Terror do tempo seco: clima é gatilho para quem tem crises de herpes?
édicos explicam se a condição climática tem a ver com o reaparecimento do vírus e como tratar

Sofrer com herpes já é complicado em qualquer cenário, mas ter crises toda vez que o clima muda, especialmente no tempo seco, é demais para muita gente que convive com o vírus. Quem acha que a doença é apenas uma “bicheira” ou uma feridinha inconveniente nos lábios está enganado. Os médicos Alexandre Moretti e Isabelli Squiapati explicam os mitos e verdades sobre o vírus e se ele é ou não o terror do tempo seco.
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A herpes, frequentemente associada ao tempo seco, vai além de uma simples "bicheira" nos lábios. Existem oito tipos do vírus, sendo os mais conhecidos o labial (tipo 1), o genital (tipo 2) e o Varicella-zóster (tipo 3). A transmissão ocorre pelo contato com lesões ativas, e não há cura definitiva para a doença. O tratamento mais comum é feito com aciclovir, disponível no SUS, podendo custar entre R$ 200 e R$ 500 em outras apresentações. A prevenção inclui cuidados com a alimentação, evitando alimentos ricos em arginina e privilegiando os que contêm lisina, além do uso constante de protetor solar, especialmente nos lábios.
Pode até parecer que o clima causa a herpes, mas o que realmente ativa o vírus é a exposição solar em excesso, o que costuma ser mais comum durante o tempo seco, que normalmente vem acompanhado de muito calor.
“O gatilho é, principalmente, a queda de imunidade. O clima mais seco pode favorecer o aparecimento de herpes labial, mas não é uma causa direta. O clima seco favorece o ressecamento labial, que prejudica a integridade da barreira da pele, podendo gerar microfissuras que podem ser portas de entrada para partículas virais novas ou favorecer a recidiva local de uma infecção viral prévia”, diz Isabelli.
Para Alexandre, o vírus tem um talento único: se esconder. Ou seja, uma vez instalado, ele fica em estado de latência dentro da célula ou nos nervos (no caso do tipo 3 - Herpes Zoster) e pode reaparecer em momentos de baixa imunidade ou estresse.
“Bicheira é um termo popular que muitos acham que se refere a uma infecção bacteriana ou parasitária quando aparecem vesículas. Geralmente, o herpes tem como característica dor no local da lesão e íngua, algo muito comum principalmente nos tipos 1 e 2. Pode causar muita dor, queimação ou fisgada. No caso da Herpes Zoster, o processo inflamatório é tão intenso que pode levar à necrose do nervo intercostal, da face ou da perna”, comenta Alexandre.
Para acabar de vez com as dúvidas, eles explicam que existem 8 tipos de herpes, alguns bem conhecidos, outros nem tanto. O tipo 1 é o labial. O tipo 2 é o genital. O tipo 3 é conhecido como Varicella-zóster: a famosa catapora na infância e o cobreiro (herpes-zóster) na vida adulta.
Já o tipo 4 é lembrado nos pós-festas e Carnavais: a doença do beijo ou mononucleose infecciosa. O tipo 5 é o citomegalovírus. Ele tem maior risco em imunossuprimidos (pessoas com AIDS, HIV, transplantados renais, hepáticos e cardíacos, além de pacientes com leucemias, linfomas e doença renal crônica), pois pode afetar órgãos.
O tipo 6 é muito comum e geralmente infecta na primeira infância. Por isso, a maioria dos adultos já teve contato com ele, muitas vezes sem perceber. Esse tipo pode causar pitiríase rósea. “Causa febre altíssima seguida de manchas vermelhas no corpo. Também está ligado a uma dermatose benigna chamada pitiríase rósea de Gilbert”, pontua Alexandre.
O tipo 7 é semelhante ao anterior, com presença de manchas nas crianças e febre.
O último tipo está associado ao sarcoma de Kaposi (câncer raro em imunossuprimidos).
“Todo mundo tem contato com herpes tipo 1 na primeira infância. Ele geralmente se manifesta como estomatite herpética, com feridas na boca e gengiva que podem aparecer ao longo da vida. O tipo 2 é o herpes genital, que causa vesículas, íngua, dor e vermelhidão. O tipo 1 também pode causar herpes genital, assim como o tipo 2 pode causar herpes labial”, acrescenta o médico.
Transmissão e tratamento
A transmissão acontece quando há contato com alguém que está com lesão de herpes ativa, ou seja, quando há bolhas e vesículas na região afetada. Por isso, é importante evitar tocar diretamente nas lesões, beijar ou compartilhar objetos pessoais com quem esteja infectado. Além disso, o uso de preservativo é essencial para evitar o herpes genital, que é uma IST.
“Não existe cura porque é um vírus difícil de eliminar. De 1% a 2% do nosso DNA contém impregnação de vírus. DNA viral, ou seja, externo, que vem do meio ambiente. Temos que conviver com os vírus”, conta Alexandre.
O remédio mais conhecido para tratar a herpes é o aciclovir, que diminui o tempo da doença. Existem outros medicamentos para tratar imunossuprimidos, como o aciclovir intravenoso.
“Nós temos outras opções, como valaciclovir e vanciclovir, porém são mais caros, e o único disponível no SUS é o aciclovir. Só para ter uma ideia, um tratamento de herpes pode custar de R$ 200 a R$ 500, dependendo do tipo, do tempo e da quantidade de medicamento”, explica.
Apesar de não haver cura, existe vacina para o tipo 3, altamente recomendada para idosos. A eficácia chega a 90% nesse público. “Custa de R$ 900 a R$ 1.000 por dose. Ao todo, são duas aplicações”, conta Alexandre. Infelizmente, para os tipos 1 e 2 não há imunizantes disponíveis no mercado.
Alimentação conta
A alimentação é mais que nutrir o corpo, é pensar estrategicamente para evitar doenças e melhorar condições. No caso da herpes não poderia ser diferente, principalmente para prevenção dos tipos 1 e 2. A lisina (aminoácido) protege e ajuda no tratamento. Já dietas ricas em arginina pioram o quadro.
“A gente sempre orienta evitar alimentos ricos em arginina, como feijão, castanhas e chocolate, e consumir alimentos ricos em lisina ou fazer suplementação, geralmente de 1.500 mg por dia”, pontua Alexandre. A lisina é encontrada em carnes, peixes, laticínios e leguminosas, enquanto a arginina está presente em grãos integrais, oleaginosas, carne e peixes.
A dermatologista Isabelli completa que, para prevenir novas crises, é essencial o uso de protetor solar nos lábios e em todo o rosto quando houver exposição solar, especialmente se for contínua e intensa.
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