma reportagem do Campo Grande News. A imagem de amigos em uma “formatura de carecas” bateu recordes de leituras e comentários. Muita gente parou para deixar uma frase de apoio, um “siga em frente” ao rapaz que semanas antes de receber o diploma descobriu um câncer e perdeu o cabelo por conta da quimioterapia.

Para Jaito Michel, o ano começou mal, mas terminou com uma “benção”. O tratamento contra o tumor no joelho teve fim em novembro, com a notícia dos médicos esperada pela a legião de amigos desconhecidos, criada na internet. “O diagnóstico foi de cura. Estou 100%” comemora o engenheiro ambiental recém formado.

Reservado, nos meses após a publicação da reportagem Jaito não falou com jornalistas ou respondeu qualquer solicitação de entrevista. Só em julho resolveu contar a história de novo, depois de investidas da produção do programa TV Xuxa. Ele e os amigos participaram de uma edição especial, sobre a amizade, mas o tratamento ainda continuava.

A aparição na Rede Globo não mudou a relação dele com a “fama” repentina, a repercussão maior veio antes, lembra. “A TV Xuxa não mudou nada. Antes é que aconteceu tudo”. Só o vídeo feito pelos colegas na barbearia, quando todos rasparam o cabelo em homenagem ao colega, teve quase 500 mil visualizações no YouTube.

Pessoas desconhecidas enviaram mensagens a ele durante meses, os amigos permaneceram ao lado e assim a cura veio. Agora, o rapaz sorri a cada frase sobre o assunto. “Todo o apoio que recebi foi importante”, resume, sempre com frases curtas, mesmo quando a conversa é sobre o ano que marcou a vida de toda a família Michel.

Já para a família Aroca, 2012 acabaria melhor se Roque aparecesse, a tartaruga fujona que conseguiu passar pelo portão e sumir no bairro São Lourenço. O desaparecimento do bicho também repercutiu nas redes sociais, mas nada dela ser devolvida. “Diariamente ainda recebo ligações, mas todos são trotes. São 40 dias sem ela, mesmo assim ainda tenho fé que vão devolver”, diz Marcos Aroca, o dono.

O ano teve várias histórias de desaparecimentos. Ainda no período de férias, Jeferson Vasconcelos perdeu duas malas. Depois de uma curva na região da Via Parque, elas caíram da carroceria da caminhonete, cheias de roupas novas compradas para viagem.

O homem chegou a colocar uma faixa na avenida, esperando a devolução, apelando para "a bondade humana". Depois de um mês ele parou de procurar, com uma sensação ruim sobre o ser humano. “Ninguém ligou para dizer nada. Fiquei magoado. Eu acreditava nas pessoas”, lamenta.

Jorgina tinha um sonho e o realizou em 2012, aprendeu a escrever.
Jorgina tinha um sonho e o realizou em 2012, aprendeu a escrever.

Campo Grande também perdeu tradição em 2012. Ficamos sem shows na Expogrande e sem o Esquina 20, bar da pipoca com cerveja. A cidade viu, inclusive, o único cinema de rua fechar as portas, o Cine Campo Grande.

Mas também produziu grandes encontros, como de Jorgina e o jovem casal que a adotou aos 45 anos, apesar de uma deficiência de infância, provocada pela Talidomida, medicação que causa deformação congênita. “Eles me tratam como nunca vi. É gente boa, de coração mesmo”, fala emocionada.

Da conversa com a aluna adulta, que realizou um sonho ao ser matriculada na rede pública para a alfabetização, o mais marcante foi o brilho no olho, forte como a mulher de vida difícil, abandonada desde que a mãe morreu, quando ainda era menina.

É o tipo de vida que o Lado B busca. Que apesar do enredo triste, tem um final de esperança, daqueles para fazer a gente acreditar no ser humano e em nós mesmos, apesar das malas não devolvidas.

Durante todo o ano, tentamos descobrir essas pessoas e encontramos. São personagens capazes de ter amor pelos outros, pelos animais e até por uma árvore, como Valdir Barbier, dono do ipê mais bonito de Campo Grande, o único companheiro depois da morte da esposa.

Sem marcar nada, sem pauta definida, em 2012 não foi complicado descobrir e contar a maioria dessas histórias. Uma prova de que não é difícil achar boa gente e beleza pelas ruas de uma cidade.

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