MS tem 4,3 milhões de hectares degradados que poderiam gerar R$ 168 bilhões
Estudo aponta a dimensão do problema e possibilidade de aumentar produção de grãos e evitar desmatamento
Mato Grosso do Sul (MS) está entre os três estados com maior área de pastagens degradadas no Brasil, em 3º lugar, com 4,3 milhões de hectares, com potencial para a produção de grãos, principalmente soja e milho. Os dados fazem parte do relatório Radar Agro, elaborado pelo Itaú BBA e intitulado “Áreas de pastagens degradadas e potencial de conversão para lavouras no Brasil”, ao qual o Campo Grande News teve acesso, com recorte detalhado sobre Mato Grosso do Sul.
RESUMO
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Mato Grosso do Sul ocupa a terceira posição entre os estados com maior área de pastagens degradadas no Brasil, totalizando 4,3 milhões de hectares. Segundo relatório do Itaú BBA, a conversão dessas áreas em lavouras poderia gerar R$ 168,2 bilhões e evitar novos desmatamentos. O estado se destaca pelo alto valor das terras, com preço médio de R$ 22,2 mil por hectare em áreas de pastagem e R$ 60,9 mil por hectare em áreas de produção de grãos. A localização estratégica e infraestrutura acima da média nacional são fatores que contribuem para essa valorização.
Conforme o estudo, a conversão dessas áreas degradadas em lavouras representa uma alternativa estratégica para expandir a produção, evitar novos desmatamentos, contribuir para a redução das emissões de CO₂ e, ainda, estimular a valorização das terras, especialmente em Mato Grosso do Sul, que já se destaca pelo valor das terras em termos absolutos.
Para o analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz, a transformação dessas áreas tende a valorizar ainda mais as terras sul-mato-grossenses, hoje beneficiadas pela localização estratégica do estado, tanto para o escoamento de grãos quanto pela infraestrutura acima da média nacional.
Além disso, essa preparação pode evitar sanções diante da nova regulamentação europeia sobre questões ambientais, que começa a valer no fim deste ano. “No limite, não teríamos restrições de mercado”, avalia Queiroz. A legislação prevê sanções severas para empresas e indivíduos que violarem as regras, incluindo a proibição da importação de produtos provenientes de áreas desmatadas após 2020.
De acordo com o levantamento, que mapeou 28 milhões de hectares de pastagens degradadas em todo o País,, as áreas aptas para conversão são lideradas por Mato Grosso (MT), com cerca de 5 milhões de hectares, com potencial de gerar até R$ 181,1 bilhões de um total nacional estimado em R$ 904,7 bilhões.
Em seguida, aparecem Goiás (4,7 milhões de hectares, com potencial de R$ 144,4 bilhões) e Mato Grosso do Sul (4,3 milhões de hectares, com impacto estimado em R$ 168,2 bilhões) e líder no ranking com as terras com os preços mais altos em valor absoluto.
Ou seja, caso os 28 milhões de hectares fossem convertidos em produção agrícola, o Brasil poderia evitar a emissão de até 3,5 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente, segundo o estudo. Além disso, haveria um impacto expressivo na valorização fundiária, estimado em R$ 904 bilhões, e um aumento de 52% na produção nacional de grãos.
Centro-Oeste lidera área potencial de conversão
Maior produtora agrícola do País, a região Centro-Oeste, que concentra a maioria (51%) das áreas de pastagens degradadas com potencial de expansão agrícola, pode elevar em mais de R$ 30 mil por hectare, em média, o valor das pastagens degradadas convertidas em áreas produtivas. Para os especialistas do Itaú BBA, na média nacional, as terras de lavoura valem cerca de 2,4 vezes o preço das terras de pastagem equivalentes — embora a valorização varie entre regiões, dependendo da oferta de terras e das produtividades locais.
Nesse cenário, Mato Grosso do Sul se destaca, no Centro-Oeste, pelo alto valor das terras em termos absolutos. O preço médio das pastagens no estado é de R$ 22,2 mil/ha, enquanto o valor para áreas destinadas à produção de grãos é previsto em R$ 60,9 mil/ha — uma valorização potencial de 175%, embora abaixo da média nacional em termos percentuais, que é 244%, liderada por Piauí, com 789%, e Bahia, 529%.
O estudo observa que, em regiões sul-mato-grossense com solo argiloso, boa infraestrutura e histórico de alta produtividade, o hectare pode ultrapassar os R$ 100 mil.
Outros fatores, segundo o analista do Itaú BBA, influenciam na valorização fundiária sul-mato-grossense, como a fertilidade do solo e a capacidade de produção de até duas safras por ano, além da logística para o escoamento da produção.
“Existe uma carência de infraestrutura logística no Brasil como um todo. Mas, considerando a média nacional, Mato Grosso do Sul, que já é consolidado na produção agrícola, possui uma estrutura um pouco mais desenvolvida. Isso acaba fazendo com que as terras do estado, em valores absolutos, já sejam bastante valorizadas”, explica Queiroz.
Embora o impacto da Rota Bioceânica ainda não esteja incluído no estudo, Queiroz acredita que o corredor logístico — que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico e colocará Mato Grosso do Sul como região estratégica, por meio de uma rede de estradas e pontes passando por Paraguai, Argentina e Chile — tende a valorizar ainda mais a região.
Área recuperada
Apesar da ampla extensão de pastagens degradadas, Mato Grosso do Sul também ocupa hoje a terceira posição entre os estados com maior área recuperada, ficando atrás somente de Mato Grosso (MT) e Goiás, conforme afirma o analista da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Segundo ele, o programa Reverte, iniciativa da Syngenta em parceria com o banco, já recuperou aproximadamente 22 mil hectares em Mato Grosso do Sul. Isso representa cerca de 8,5% do total de áreas degradadas no estado. Em todo o Brasil, o programa já converteu cerca de 260 mil hectares.
Para restaurar os 4,3 milhões de hectares degradados no Estado, seriam necessários cerca de R$ 75 bilhões. Em âmbito nacional, o investimento estimado para converter os 28 milhões de hectares de pastos degradados gira em torno de R$ 482,6 bilhões.
A recuperação dessas áreas, no entanto, depende da superação de vários desafios. Entre eles, destacam-se a ampliação do acesso ao crédito com prazos e condições compatíveis com o ciclo de retorno do investimento, a expansão da assistência técnica e o fortalecimento da capacitação no campo.
“Com uma das maiores áreas de pastagens do mundo, o Brasil tem potencial para ampliar sua produção agrícola sem a necessidade de desmatar novas áreas de vegetação nativa. Cada hectare convertido é um hectare a menos que poderia ser desmatado”, destaca o especialista.
O financiamento ainda é um dos principais entraves, já que para converter toda a área de pastagens degradadas em lavouras seriam necessários investimentos de quase R$ 500 bilhões, valor que inclui custos com aquisição de maquinário e infraestrutura. No entanto, se o produtor já possuir esses recursos, o gasto cai pela metade.
O esforço demanda uma articulação entre iniciativas públicas e privadas, visando resultados sustentáveis em médio e longo prazos — tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. “A otimização do uso da terra é essencial para a conservação da biodiversidade”, reforça o analista.
Ele ainda ressalta que a tendência é de que a pecuária se torne cada vez mais intensiva, à medida que áreas degradadas sejam convertidas para a produção de grãos, especialmente soja e milho. Esses grãos, por sua vez, acabam sendo destinados à alimentação de bovinos, aves e suínos, fortalecendo toda a cadeia da pecuária e contribuindo, no futuro, para a estabilidade dos preços dos alimentos.