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Com barraca e bike, fotógrafo sai por aí procurando paraísos escondidos em MS

O olhar de Roberto Kelsson por trás da lente carrega a intimidade de quem anda pelo mundo como quintal.

Kimberly Teodoro | 19/06/2019 09:59
Foto feita vista do "quintal", feita de dentro da barraca (Foto: Roberto Kelsson)
Foto feita vista do "quintal", feita de dentro da barraca (Foto: Roberto Kelsson)

O olhar por trás da lente que captura cenários do interior de Mato Grosso do Sul carrega a intimidade de quem anda pelo mundo como quem atravessa o próprio quintal. “Curioso” e “aspirante a mochileiro”, Roberto Kelsson, aprendeu a enxergar beleza na simplicidade e o resultado são registros da conexão do fotógrafo com a natureza.

Viajante, Roberto procura por paisagens escondidas pelo Estado com um grupo de amigos que dividem o mesmo espírito aventureiro e amor pela fotografia há cerca de um ano. Mesmo antes disso, a relação com a câmera já era “exigente” e o ensinou a ver, todos os dias, algo diferente por estradas conhecidas. Isso porque parte da rotina incluía cerca de 30 km percorridos de bicicleta, com a câmera no pescoço e uma mochila com água e comida para fotografar a natureza na região de Corguinho, há 100 km de Campo Grande.

Fotografia feita durante as pedaladas em trilhas e estradas não pavimentadas na zona rural de Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Fotografia feita durante as pedaladas em trilhas e estradas não pavimentadas na zona rural de Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Tamanduá bandeira (Foto: Roberto Kelsson)
Tamanduá bandeira (Foto: Roberto Kelsson)
Estrada na zona rural de Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Estrada na zona rural de Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)

O “culpado” pelo interesse de Roberto pela atividade passou pela vida dele por poucos minutos, mas ficou registrado na memória. Foi um pássaro colorido, até hoje não identificado, que pousou no quintal e despertou a curiosidade do homem que o observada despercebido. “Resolvi ir atrás dele no Google. Durante a pesquisa, conheci um site que é basicamente uma enciclopédia de aves onde os membros fotografavam e mandam as fotos para identificação. Decidi comprar uma câmera pra fotografar aves”.

Entre a decisão e a compra, foi muito tempo de pesquisa e estudo sobre o assunto, mas a ansiedade falou mais alto e acabou levando Roberto em outra direção. Com um equipamento longe de ser o ideal para fotografar pássaros, como queria para começo de conversa, ele acabou aprendendo a “se virar” com o todas as outras coisas que a natureza local tinha a oferecer.

Ao todo, Roberto calcula já ter feito cerca de 6 mil km na região (Foto: Roberto Kelsson)
Ao todo, Roberto calcula já ter feito cerca de 6 mil km na região (Foto: Roberto Kelsson)
Por do sol sul-mato-grossense (Foto: Roberto Kelsson)
Por do sol sul-mato-grossense (Foto: Roberto Kelsson)

Nos últimos anos, Roberto calcula ter pedalado cerca de 6 mil quilômetros, só em torno da cidade onde vive. “Eu gosto de andar aqui na minha região pela segurança e por saber que sempre vou ver algo diferente, não é a minha intenção ir para outros lugares porque não gosto de pedalar em rodovia. Quando eu levo a câmera eu não ligo tanto pra distância mas sim no que tem pela frente”.

Entre 2012, quando recebeu a visita do passarinho e 2015, Roberto registrou apenas os cenários ao redor de Corguinho, dizendo para quem perguntasse que “nunca fotografaria humanos”, as lentes dele eram dedicadas às paisagens. Aprender mais sobre fotografia fez com que ele se “apaixonasse” por outras áreas, incluindo retratos, que hoje acabaram virando complemento de renda, mas nunca se afastaram da proposta original do fotógrafo que mantém os elementos da natureza presentes em cada registro, mesmo que seja dividindo o enquadramento com os modelos.

Registro feito em Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Registro feito em Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)

“A minha relação com a natureza é bem sensitiva,não sei se essa é a palavra correta. Deus colocou a fotografia no meu caminho e pra mim ela é minha maior ligação com ele. Quando eu saio para fotografar natureza é como se eu estivesse descrevendo Deus. Só que em foto. Por isso eu gosto tanto e sempre me dedico a essa área da fotografia”, explica.

As atuais expedições fotográficas são feitas na companhia de amigos, tem quem venha de Dourados encontrar o grupo em Campo Grande, e juntos seguem para Corguinho, com locais como o Rio do Peixe e Zigurats como destino. A fazenda do meu tio e do avô de Roberto e Rio Negro também são destinos comuns, sempre dando preferência à lugares com pouca gente, a próxima viagem planejada é para Rio Verde, há 202 km da capital.

Na bagagem, uma barraca, um saco de dormir e um isolante térmico, principalmente no inverno, e a mais recente aquisição, um colchonete pra usar de travesseiro. A câmera e um tripé. Quanto aos gastos, Roberto esclarece que a viagem não exige burocracias, só disposição para aproveitar a aventura em destinos que levam em conta o custo, onde o grupo divide tudo, “desde a gasolina às bolachas”.

Pôr do sol em Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Pôr do sol em Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Cachoeira do peixe, Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Cachoeira do peixe, Corguinho (Foto: Roberto Kelsson)
Céu noturno capturado pelas lentes de Roberto aqui em Mato Grosso do Sul (Foto: Roberto Kelsson)
Céu noturno capturado pelas lentes de Roberto aqui em Mato Grosso do Sul (Foto: Roberto Kelsson)

A alimentação depende muito do horário e tempo de estadia, o básico é sempre algum tipo de pão com algo para rechear, como salame, queijo e mortadela, às vezes carne para assar durante a noite. Quanto aos gastos, ele calcula cerca de R$ 50, onde R$ 30 são destinados ao combustível e R$ 20 para a comida em destinos mais perto. “Escolhemos o que é mais barato, ou quando ficamos mais tempo sem ir, vamos para lugares mais distantes, como a viagem que estamos planejando para Rio Verde no mês que vem”.

Foi ao longo dessas viagens que Roberto começou também a fotografar a vista de dentro barraca, desde o pôr do sol até as nuvens que insistem em aparecer mesmo em um dia ensolarado, das constelações de estrelas visíveis apenas longe das luzes da cidade. Outro recurso muito utilizado é o “time-lapse”, técnica que mistura fotografia e vídeo capaz de “capturar” a passagem do tempo. Registros que ele aprendeu a fazer sozinho, usando a curiosidade para “fuçar pelas funções da câmera” e dicas encontradas na internet.

Nesse caso, “acertar a mão” não é uma questão de equipamento, Roberto explica que o básico é uma lente 18-55mm, a que já vem no kit da câmera e um tripé, que não é necessário mais ajuda, já que a captura deve ser feita com a lente parada. Com os novos celulares, já tem até quem faça o time-lapse sem máquina fotográfica alguma, para isso só é preciso que o aparelho tenha a função de exposição de mais de 32 segundos.

O resultado é um olhar sobre o Pantanal como o de quem agradece a beleza encontrada na simplicidade, registros na imensidão à volta e acima de quem observa e a liberdade para sonhar com um mundo melhor.

"A primeira sensação é de gratidão, por tudo o que Deus faz e o que nos conecta a ele. A outra sensação é a de liberdade, porque quando eu saio para fazer essas fotos, geralmente estamos em um lugar muito escuro e que só dá para ver as estrelas. E privilégio, não sei se privilégio é a palavra certa, porque aqui na região na minha cidade é mais fácil de ver o céu estrelado, do que em Campo Grande por exemplo, já que as luzes da cidade atrapalham".

As viagens e cliques de Roberto estão no instagram do fotógrafo: @robertokelsson. Para acompanhar basta clicar aqui.

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