ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEGUNDA  18    CAMPO GRANDE 27º

Faz Bem!

Contra homem sem noção, mulherada prefere academia onde eles não entram

Só para elas é uma academia localizada no bairro Buriti de Campo Grande e muitas mulheres vão ao local para escapar do assédio

Alana Portela | 22/05/2019 07:35
As alunas praticam aula de ritmos juntas e perdem a vergonha de se soltar  (Foto: Paulo Francis)
As alunas praticam aula de ritmos juntas e perdem a vergonha de se soltar (Foto: Paulo Francis)

Cansadas do assédio, mulheres que moram no bairro Buriti preferem ir à academia “Só para elas”, onde homem não entra. A professora de educação física, Fabiana Butiquevices, conta que as alunas já passaram por constrangimentos e algumas precisaram escolher roupas mais largas para evitar as cantadas. Por isso, surgiu a ideia de um espaço 100% feminino. “Elas procuram esta academia por conta do assédio em outras. Tem muitas posições complicadas, como o de abrir e fechar as pernas, agachamento. Sentem-se mais confortáveis aqui porque podem usar roupa mais curta ou apertada, um top, calças transparentes e isso nesse ambiente não tem problema”, relata.

Ela relata que nem mesmo as instrutoras escapam de alguns e tem gente que abandona o treino por conta das atitudes de homens. “É complicado até para a gente que é profissional e vai atender um aluno, ele pode confundir as coisas. Escutamos muitas piadinhas, conversas fiadas. Tem uns que olham, outros que falam diretamente”, diz.

A academia “Só para Elas - Espaço Feminino” funciona há nove meses no bairro Buriti e hoje tem cerca de 70 alunas. O local se tornou refúgio para a mulherada escapar dos marmanjos, cuidar do corpo e fazer amizades. No último treino da semana, fazem comes e bebes, e ainda conversam sobre a rotina dos exercícios.

Fabiana é formada em Educação Física e dá aula na academia (Foto: Paulo Francis)
Fabiana é formada em Educação Física e dá aula na academia (Foto: Paulo Francis)

Como a ideia é atender o público feminino, os treinos são pensados para elas, e também pode atender transexuais mulheres. “Contamos com aparelhos para o corpo feminino e exercícios que trabalham glúteo e bumbum. É difícil ter um espaço direcionado, pois boa parte dos ginásios priorizam a quantidade e não a qualidade”, diz Fabiana.

O nome do espaço é claro “Só para elas”, mas tem homens que tentam se matricular. “A gente explica que não é possível. Não sei se não se tocaram com o nome”, comenta. O lugar já teve um instrutor gay, mas por conta da faculdade ele precisou sair e hoje só as mulheres transitam por ali.

A proprietária do espaço, Meire Bento é estudante de Educação Física e afirma que o comportamento dos homens que mais irritam as mulheres, é a “secada” na cara dura. “O fato delas estarem fazendo um agachamento e eles ficarem cuidando incomoda. De precisar usar algumas roupas para se esconder de certos olhares e já dentro de uma academia para o público feminino não tem isso. Elas podem chegar como quiser, não importa se tem barriga, estrias, celulites. A gente se ajuda, e todas somos lindas”, destaca.

Ao abrir um espaço para atender as mulheres, a empresária acabou atraindo famílias. “Vem a mãe, filha, irmã", diz a proprietária.

O espaço conta com aulas de musculação, funcional, ritmos, jump, pilates com bola, aula aeróbica em grupo, ginástica localizada e step. A academia tem portas de vidro, mas tem adesivos e é um ambinte mais escuro, reservado. A porta é trancada, para as alunas se soltarem durante as aulas. 

Elas se unem para treinar na academia do Buriti (Arquivo pessoal)
Elas se unem para treinar na academia do Buriti (Arquivo pessoal)

Descontração - Além de ser um refúgio para fugir dos homens, o local também é de descontração e de fazer novas amizades. “A academia é para mulheres que precisam ser atendidas, ouvidas. Temos nutricionista, terapeuta. Fiz um bolo de chocolate fit com amendoim, servi e elas comeram, bateram papo pós treino, outras voltaram a treinar. Isso não existe em academias convencionais, temos alunas de 23 a 86 anos”, disse.

A depiladora Mayara Sara, 30 anos, relata que nunca sofreu assédio, mas prefere treinar no local porque não precisa se preocupar com os comentários. “Nos outros locais, percebi muitos olhares e os comentários de ‘gostosa’ para as minhas colegas e isso incomoda. Aqui consigo vir com uma roupa que escolher, mais apertada e não passo por isso”, fala.

Mayara é aluna da academia "Só pra elas" e diz que se sente mais a vontade no local (Foto: Paulo Francis)
Mayara é aluna da academia "Só pra elas" e diz que se sente mais a vontade no local (Foto: Paulo Francis)
Laureane frequenta a academia há quatro meses e diz que o assédio ocorre até quando está indo malhar (Foto: Paulo Francis)
Laureane frequenta a academia há quatro meses e diz que o assédio ocorre até quando está indo malhar (Foto: Paulo Francis)

Laureane Rodrigues malha há quatro meses e diz que tem homem que mexe com ela, enquanto está indo para a malhação. “Motociclista que buzina quando estou vindo. A gente sofre no caminho até aqui por conta da roupa mais justa que vestimos. Eles olham, mexem, mas quando chego na academia é meu momento de alegria. É uma incentivando a outra, é um espaço de empoderamento, de fazer amigas. É como se fosse terapia coisa que em outro local não tinha”.

Priscila é acadêmica de educação física e conta que o que mais incomoda nas academias convencionais são as piadinhas dos homens (Foto: Paulo Francis)
Priscila é acadêmica de educação física e conta que o que mais incomoda nas academias convencionais são as piadinhas dos homens (Foto: Paulo Francis)

Priscila de Castro é estudante de educação física, instrui exercícios e relata que já precisou evitar alguns alunos por conta das atitudes. “Macho sem noção é o que mais tem, não apenas nas academias. O que mais irrita são as piadinhas que inventam no momento. Isso é uma falta de respeito”, afirma.

Para ela, uma academia voltada apenas para o público feminino é um espaço onde a mulherada se une por uma causa. “Como uma entende a outra, a gente vem com um sorriso no rosto, trocamos experiências, o psicológico muda. É outro ambiente, bem melhor”, disse.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.

As alunas da academia treinam diariamente (Arquivo pessoal)
As alunas da academia treinam diariamente (Arquivo pessoal)
Elas realizam aula de pilates na bola durante os treinos da semana (Foto: Arquivo pessoal)
Elas realizam aula de pilates na bola durante os treinos da semana (Foto: Arquivo pessoal)
Nos siga no Google Notícias