ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 30º

Meio Ambiente

Fogo também ameaça áreas de Mata Atlântica, sob risco de dano irreversível

Parque Nacional da Serra da Bodoquena corre risco com avanço do fogo em MS

Tainá Jara | 13/09/2019 10:21
Desde agosto, brigadas combatem focos de incêndio em áreas próximas ao Parque Nacional da Serra de Bodoquena (Foto: Divulgação/ICMBio)
Desde agosto, brigadas combatem focos de incêndio em áreas próximas ao Parque Nacional da Serra de Bodoquena (Foto: Divulgação/ICMBio)

O avanço dos focos de incêndio em Mato Grosso do Sul pode causar danos irreversíveis em áreas com predomínio de Mata Atlântica, vegetação que cobre a maior parte do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. O alerta consta em relatório divulgado nesta semana pela Fundação Neotrópica do Brasil.

Embora o monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não aponte focos dentro da área do parque, apenas em locais próximos, o calor e a estiagem aumentam os riscos de fogo e ameaçam o bioma.

A reserva ecológica de 76,4 mil hectares, administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade) ligado ao Ministério do Meio Ambiente, abrange os municípios de Porto Murtinho, Bonito, Jardim, Miranda e Bodoquena. As cidades constam no decreto de emergência emitido nesta quinta-feira pelo governo do Estado em decorrência do alto número de focos, o que comprova os riscos a vegetação do espaço.

Conforme o relatório da instituição, ao contrário do Cerrado, e assim como a Amazônia, na Mata Atlântica a vegetação não possui uma adaptação evolutiva ao fogo. As cascas das árvores desses Biomas são muito mais finas.

O Cerrado, conhecido como “savana brasileira”, assim como o bioma da Caatinga, predominante no nordeste brasileiro, corresponde a mais de 60% do território do Estado. As outras vegetações nativas presentes são o complexo do Pantanal e a Mata Atlântica.

Em área de Cerrado, historicamente, o fogo sempre ocorreu de forma natural, sem necessariamente ter origem com intervenção humana, o que levou às plantas desse bioma a se tornarem adaptadas a esses eventos. Dessa forma, esta vegetação é caracterizada por árvores de casca muito grossa, que protegem e impedem as chamas ou as altas temperaturas de atingiram o cerne das plantas diante de um incêndio, evitando assim que morram.

O fogo natural no Cerrado ainda contribui para a germinação de sementes de muitas espécies, uma vez que essas plantas necessitam de um choque térmico para que seja efetuada a quebra de sua dormência.

No caso da Mata Atlântica, a ausência de proteção faz com que a mortalidade das árvores diante de queimadas seja muito alta, dessa forma, mesmo incêndio de baixa intensidade pode causar grande devastação, acarretando modificações consideráveis na comunidade vegetal.

“O estrago é grande e demora recuperar e, mesmo assim, pode ser que o ecossistema não retorne a ser como antes”, explica o gestor ambiental da Fundação Neotrópica do Brasil, Rodolfo Portela de Souza.

A recuperação deste ambiente é lenta, podendo levar muitas décadas para retornar ao estado similar anterior ao fogo. Por isto, qualquer incêndio que vier a adentrar as áreas de floresta estacional da Serra da Bodoquena, certamente trará efeitos catastróficos para a paisagem e toda a biodiversidade associada, além de prejuízos econômicos diretos aos proprietários rurais e empreendimentos de turismo.

Maior parte do Parque Nacional de Serra da Bodoquena é coberta por vegetação de Mata Atlântica (Foto: Divulgação/Prefeitura de Bonito)
Maior parte do Parque Nacional de Serra da Bodoquena é coberta por vegetação de Mata Atlântica (Foto: Divulgação/Prefeitura de Bonito)
Dezoito brigadas trabalham no combate às chamas na região de Bodoquena e Bonito (Foto: Divulgação/ICMBio)
Dezoito brigadas trabalham no combate às chamas na região de Bodoquena e Bonito (Foto: Divulgação/ICMBio)

Proteção – Para impedir que os focos de incêndio registrados nas proximidades do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, equipes do Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente) e do ICMBio realizam há cerca de três meses trabalhos de prevenção.

Desde agosto ocorrem ações de combate direto ao fogo. O ICMBio conta com 18 brigadistas atuando direta e incansavelmente no combate aos focos de incêndio.

O coordenador da Defesa Civil, coronel Fábio Catarinelli, afirma que na última quinta-feira havia três focos de incêndio próximos a área do parque, porém, a situação estava sob controle. “Ao brigadas disponíveis naquela região, até o momento, estão dando conta de proteger o espaço”, explica.

Catarinelli também é responsável pela sala de situação integrada criada pela Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) para monitorar os incêndios no Pantanal, na região de Corumbá, maior alvo do fogo. Corpo de Bombeiros, PMA (Polícia Militar Ambiental), Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e Clima) e Ibama.

Dados de foco de calor na Serra da Bodoquena em agosto de 2019 (Imagem: Reprodução/Inpe)
Dados de foco de calor na Serra da Bodoquena em agosto de 2019 (Imagem: Reprodução/Inpe)

Incêndios - Neste ano, foram registrados Inpe 6,3 mil focos no Estado, sendo que 1,5 mil somente em setembro. Em pouco mais de um mês, 1 milhão de hectares foram consumidos pelas chamas, principalmente na região do Pantanal.

O número já supera a quantidade de focos acumulados em seis dos últimos dez anos (2.380 em 2018; 5.737 em 2017; 4.617 em 2015; 2.214 em 2014; 3.615 em 2013; 3.731 em 2011).

Nos siga no Google Notícias