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Comportamento

Valdir parou de beber no dia em que acordou dentro de bagageiro de avião em SP

Paula Maciulevicius | 10/08/2016 06:31
Era só para ser um cochilo e a cura da ressaca, mas sono foi pesado e Pancada nem sentiu o avião decolar. (Foto: Fernando Antunes)
Era só para ser um cochilo e a cura da ressaca, mas sono foi pesado e Pancada nem sentiu o avião decolar. (Foto: Fernando Antunes)

Das histórias que a gente só acredita, porque confia na sinceridade de quem conta. Seu Valdir Reis Santos, hoje com 47 anos, ri de si mesmo ao relatar o dia em que largou, de vez, a cachaça. Ele jura que deixou de beber depois de viajar do aeroporto de Campo Grande até Guarulhos dormindo no bagageiro do avião.

É hilário ouvi-lo contando e a gente cai na risada junto. "Pancada" viveu isso em 1989. À época ainda não tinha nem 18 anos completos e já trabalhava como chapeador de aeronaves. "Eu estava com amigos daqui da aviação e fomos tomar cachaça. Guri novo, sabe? Eu tomava muitas cachaças. E nessa eu tava na balada e fui trabalhar na segunda-feira", conta.

O trabalho dele na companhia que ficava dentro do Aeoporto Internacional era de abastecer e cuidar das aeronaves no pátio. O efeito do álcool das noites passadas bateu forte e por volta das 4h da tarde, enquanto lavava um dos aviões, ele resolveu tirar um "cochilo".

"Quando acordei, estava em Guarulhos", conta aos risos. (Foto: Fernando Antunes)
"Quando acordei, estava em Guarulhos", conta aos risos. (Foto: Fernando Antunes)

"Eu estava muito cansado, com sono e sem dormir. Não estava aguentando trabalhar mais. Daí tinha um Fokker 50, um baita de um avião. Pensei: esse aí não vai sair mesmo, vou dormir um pouquinho pra ver se sai o álcool. Rapaz, os caras jogaram mala dentro do avião e eu nem vi". Nessa hora a sorte que quem escuta está gravando, porque a gargalhada iria atrapalhar qualquer anotação. 

"Daqui a pouquinho nem vi o avião decolar. Quando acordei, estava em Guarulhos. De uniforme e crachá. Estava tudo escuro, eu achei que já tinha anoitecido, quando abriram e eu perguntei: onde que eu e falaram: está no aeroporto de Guarulhos", recorda. 

Sem dinheiro e nenhum documento se quer, ele se apresentou ao piloto, pediu desculpas e contou a história. De que para curar a bebedeira, havia ido tirar um cochilo no bagageiro da aeronave e que saiu de lá, junto das malas.

"Aí ele falou que tinha um Búfalo antigo da FAB e que era para eu esperar e entrar nele para voltar para Campo Grande. Nem comida descia, a cachaça não aceitava", brinca. Um dos coronéis da Força Aérea Brasileira ofereceu a ele alojamento. Como a chegada em Guarulhos tinha sido 7h da noite, ele só retornou para a Capital na manhã do dia seguinte. E por aqui, todo mundo se desesperou. A conversa que corria era que Pancada devia ter morrido.

Pancada é apaixonado por aviões desde menino e tinha o sonho de ser piloto. (Foto: Fernando Antunes)
Pancada é apaixonado por aviões desde menino e tinha o sonho de ser piloto. (Foto: Fernando Antunes)

"E olha se o avião tivesse subido mais, ainda bem que ele voou baixo, senão tinha me faltado ar. E a cachaça que me aqueceu, senão eu tinha congelado e estaria era morto", afirma. Quem sabe da história diz que Pancada nasceu de novo. O fato é que ele jura que depois desse porre, nunca mais bebeu. "É só suco e refrigerante", brinca.

Pancada tem o apelido de infância, desde que começou a trabalhar na aviação. O pai exercia a mesma profissão dele, de chapeador de aeronaves e se chamava Otacílio. Menino de tudo, Valdir se criou entre aviões e ganhou o apelido depois de algumas bebedeiras.

"Quando você pergunta quem é o Pancada, todo mundo sabe a minha história. O apelido é porque eu tomava pinga e trompava com avião na época do Aero Rural", brinca. Valdir trabalhou no Aero Rural, Internacional, Teruel e hoje está num dos hangares do Santa Maria. 

"Eu tenho o sonho de ser piloto, vontade mesmo eu tinha era de ser piloto. Só que eu não tinha muito estudo, mas minha paixão é de voar", diz. Mas a voz não desanima e ele mostra que já é suficiente ficar pertinho das aeronaves. "Sou ajudante, conserto avião, monto as asas. Eu gosto muito da minha profissão", completa.

Com 8 anos de idade ele se lembra de ter começado a ajudar o pai para valer. Contando em anos, já são quase quatro décadas dedicadas à aviação. A mesma admiração parece que é passada de pai para filho. De Otacílio para Valdir e Jader, um dos filhos do "Pancada". 

"Meu filho já me puxou também. É apaixonado por avião, mora nos Estados Unidos e mexe com isso, montagem de avião suplementar", explica. 

Quanto às cachaças, acordar 1,2 mil quilômetros longe daqui, já lhe ensinou uma lição que tem rendido ao longo dos últimos 27 anos. "Graças a Deus eu não bebo mais nada. A bebida só faz você fazer bobeira", brinca rindo da própria viagem no bagageiro.

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