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Meio Ambiente

"Não é chuva que mata", alerta climatólogo sobre quantidade de lixo na periferia

Professor destaca riscos das mudanças climáticas e a necessidade de políticas públicas que incluam saneamento

Por Viviane Oliveira | 17/09/2025 11:27
"Não é chuva que mata", alerta climatólogo sobre quantidade de lixo na periferia
Lixo às margens do Rio Anhanduí, na Avenida Ernesto Geisel, próximo ao shopping Norte Sul Plaza (Foto: arquivo / Osmar Veiga)

“Não adianta resolver o problema da cidade e deixar a periferia sem esgoto e no lixo. Tudo isso faz parte de um mesmo pacote, que é a nossa sobrevivência no planeta.” A afirmação é do climatólogo João Lima Sant’Anna Neto, mestre e doutor em Geografia, com mais de 30 anos de pesquisa sobre clima. Ele esteve em Campo Grande para participar da Semana de Geografia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e, após o evento, visitou o Bioparque Pantanal.

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O climatologista João Lima Sant'Anna Neto alerta que a falta de infraestrutura nas periferias intensifica os impactos das mudanças climáticas. Durante visita a Campo Grande, o especialista destacou que não basta resolver problemas do centro urbano enquanto áreas periféricas carecem de saneamento básico. O pesquisador enfatiza que o aquecimento global tem componentes naturais e humanos, mas defende que as cidades precisam se tornar mais sustentáveis e justas. Em Campo Grande, um projeto pioneiro de condomínio popular sustentável, com 164 moradias, será construído no Bairro Paulo Coelho Machado, incluindo placas solares e sistema de reaproveitamento de água.

Em entrevista, o especialista destacou que a precariedade das populações periféricas intensifica os impactos de chuvas fortes, enchentes e doenças. Ele citou como exemplo os surtos de dengue em Paranavaí (PR), nos anos 2000, que atingiram principalmente vilas operárias próximas a lixões.

João Lima explicou que as mudanças climáticas precisam ser analisadas em diferentes escalas de tempo. “Existem fenômenos que acontecem em milhares de anos, outros em séculos e alguns em semanas. Quando esses movimentos ocorrem simultaneamente, surgem grandes tragédias”, disse, citando o El Niño, que provoca secas em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, e a Oscilação Decadal do Pacífico, um padrão de variação natural do clima que afeta a temperatura global e regional.

Embora a ação humana acelere o aquecimento global, o professor ressalta que parte do aumento de temperatura é natural, resultado do período interglacial, uma fase mais quente da Terra. “Mesmo que façamos enormes esforços para reduzir emissões, a tendência natural é de aquecimento. O que podemos e devemos fazer é transformar nossos espaços de vida em ambientes mais justos, saudáveis e sustentáveis”, afirmou.

"Não é chuva que mata", alerta climatólogo sobre quantidade de lixo na periferia
Professor aposentado da Universidade Estadual Paulista, de Presidente Prudente, durante entrevista ao Campo Grande News no Bioparque Pantanal (Foto: Henrique Kawaminami (Foto: Henrique Kawaminami)

O pesquisador também criticou o modelo atual de urbanização. Ele lembrou que moradias sustentáveis, termicamente e economicamente eficientes, já foram desenvolvidas por institutos como o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), mas são pouco utilizadas devido a interesses econômicos e à indústria da construção. “Não basta embelezar o centro da cidade. A maior parte da população vive nos entornos. Obras, arborização e cuidado com a paisagem precisam ser pensados para todas as áreas urbanas, e não apenas para regiões centrais”, disse.

João Lima reforçou que, para enfrentar os desafios das mudanças climáticas, é fundamental integrar planejamento urbano, redução de desigualdades e políticas de saneamento, especialmente em áreas periféricas. “Não podemos criminalizar o clima. A chuva não mata; quem sofre são as populações mais vulneráveis. É lá que precisamos atuar”, concluiu.

Além das questões sociais, o professor destacou que o planeta passa por ciclos climáticos de diferentes escalas, de semanas a milhares de anos. O problema atual, segundo ele, é a velocidade e intensidade do aquecimento. “Já tivemos períodos mais quentes e mais frios na história, mas hoje a ação humana acelera esse processo".

João Lima defende que o enfrentamento das mudanças climáticas deve vir acompanhado de políticas públicas que promovam justiça social e planejamento urbano. Ele citou exemplos de soluções sustentáveis, como rodovias construídas com pneus reciclados na Argentina e projetos de moradias populares de baixo custo e alta eficiência energética no Brasil. “O que nós somos capazes de fazer é transformar nossos espaços de vida humana em ambientes mais justos, saudáveis e sustentáveis”, reforçou.

"Não é chuva que mata", alerta climatólogo sobre quantidade de lixo na periferia
Desenho do condomínio sustentável que será construído no Bairro Paulo Coelho Machado, região sul de Campo Grande (Foto: divulgação)

Em julho, o governador Eduardo Riedel autorizou, em Campo Grande, a construção do primeiro condomínio popular sustentável do Brasil, com 164 moradias, além de outras 50 unidades para o município de Douradina. O condomínio na Capital contará com placas solares, reaproveitamento de água e uma proposta de construção sem muros entre as unidades habitacionais. O projeto ainda inclui 15 lojas para aluguel, gerando renda para o condomínio, localizado na Avenida dos Cafezais, no Bairro Paulo Coelho Machado, região sul da cidade.

"Não é chuva que mata", alerta climatólogo sobre quantidade de lixo na periferia
Lixo toma conta da Rua Babaçu, no Jardim Aero Rancho, em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)

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