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DEZEMBRO, QUINTA  12    CAMPO GRANDE 22º

Conversa de Arquiteto

Primeira obra de 2 andares assinada por arquiteto faz 84 anos na Afonso Pena

Ângelo Arruda | 10/08/2016 06:25
Prédio em fins da década de 30.
Prédio em fins da década de 30.

No dia 9 de setembro deste ano comemoraremos 84 anos de inauguração do Quartel General da 9ª RM em Campo Grande, localizado na Avenida Afonso Pena. No dia da festa, em 1922, estavam presentes, além de inúmeras autoridades locais, o ministro da Guerra Pandiá Calógeras e o diretor de engenharia Cândido Rondon. O prédio foi construído em um terreno desapropriado pela municipalidade e era uma área de propriedade particular onde, segundo Paulo Coelho Machado, havia uma escola em madeira.

O terreno localizado na Afonso Pena entre as ruas 13 de Maio e Rui Barbosa tinha área de 25,00 x 50,00 e nele foi projetado pelos engenheiros e arquitetos da Companhia Construtora de Santos um edifício com dois pavimentos, que passou a ser a primeira obra de engenharia e arquitetura da cidade em dois andares.

A empresa Construtora de Santos, naquele mesmo ano, estava levantando 26 quartéis no Brasil em nove Estados brasileiros sendo em Mato Grosso, além de Campo Grande, Bela Vista, Aquidauana e Ponta Porã.

Prédio em imagem aérea, nos fins da década de 30
Prédio em imagem aérea, nos fins da década de 30

No ano da Semana de Arte Moderna, a Construtora de Santos tinha acabado de construir um de seus mais importantes feitos – o Cassino e Teatro Parque Balneário de Santos, um trabalho com princípios construtivos destoante do meio arquitetônico nacional e local.

Seu proprietário, o engenheiro civil Roberto Cochrane Simonsen era um homem notável no seu tempo. Foi o primeiro brasileiro a assinar a Revista L’Espirit Nouveau, editada em Paris por Le Corbusier e Ozenfant, onde publicou em capítulos o tratado do modernismo. Simonsen trouxe para o Brasil o Gregori Warchavchik, nosso pioneiro modernista e Rino Levi também trabalhou com ele nos anos 20.

Mas, como uma empresa nos anos 20 poderia construir, ao mesmo tempo, tantas obras em curto tempo? A resposta dessa equação está na industrialização e normalização dos processos, revisão e adequação dos projetos e a racionalização do canteiro e um sistema rústico de pré-fabricação. É por isso que é considerado o pai da indústria brasileira e seu nome está gravado no prédio da Fiesp. O trabalho do Quartel General de Campo Grande e demais edifícios militares são conhecidos no país inteiro como “estilo Calógeras”, tamanha a quantidade de obras parecidas, com dois pavimentos, alongados, de planta retangular, janelas altas.

Quarte hoje.
Quarte hoje.

No caso do quartel militar da Afonso Pena, a planta tem forma de “U”, com a parte térrea mais alongada. No andar superior ficava a sala do Comandante local e por ela passaram diversos coronéis que a história registra, tais como Bertold Klinger e Newton Cavalcanti.

Essa sala tem pé direito de 3,80m e paredes revestidas de lambri de madeira; o acesso ao piso superior se dá através de uma escada em madeira com três lances sendo o central para subir e os laterais para a descida. Na parede frontal uma abertura permite a iluminação do objeto e o teto um enorme lustre compõe o espaço nobre.

No piso inferior uma varanda nas laterais do edifício que se abre para um pátio, configura um lugar agradável, um jardim; na parte dos fundos da escada, um conjunto de sanitários. No ano de 1934, na administração do General Pedro Cavalcante de Albuquerque, conforme plano elaborado pelo Coronel Newton Cavalcanti, foi erguido um prédio de três pavimentos, nos fundos, levantado pela empresa Thomé & Irmãos e projetado pelo engenheiro Tenente Nelson Lopes.

Prédio atualmente
Prédio atualmente

Esse edifício foi construído para apoiar as atividades militares crescentes em Campo Grande, tal a vitalidade do crescimento do município.

Atualmente o Quartel General abriga algumas atividades administrativas e o Museu da FEB, dos ex-combatentes e é mantido pela Fundação Cultural do Exército, sob o comando do Coronel Souza Neto, estudioso da história militar em Mato Grosso do Sul.

Quase que totalmente original, exceto pela ausência dos frisos na alvenaria das fachadas (ver a foto de 1932), o lugar, com pequena obra de restauro, pode ser utilizado para uso cultural e abrigar, além do Museu da FEB e o do Exército em Mato Grosso do Sul, espaços de visitação da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de MS, o Arquivo Histórico de Campo Grande - ARCA e outros lugares culturais.

Escadaria é um dos destaques.
Escadaria é um dos destaques.

O Quartel General, de acordo com nossas pesquisas, é a primeira obra de engenharia e de arquitetura de Campo Grande, conceito que utiliza profissionais engenheiros e arquitetos no processo – o mais conhecido foi Armando de Arruda Pereira, profissional residente que foi prefeito de São Paulo e é nome de uma importante avenida daquela cidade.

Antes desse feito, o ecletismo dos construtores fachadistas predominava em Campo Grande, como já analisamos com os trabalhos da Casa do Artesão, Loja Maçônica e tantas outras.

O prédio do Quartel, apesar do seu ecletismo demonstrado em sua platibanda ornamentada, busca uma redução dos elementos de composição eclética e é um dos nossos mais importantes edifícios históricos e acredito que o mesmo deva se transformar em um forte espaço cultural de nossa Capital.

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