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Comportamento

Tradição de Cosme e Damião faz a alegria da criançada

Paula Maciulevicius | 27/09/2012 14:35
As crianças estavam logo cedo em busca dos doces de São Cosme e Damião. De porta em porta, eles batiam perguntando que casa ia fazer a distribuição. (Fotos: Rodrigo Pazinato)
As crianças estavam logo cedo em busca dos doces de São Cosme e Damião. De porta em porta, eles batiam perguntando que casa ia fazer a distribuição. (Fotos: Rodrigo Pazinato)

Desde cedo no bairro União tem criançada batendo de porta em porta. “Tia, vai dar doce?”. A dupla Matheus e Marcelo arquitetou uma estratégia e tanta. Os dois estavam munidos de mochilas para não ocupar os instrumentos de trabalho: as mãos que batiam palmas em frente das casas.

“Ah não. Só mais tarde?”, dizia Matheus. “Marcelo, aqui também é só de tarde”. E a informação já era repassada ao amigo.

Marcelo Aguiar de Souza, 11 anos e Matheus Lucas da Silva, 9, dizem juntos o que estão fazendo desde que foram para a rua nesta quinta-feira. “Por causa do dia 27, é São Cosme e Damião”. Da mochila já saíam sacolinhas de pirulitos, balas, bombons, chicletes e suspiros.

Uma das portas onde bateram, a dona da casa até que cedeu. Mas a distribuição dos saquinhos só vai começar às cinco da tarde.

Dulcinéia de Souza, tem 71 anos. Trinta deles dedicados a agradecer São Cosme e Damião com as guloseimas para crianças.
Dulcinéia de Souza, tem 71 anos. Trinta deles dedicados a agradecer São Cosme e Damião com as guloseimas para crianças.
O menino Matheus, 11 anos, estava preparado. A mochila deixava as mãos livres para bater palma em frente das casas.
O menino Matheus, 11 anos, estava preparado. A mochila deixava as mãos livres para bater palma em frente das casas.

Enquanto na Igreja Católica, a data foi ontem, a maioria das festas em centros de umbanda para para os orixás ‘Ibejís’, que correspondem a Cosme e Damião, é celebrado no dia 27, regado a guloseimas.

Dona Dulcinéia Victório de Souza, tem 71 anos e há três décadas prepara os doces para as crianças, em agradecimento para São Cosme e Damião. “Nós passamos uma situação muito ruim, meu marido estava desempregado e dizia que ia acabar com a própria vida porque só dava para as crianças arroz e ovo”.

Diante do desespero do marido, Dulcinéia que ainda morava em Corumbá, cidade onde a tradição da data é ainda vivida com mais força, foi até a cruz do rapaz Aleixo, conhecido na cidade pelos pedidos atendidos, ajoelhou e pediu.

Em uma semana o marido foi chamado para ser representante de uma empresa de biscoitos na Cidade Branca. Como o milagre coincidiu com a data, ela só tinha o que agradecer. “Graças a Deus, salve São Cosme e Damião”, relembra.

Hoje os pacotinhos já estavam nas sacolinhas, 200 só esperando pela criançada. “Se eu tiver saúde e tiver condições, ano que vem faço um bolo também”. Na casa a tradição é passada de mãe para filha e já está na terceira geração.

Pedro Henrique tem 11 anos e já sabe que passa o dia anterior e a data mesmo, embalando saquinhos. “Eu gosto, faço para as crianças”, dizia.

No mesmo bairro, um pouco mais adiante da casa de dona Dulcinéia, a movimentação era intensa. Quem bate a porta de dona Teresa Buzano, 72 anos, ouve “só mais tarde”, ou no caso da reportagem, “pode entrar”. É que ninguém pode parar de colocar doces nas sacolinhas para atender a porta.

“Minha devoção é para as crianças. Elas te pegam, te agradecem, te abraçam. Aquilo é uma satisfação muito grande”, ensina dona Teresa Buzano, 72 anos.
“Minha devoção é para as crianças. Elas te pegam, te agradecem, te abraçam. Aquilo é uma satisfação muito grande”, ensina dona Teresa Buzano, 72 anos.

O Campo Grande News havia chego à casa certa. “Sempre faço. Tem pirulito, Maria-mole, bombom, chiclete”. Mas este ano, devido a problemas de saúde, a aposentada se ‘limitou’ a fazer 100 pacotinhos.

“Sempre faço almoço, com doce e comida”. A tradição começou há 13 anos, depois de ter um milagre concedido, segundo ela, graças à intercessão de São Cosme e Damião. No dia 27 de setembro do ano passado, ela contratou três cozinheiras e fez comida para 300 crianças em Bela Vista.

“Minha devoção é para as crianças. Elas te pegam, te agradecem, te abraçam. Aquilo é uma satisfação muito grande, você fez um inocente ficar pelo menos um dia bem alimentado. Não adianta eu viver meu luxo e ver gente sofrendo por aí”.

Não precisa dizer mais nada. Toda a crença e devoção está no testemunho de Teresa.

Em uma loja de doces na avenida Brilhante, o estoque foi reforçado. A proprietária, Sandra Regina Moraes, 37 anos, aprendeu que para São Cosme e Damião, quanto mais guloseimas, melhor.

“Aumentamos em 40% este ano. Todo mundo deixa para a última hora e quem veio ano passado e comprou 100, hoje comprou 150 e já disse que para o ano que vem, vai fazer 200 pacotinhos”, finaliza.

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