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Meio Ambiente

Pesquisadora da Nova Zelândia estuda realidade dos ribeirinhos do São Lourenço

João Humberto | 07/06/2016 16:49
Na época das cheias, Barra do São Lourenço é inundada e esse é um dos motivos defendidos para mudança ao Aterro do Binega (Foto: Kirsten Erikson)
Na época das cheias, Barra do São Lourenço é inundada e esse é um dos motivos defendidos para mudança ao Aterro do Binega (Foto: Kirsten Erikson)

Pesquisa desenvolvida pela cientista política Kirsten Erikson, da Nova Zelândia, estuda como é a realidade dos ribeirinhos que vivem na Barra do rio São Lourenço, no Pantanal, e uma possível mudança para o Aterro do Binega. A pesquisadora de 25 anos participa do Erasmus Mundus em Desenvolvimento Territorial Sustentável, programa de intercâmbio em nível de mestrado, promovido pela Comissão Europeia, e faz estágio na ONG (Organização Não Governamental) Ecoa.

Kirsten, de 25 anos, veio em fevereiro para o Brasil passar alguns meses no sentido de desenvolver pesquisa no desenvolvimento de comunidades. A vinda da mestranda é parte da parceria que a Erasmus Mundus mantém com o LabuH (Laboratório de Humanidades) da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).

Conforme Kirsten, que mora em Christchurch, terceira maior cidade da Nova Zelândia, a pesquisa desenvolvida em Mato Grosso do Sul tem como foco as comunidades ribeirinhas do Pantanal, em especial a da Barra do São Lourenço, localizada na montante de Corumbá, cidade distante 419 km de Campo Grande. Na tentativa de propiciar melhores condições de vida às 22 famílias que ali vivem, a partir de audiencia publica realizada em maio do ano passado na própria comunidade, os moradores solicitaram aos órgãos responsáveis a garantia do aterro para as familias terem melhores condições de vida, principalmente frente à erosão natural do rio Paraguai no atual lugar em que moram.

Kirsten Erikson diz que a pesquisa procura entender como ribeirinhos da Barra do São Lourenço analisam mudança para Aterro do Binega (Foto: Fernando Antunes)
Kirsten Erikson diz que a pesquisa procura entender como ribeirinhos da Barra do São Lourenço analisam mudança para Aterro do Binega (Foto: Fernando Antunes)

Para chegar à Barra do São Lourenço o acesso é possível de barco, numa viagem que dura mais de 26 horas partindo de Corumbá. Há vários estudos na região que identificaram inúmeras evidências sobre a tradicionalidade e ocupação histórica da comunidade.

No entanto, Kirsten percebe que há inúmeras carências para a região, como garantia de alguns direitos básicos. A mudança para o Aterro do Binega é apoiada pela SPU (Secretaria do Patrimônio da União).

Autorização de uso sustentável - Em 2012 foram concedidos TAUS (Termos de Autorização de Uso Sustentável) aos ribeirinhos da Barra do São Lourenço, mas o problema é que durante a cheia a área fica inundada ocasionando o deslocamento da população para um local mais alto. Com a finalidade de regularização dessa ocupação sazonal, foi concedido um TAUS coletivo à associação dos moradores da comunidade Barra do São Lourenço, para que em época de grandes cheias do rio Paraguai, os ribeirinhos pudessem estar seguros em outra área mais alta. Porém o resultado foi um conflito judicial tendo em vista a RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e como consequência, mandados de segurança e a concessão de uma liminar.

Caso infraestruturas forem feitas facilitarão a mudança das famílias (Foto: Kirsten Erikson)
Caso infraestruturas forem feitas facilitarão a mudança das famílias (Foto: Kirsten Erikson)
Conforme a pesquisa, comunidade da Barra do São Lourenço está no local por pelo menos cem anos (Foto: Kirsten Erikson)
Conforme a pesquisa, comunidade da Barra do São Lourenço está no local por pelo menos cem anos (Foto: Kirsten Erikson)

De acordo com a SPU, alternativas de áreas na mesma região foram buscadas para a instalação da comunidade, mas que pudesse ter infraestrutura de apoio tais como casa sobre palafitas, escola e sistema de abastecimento d’água e saneamento básico. O local escolhido foi o Aterro do Binega que, segundo a comunidade "é o aterro mais próximo da atual área em que vivem e dentro do território da comunidade".

“A Ecoa é uma organização não governamental que há anos trabalha para a melhoria da qualidade de vida dessas comunidades e junto a instituicoes publicas, de pesquisa e privadas, vem oferecendo ajuda para a garantia dos direitos dessa população, para seu pleno desenvolvimento”, ressalta Kirsten.

A mestranda ficou quatro dias na Barra do São Lourenço e entrevistou a população local. Percebeu que algumas famílias da comunidade ficarão e outras mudarão na barra.

A comunidade da Barra do São Lourenço possui uma escola que hoje atende entre 40 e 50 alunos. Contudo, quando criada por volta do ano de 2004 atendeu 120. Em 2006, foi criada uma associação de moradores.

Na Barra do São Lourenço os moradores não contam com serviços básicos como saneamento e o sustento se dá por meio da pesca e da catação de iscas vivas (Foto: Divulgação Ecoa)
Na Barra do São Lourenço os moradores não contam com serviços básicos como saneamento e o sustento se dá por meio da pesca e da catação de iscas vivas (Foto: Divulgação Ecoa)

Mestrado – O Erasmus Mundus Desenvolvimento Territorial Sustentável gerencia o orçamento e estabelece prioridades, metas e critérios para o programa. Além disso, orienta e fiscaliza a aplicação geral, acompanhamento e avaliação do programa a nível europeu.

Surgiu de um consórcio de três universidades europeias (Universidade Pantheon-Sorbonne, França; Universidade de Estudos Pádua, Itália, e Universidade de Leuven, na Bélgica) com a UCDB. O programa, de acordo com a Universidade Católica Dom Bosco, tem duração de dois anos.

Por meio do mestrado são formados especialistas na área de desenvolvimento territorial e sustentável e capacitados profissionais a ajudar organizações para elaboração de políticas de desenvolvimento para a gestão econômica, social, ambiental, internacional e intercultural nas comunidades locais, empresas e organizações da sociedade civil.

Kirsten fica mais duas semanas em Campo Grande e defenderá a dissertação em setembro ou dezembro. Sobre Mato Grosso do Sul, a mestranda esclarece que é um estado de fácil adaptação e que o tema precisa ser mais estudado pelas universidades locais.

* Com informações da ONG Ecoa e da SPU

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