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Meio Ambiente

Chamas constantes expõem descaso no único aterro de entulhos da cidade

Adriano Fernandes e Júlia Kaifanny | 12/11/2016 08:50
Vastidão do amontoado superlotado do único aterro de entulho de Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)
Vastidão do amontoado superlotado do único aterro de entulho de Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)

A falta de fiscalização diante de uma triagem mal feita durante antes anos faz com que o único aterro de entulhos de Campo Grande, no anel viário da BR-163 na região do Jardim Noroeste, tenha o aspecto de lixão. Sob o maior e único aterro de entulhos da Capital, as chamas se ascendem sozinhas em um amontoado onde a fumaça é expelida do chão, durante todo o dia e noite.

No local, a montanha de resíduos sólidos cresceu sobre a matéria orgânica acumulada indevidamente e o legado é visível, além de preocupante até mesmo do ponto de vista da saúde públicaSituação que se a dona de casa Glaucia dos Santos Paredes, de 29 anos, soubesse que acontecia ela nunca não teria se mudado para a rua ao lado do aterro, há três meses.

Além do mau cheiro, o problema já compromete a saúde do marido e da filha, de 1 ano. “Quando decidimos nos mudar para cá, eu não sabia dessa situação. Os dois sofrem da rinite que piorou por causa dessa fumaça. Já tive de levar ela as pressas para o hospital durante uma crise. Sem mencionar a fuligem que vem parar dentro de casa diariamente. Já estamos pensando seriamente em nos mudar”, comentou a dona de casa.

Já “adaptado” com o ambiente, o pedreiro Luandson Santos da Silva, de 24 anos, há dois é vizinho do aterro. A situação é preocupante até mesmo em dias de chuva. “Eu sabia que havia esse problema, mas foi onde deu para comprar uma casa. Até em dias de chuva essa fumaça e o mau cheiro incomodam e durante a noite, às vezes as chamas são tão fortes que é possível ouvir o barulho do fogo”, comenta.

Na lanchonete do senhor Wayne a fumaça compromete até mesmo o movimento pelo local. (Foto: Júlia Kaifanny)
Na lanchonete do senhor Wayne a fumaça compromete até mesmo o movimento pelo local. (Foto: Júlia Kaifanny)

Ludson também é pai de uma garotinha de 2 anos e conta que o ar impuro que expelido do local, frequentemente faz com que a menina tenha problemas de saúde. “Ela esta só com tosse seca, mas já passou mau por diversas vezes. Todos os dias temos que fazer inalação nela, sem falar da sujeira. Mesmo com panos nas portas e janelas a fuligem sempre entra”, completa.

E se entre os moradores o problema gera incômodo, quem ainda insiste em lucrar com o comércio nas redondezas, também enfrenta dificuldades. Na lanchonete do senhor Wayne Delfino Serpa, de 57 anos, a clientela diminui pela metade em dias em que a fumaça é mais intensa.

“Esse cheiro forte de queimado incomoda até quem vai comer. Já perdi clientes que evitaram vim aqui por causa desse problema e em dias onde a quantidade de fumaça é maior o movimento diminui”, conta. Segundo ele, a situação beira o desespero.

“Hoje o ambiente que você vê está normal, mas quando realmente pega fogo e as chamas estão altas dá vontade de largar tudo e ir embora”, disse à reportagem. “É um problema ambiental, mas ninguém se importa com a nossa situação”, se queixou.

No local ainda há catadores que disputam o lixo que é depositado. (Foto: Marcos Ermínio)
No local ainda há catadores que disputam o lixo que é depositado. (Foto: Marcos Ermínio)

Terreno em chamas – O município culpa a população pelo descarte indevido de matéria orgânica, no local, e que era feito há anos, desde antes da formação do aterro. A prefeitura também ressalta que o local, nunca sequer, serviu de depósito para outro tipo de lixo, a não ser os restos de tijolo, concreto, argamassa, aço e madeira, dentre outros resíduos sólidos produzidos na Capital.

No entanto, o Ministério Público apura as irregularidades no local desde 2012 e, em vistoria feita pela PMA (Polícia Militar Ambiental) em julho deste ano, foi constatado que servidores efetuavam uma “triagem superficial” nos objetos que entravam no local, permitindo pneus, entulhos da construção civil, como plástico, vidros, madeiras, além de resíduos recicláveis e orgânicos. Situação que agrava ainda mais uma os problemas do aterro.

Conforme explica a bióloga, mestre em ecologia e conservação e consultora ambiental, Silvia Gervásio, o fenômeno que ocorre no aterro é o mesmo de um aterro sanitário comum, mas com alguns agravantes. “Quando o lixo orgânico é aterrado o seu processo natural de decomposição emite certo gases que são poluentes, dentre eles o metano que é altamente inflamável”, comenta a especialista.

O visual pelo local ainda é o mesmo de um lixão. (Foto: Marcos Ermínio)
O visual pelo local ainda é o mesmo de um lixão. (Foto: Marcos Ermínio)

O que acontece é que em aterros sanitários esses gases inflamáveis são devidamente capturados, evitando a combustão. “É o que nós conhecemos como composição anaeróbia, sem a falta de oxigênio. No aterro esse processo acontece sob o entulho e é liberado sem nenhum tipo de tratamento o que ocasiona as chamas e consequentemente a fumaça”, completa.

Quando inaladas por meio da fumaça, essas substâncias logicamente tem efeitos na saúde, por ser altamente poluente. Para a bióloga a única solução viável no tipo de situação que acontece em Campo Grande é desativação do aterro. Procedimento trabalhoso e logicamente, caro.

“Uma solução viável seria a desativação e remoção controlada de todo o resíduo que esta acumulado no local e dado a ele um devido descarte. Não podemos esquecer, por exemplo, que além dos resíduos sólidos contaminados o próprio solo do local foi comprometido pelo acúmulo do chorume desse lixo orgânico”, explica.

Quanto a superlotação de entulhos no aterro, a prefeitura informou que estuda a viabilidade de outras áreas que podem servir para a instalação de um novo aterro de entulho, mas ainda não há previsão de quando ele será definido.

A montanha de entulhos é alvo de irregularidades e compromete o bem estar de quem vive em seu entorno. (Foto: Marcos Ermínio)
A montanha de entulhos é alvo de irregularidades e compromete o bem estar de quem vive em seu entorno. (Foto: Marcos Ermínio)
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