Cinemas se calam sobre escassez de legendas e cinéfilos choram
O que já era difícil de achar tem beirado a extinção, mas nos cinemas opiniões se dividem sobre o assunto
A escassez de sessões legendadas nas salas de cinema não é repentina. Há anos os cinéfilos falam sobre o sumiço dos filmes com áudio original nas telonas. O que já era difícil de achar tem beirado a extinção. Revoltadas, pessoas que não querem perder a voz dos atores questionam os cinemas.
RESUMO
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Em Campo Grande, o cenário não é diferente. O Lado B até tentou, mas os cinemas não explicam a falta e quem não dispensa as legendas nas telonas chora. Será o fim dos filmes legendados?
Frequentador assíduo desde 2008, Lucas Verão Teodoro, de 34 anos, relata que, nos últimos anos, as exibições dubladas passaram a dominar a programação. Ele acredita que a mudança está ligada à queda de público após a pandemia e à tentativa dos cinemas de se manterem financeiramente.
“O cinema está mal das pernas, estão quase falindo e precisam fazer o que for necessário para manter aberto. E as sessões dubladas provavelmente enchem mais do que as legendadas. Tem filme que acabou de lançar, na primeira semana em cartaz ainda, e não tem nenhuma sessão legendada na cidade inteira. Geralmente tinha pelo menos um cinema com uma sessão, mas nem isso está tendo mais.”
Atualmente, os filmes internacionais que estão em cartaz são: Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, A Hora do Mal, Drácula – Uma História de Amor Eterno, Quarteto Fantástico, Jurassic World – Recomeço, Amores Materialistas e Superman. As estreias desta quinta-feira (14) são Juntos e Corra que a Polícia Vem Aí.
Nenhum dos citados tinha sessão legendada nesta quinta à noite no Cinemark. Já no UCI, o filme Juntos tinha uma sessão. No Cinépolis, não havia opções legendadas nesta data. A consulta foi feita apenas no dia 14, mas já é possível ter um prévia da baixa oferta.
“Ontem fui assistir Sexta-Feira Mais Louca Ainda e a única sessão legendada da cidade era às 21h50. Eu trabalho com um horário flexível e consigo me adaptar a isso, mas meus amigos não conseguem ir ao cinema nesse horário no meio da semana. E aí chega o fim de semana e o valor duplica. Então, eu até entendo que o cinema está fazendo de tudo para se manter aberto. Mas fica complicado para a gente que sempre foi ao cinema”, comenta.
Lucas acrescenta que vai ao cinema pelo menos uma vez por mês e, em alguns meses, toda semana está lá. “Eu não queria que os cinemas tivessem só filmes legendados. Só queria que tivesse pelo menos uma sessão num horário ‘normal’ de cinema.”

Franco Siqueira Prata Lima, de 33 anos, compartilha da mesma frustração. Ele conta que chegou a falar com a gerência de um dos cinemas para tentar entender o cenário. A resposta foi que o público busca mais as sessões dubladas.
“Eu acho uma grande pena. Eu genuinamente entendo a razão pela qual existe uma dominância de sessões dubladas hoje nos cinemas. O meu problema é simplesmente zerarem as sessões legendadas, ainda por cima para filmes que eu sei que existe uma clientela fiel de cinéfilos e fãs de cinema aqui em Campo Grande, que buscam o filme legendado para manter a experiência do som original.”
Ele acredita que o contexto pós-pandemia mudou muito as coisas, incluindo o cinema. Na era do streaming, o público perdeu a graça de ir ver todos os filmes. “Acredito que o pessoal que só vê filme legendado é uma parte desse público. E não sei se zerar as opções para esse público é a saída, porque só vai reforçar a alienação deles, ao invés de pouco a pouco estimulá-los a voltarem a frequentar.”

O gosto pelas telonas começou depois da adolescência, justamente pela roda de amigos que já eram cinéfilos na época. “Eles foram pouco a pouco me apresentando a esse mundo de filmes famosos.”
Marcela Leimgruber, de 21 anos, foi até o shopping assistir a uma das estreias da noite. Ela comenta que aprendeu inglês assistindo e ouvindo os filmes com legenda. “Eu acho que não ter mais opções não é inclusivo, principalmente para as pessoas que têm alguma limitação auditiva e acabam ficando de lado. Tem que ter mais opções legendadas. Eu acho que os cinemas estão tendo mais sessões dubladas para tentar mesmo valorizar a cultura.”
O amigo, Vinicius Torres, de 22 anos, prefere os dublados, mas não nega que a experiência com o som original é outra. “Eu gosto dos dublados porque dá uma emoção a mais, não é um problema. A versão legendada em si eu assumo que tem uma coisa maior, ouvir a voz do ator. Acho que eles estão cortando para valorizar a dublagem brasileira.”
Os irmãos Thais Oliveira e Thiago Oliveira comentam que não encontram mesmo sessões legendadas e que, inclusive, foram assistir a A Hora do Mal dublado. “Eu venho mais ao cinema quando realmente é um filme que me interessa, como esse aqui. Vim no Uma Sexta-Feira Ainda Mais Louca e também era dublado. Eu prefiro assistir em casa por causa disso e da questão financeira”, explica Thais.
Thiago conta que tanto a versão dublada quanto a legendada são ótimas e que não tinha conhecimento sobre a diminuição das sessões legendadas. Sem apego pelo cinema, ele vai apenas quando é convidado e, em raras vezes. “Não sou muito assim com cinema, para mim tanto faz, mas para a população mesmo é melhor dublado porque, se a pessoa se distrai, ela perde no legendado. Mas tinha que ter mais.”
O casal Mateus Charro, 19, e Luane Branco, 18, assiste às duas opções. Mateus prefere legendado, mas a namorada fica com a versão dublada, ainda mais se o filme for com o ator Adam Sandler.
“Eu gosto bem mais do dublado porque sempre tem um dublador fixo, como os do Adam. Quando muda, fica estranho. Eu tenho um pouco de déficit de atenção, então não consigo ler e prestar atenção ao mesmo tempo. Vim assistir à estreia de Corra que a Polícia Vem Aí. É um ator que gosto e tem o dublador dele.”
Matheus comenta que eles não vão ao cinema com frequência e preferem ficar em casa. “Quando tem esses atores, a gente vem, ela gosta.”
Cinemas se calam - O Labo B entrou em contato com todos os cinemas de Campo Grande e questionou sobre a falta de filme legendados, mas até o final desta reportagem eles não deram uma resposta. Apenas o Cinemark declarou que não está disponível no momento para responder as questões previamente encaminhadas. O espaço segue aberto.
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