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Consumo

Com curvas de "parar o trânsito", bonsai já recebeu proposta de até R$ 13 mil

A pequena árvore de cerejeira encanta quem a vê, motoristas até param para tirar foto e bonsaísta não a vendeu nem por mais de R$ 10 mil

Lucas Arruda | 27/09/2017 07:10
Bonsai tem 10 anos e deve viver pelo menos uns 50 (Foto: André Bittar)
Bonsai tem 10 anos e deve viver pelo menos uns 50 (Foto: André Bittar)

Quem passa todo dia pela Avenida Fernando Correa da Costa, perto da rua Pedro Celestino, já deve ter visto no teto da floricultura Flor de Liz um bonsai de cerejeira, com cerca de 80 centímetros. Ele está ali, parado, reinando majestoso em meio a dezenas de outros que ficam atrás, como súditos. “Principalmente nos fins de semana, os motoristas param pra fazer foto dele, da rua mesmo. É de parar o trânsito”, afirma seu dono, o bonsaísta Julio Asato.

Ele jura que um cliente de São Paulo, em 2011, chegou a oferecer R$ 13 mil pela pequena cerejeira, mas ele não quis se desfazer de sua "obra". “Isso porque ele só a viu por foto, se fosse ao vivo ia querer dar mais. Ela é minha criação, utilizo ela como estudo também, para aplicar técnicas diferentes para fazer em outras plantas, é por isso que eu nunca a vendi, não tem preço”, explica. Quando perguntado se venderia por R$ 30 mil ele dá desconversa. “Aí começaria a negociar”, diz.

Ela já tem quase 10 anos, e o bonsaísta acredita que ela passará dos 50. “Retirei ela do chão para colocar no vaso em 2008, fiz uma poda radical em suas raízes e ela sobreviveu. Até hoje nunca troquei o substrato (terra) dela, não podei as raízes de novo e ela está aí firme e forte, é bastante resistente”, avalia.

Julio é bonsaísta há mais de 30 anos, mas considera ocupação um hobby
Julio é bonsaísta há mais de 30 anos, mas considera ocupação um hobby

As técnicas de bonsai Julio aprendeu há mais de 30 anos. Começou sozinho, autodidata mesmo, depois foi ao Japão e por intermédio de seu padrasto conseguiu ser discípulo de um bonsaísta lá. “Os japoneses são muito fechados, sozinho não iria conseguir ele como professor”, frisa. Hoje, aos 55 anos, ele tem até mestrado feito em Curitiba na Escola Europeia de Bonsai Brasil. “Depois de muito tempo que já fazia bonsais resolvi me graduar e fazer o mestrado para aprender novas técnicas”, enumera.

Apesar de fazer bonsais há décadas, Julio não gosta de usar o título de bonsaísta como profissão. “É um hobby, faço só nas horas vagas”, afirma. Ele passou sua floricultura para seu filho já e se dedica às pequenas árvores e a outro hobby, a pescaria.

Técnicas inéditas

Além da cerejeira, ele tem inúmeras outros bonsais no seu estabelecimento, estes à venda. Alguns são técnicas inovadoras, como um pequeno mamoeiro. “Utilizo a alporquia, ninguém mais faz isso aqui no Brasil. Aprendi essa técnica vendo um vídeo num site asiático que só mostrava o resultava, não ensinava como chegar a ele. Então desenvolvi um jeito de fazer e já na primeira vez deu certo. Já cultivei três mamoeiros com essa técnica”, pontua.

Outro que ele tem por lá é uma mistura do Ipê branco com o Ipê amarelo. “Aqui uso a técnica de enxerto. Levei de 6 a 7 anos para aprendê-la, é muito difícil mas hoje já domino. Faço enxerto em outras espécies também”, declara. Os bonsais diferentes Julio ainda não estipulou preço, os outros custam de R$ 50 a R$ 6 mil.

Julio utiliza técnica inédita no Brasil para bonsai de mamoeiro
Julio utiliza técnica inédita no Brasil para bonsai de mamoeiro

Conhecimento

Para cuidar de um bonsai é necessário bastante conhecimento técnico sobre plantas, ainda mais dessas que são modificadas. Depois de muito requisitado, Julio passou a dar aulas para quem quer aprender as técnicas de fazer e cuidar das arvorezinhas.

“Muita gente me pediu, teve gente que até saiu ofendida aqui da loja quando eu dizia que não dava o curso, uma mulher me chamou de egoísta. Só não ensinava porque eu não tinha jeito de ser professor. Depois disso, fiz uma apostila e me dediquei a ensinar”, recorda.

Mas para passar todo seu conhecimento é necessário um aluno que tenha bastante afinco. “Tem que ser uma pessoa comprometida com os cuidados das plantas, porque ela vai passar a minha imagem como bonsaísta para as outras pessoas”, frisa. Ele ainda não encontrou esse discípulo. “Ainda não encontrei ninguém com as características necessárias, nem na família, acredito que um dia vou achar”, finaliza.

A Flor de Liz fica na avenida Fernando Correa da Costa, 1045, Centro.

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