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Sabor

Nego D'água trocou rota de ônibus por espeto na Moreninha com receita da mãe

Morador do bairro desde 1986, Darci viu a região crescer e se transformar nas mãos dos próprios moradores.

Kimberly Teodoro | 15/01/2019 09:07
Mais conhecido como Nego D'água, Darci viu o bairro em que mora há 33 anos se transformar (Foto: Kimberly Teodoro)
Mais conhecido como Nego D'água, Darci viu o bairro em que mora há 33 anos se transformar (Foto: Kimberly Teodoro)

Motorista de ônibus aposentado, Darci de Almeida Ferreira, de 57 anos, mais conhecido como “Nego D’água”, veio de Andradina no interior de São Paulo para recomeçar a vida em Campo Grande há 33 anos, aqui viu o bairro onde mora crescer e passar de um lugar violento a um bairro próspero pelo esforço dos próprios moradores.

Há 4 anos Darci trocou a rotina da linha 085, que faz a rota do Terminal Júlio de Castilho até o terminal Morenão, pelo próprio negocio, um espetinho que leva o apelido dele e serve receitas ensinadas pela mãe ainda na infância.

No cardápio, o caldo de mocotó feito ainda como na “época da roça” é um dos destaques. Darci garante que o gosto também é o mesmo do passado. “Fazíamos muito porque tínhamos pouco dinheiro, e o caldo de mocotó é barato de fazer e sustenta um dia inteiro”, diz Darci, que cozinha em casa o caldo feito com os pés do boi uma vez por semana.

A porção custa R$ 10,00 com opção do de mocotó e peixe, feitos com a receita da mãe e o Pantaneiro, invenção própria de Darci, que ele garante só poder ser encontrado no Nego D'Água".

Das histórias de ônibus, para Darci a que vale a pena conta é a de como conheceu a atual eposa (Foto: Kimberly Teodoro)
Das histórias de ônibus, para Darci a que vale a pena conta é a de como conheceu a atual eposa (Foto: Kimberly Teodoro)

Com 17 anos de história dirigindo pelas ruas de Campo Grande, o que ele faz questão de contar é como conheceu a atual esposa, Nara Christianne Ferreira Barbosa, de 35 anos, que ele descreve como a “melhor coisa que ônibus trouxe”. Os dois se encontraram pela primeira vez na linha 085, ônibus que Nara usava para chegar ao trabalho em uma operadora de telefonia móvel, motivo pelo qual Darci falou com ela pela primeira vez.

“Eu já tinha visto ela algumas vezes, mas ela já estava de olho em mim. Quando conversamos, eu estava precisando colocar internet em casa e ela estava uniformizada, aí quando ela foi passar pela catraca eu chamei e perguntei o que precisava para contratar um pacote. Depois disso, ela me deu o telefone e continuamos conversando até eu tomar coragem e chamar ela para sair”, conta.

Caldo de Mocotó, receita da mãe de Darci sai por R$ 10,00 (Foto: Arquivo Pessoal)
Caldo de Mocotó, receita da mãe de Darci sai por R$ 10,00 (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando os dois se conheceram, Darci já era divorciado há quase 10 anos e pai de 4 filhos, hoje já adultos e donos do próprio nariz, mas todos criados na Moreninha II, na casa comprada em 1986, e onde ele ainda vive com Nara e o filho mais novo, Rafael. “Estou aqui faz muito tempo e pretendo continuar, quando cheguei, a maioria das ruas ainda nem tinha asfalto, mas sempre teve escola, farmácia, posto de saúde e quase tudo o que os moradores precisam sem ter que ir ao centro. Foi um lugar muito bom para criar meus filhos e de 20 anos pra cá as coisas só melhoraram, tudo por conta de quem mora aqui”, afirma.

O apelido de “Nego D’água” veio do primeiro trabalho de Darci em Campo Grande, como motorista do caminhão de água na empresa que asfaltou o bairro em que hoje ele tem orgulho de morar. “Sempre que alguém precisava de mim, usavam um grito de ‘Ôh Nego d’água!’ e acabou ficando, se você vier aqui e perguntar por Darci, ninguém vai saber quem é, mas se disser ‘Nego d’água’, todo mundo conhece. É um apelido que fazia sentido, porque sou negro e dirigia um caminhão de água”, conta.

Espetinhos de carne, frango e linguiça saem a partir de R$ 6,00 (Foto: Arquivo Pessoal)
Espetinhos de carne, frango e linguiça saem a partir de R$ 6,00 (Foto: Arquivo Pessoal)

A aposentadoria foi por tempo de serviço, mas o trabalho não ficou para trás, para complementar a renda, ele e a esposa abriram um espetinho há 1 quadra e meia de casa, com espetos que eles mesmo montam e receitas que a dona Cecília de Almeida Ferreira, mãe de Darci, ensinou quando ele ainda era menino e ficava responsável pela casa.

“Éramos 5 filhos e eu sempre fiquei em volta da minha mãe, ela e meu pai trabalhavam em uma lavoura de café lá na roça onde a gente morava e iam muito cedo para o trabalho. Ela deixava pronta uma mistura de mandioca com açúcar para o nosso café da manhã e me pedia para fazer o almoço e levar pra eles ainda quente, foi assim que aprendi a cozinhar”, conta.

Os espetos tem preços bem populares, que vão de R$ 6,00 sem acompanhamento até R$ 14,00 o medalhão de carne com acompanhamento de arroz, mandioca, vinagrete e farinha temperada, há opções de carne, frango, coração de frango e linguiça, tudo em uma tabela bem acessível.

O “Espetinhos Nego D’água”, que funciona de terça-feira à sábado das 18h às 23h na Rua Anacá, 158, no bairro Moreninhas II.

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