Correios anunciam fechamento de mil agências e corte de 15 mil funcionários
O plano de reestruturação para reverter os prejuízos foi apresentado nesta segunda-feira
Na manhã desta segunda-feira (29), os Correiros anunciaram um plano de reestruturação para reverter os prejuízos que já somam R$ 6 bilhões em 2025, com a previsão de fechamento de mil agências, a redução de 15 mil funcionários e a revisão de benefícios para os servidores. As medidas têm o objetivo de equilibrar as contas da estatal e garantir sua sobrevivência no futuro. Os locais atingidos no Brasil ainda não foram divulgados.
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O plano de reestruturação inclui o fechamento de 16% das agências próprias da empresa, o que representa aproximadamente mil das 6 mil unidades espalhadas pelo Brasil. Com o foco em reduzir despesas e tornar as operações mais eficientes, a estatal espera economizar cerca de R$ 2,1 bilhões com a medida. Porém, o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, garantiu que a universalização do serviço postal, que prevê a cobertura de todo o território nacional, não será comprometida.
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"A gente vai fazer a ponderação entre resultado financeiro das agências e o cumprimento da universalização, para que não ferirmos o princípio da cobertura nacional", afirmou Rondon em coletiva de imprensa. O fechamento das unidades, portanto, será cuidadosamente planejado para não prejudicar o atendimento em locais remotos.
Além da redução no número de agências, o plano prevê cortes significativos no quadro de funcionários. A estatal irá oferecer dois planos de demissão voluntária (PDVs) até 2027, com a expectativa de cortar 15 mil postos de trabalho, o que resultará numa economia anual de R$ 2,1 bilhões. Em paralelo, os Correios também vão revisar os planos de saúde e de previdência dos servidores, que representam um alto custo fixo para a companhia.
Rondon explicou que a reestruturação do plano de saúde é necessária para evitar que a cobertura, apesar de boa, se torne financeiramente insustentável para a empresa. “Hoje, o plano tem uma cobertura excelente para os empregados, mas a lógica precisa ser revista”, destacou o presidente.
Empréstimos e reestruturação financeira
Para garantir a sobrevivência da empresa no curto prazo, os Correios já firmaram um empréstimo de R$ 12 bilhões com um grupo de cinco bancos, com a União como garantia. Desse montante, R$ 10 bilhões devem ser desembolsados ainda em 2025, enquanto os R$ 2 bilhões restantes estão previstos para 2026. O recurso será utilizado para pagar dívidas pendentes e reverter a situação de inadimplência da companhia.
“Esse financiamento permitirá que os Correios recuperem sua liquidez, voltem a pagar salários, precatórios e outras obrigações e, assim, possam retomar a confiança do mercado”, afirmou Rondon. Além disso, os Correios estão buscando mais R$ 8 bilhões em crédito para equilibrar suas contas em 2026.
Com o objetivo de aumentar a receita, os Correios também planejam diversificar seus serviços, investindo em novas parcerias com o setor privado e expandindo a oferta de produtos, como serviços financeiros e seguros. A estatal estima que essas novas iniciativas possam gerar um ganho de R$ 1,7 bilhão, ajudando a estabilizar as finanças.
Rondon destacou a importância dessa diversificação, mencionando a necessidade de se adaptar a uma dinâmica de mercado que tem se modificado globalmente. "Muitas empresas de correios ao redor do mundo conseguiram se adaptar com mais rapidez e assertividade, buscando outras fontes de receita, e é isso que estamos tentando fazer aqui", disse.
Embora o plano de reestruturação traga esperança de recuperação, os Correios ainda devem registrar um déficit de cerca de R$ 9 bilhões em 2025. Segundo o presidente da empresa, a expectativa é que os Correios voltem a ter lucro somente a partir de 2027, após um período de ajustes e reestruturação profunda. O plano de recuperação busca reverter 12 trimestres consecutivos de prejuízos e equilibrar o déficit estrutural de R$ 4 bilhões anuais, gerado pela obrigação de cobertura universal dos serviços postais.
Para os anos seguintes, está previsto um investimento de R$ 4,4 bilhões, por meio de empréstimo do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, com o objetivo de modernizar a infraestrutura da empresa, incluindo a automação de centros de tratamento, renovação da frota e descarbonização das operações. Além disso, a estatal está considerando uma possível mudança societária a partir de 2027, avaliando a abertura de capital para transformar os Correios em uma companhia de economia mista.
Desafios no setor postal e adaptação ao mercado
Os Correios enfrentam uma crise estrutural que, segundo Rondon, é reflexo das mudanças no mercado postal devido à digitalização das comunicações, o que reduziu a demanda por correspondências tradicionais. A entrada de novos competidores, especialmente no comércio eletrônico, também impactou as receitas da empresa, que já não é mais o único ator no mercado de logística.
"É uma dinâmica de mercado que aconteceu no mundo inteiro. Várias empresas de correios ainda registram prejuízos. A USPS [United States Postal Service], por exemplo, está reportando um prejuízo de US$ 9 bilhões", comparou Rondon, ressaltando que o setor postal está em crise global.


