Capitão no centro do xadrez, Renan Contar se impõe como peça decisiva em 2026
Com menor rejeição e voto ideológico próprio, ele quer vaga no Senado desafiando a engenharia de Azambuja

O ex-deputado e ex-candidato derrotado a governador, Renan Contar, Capitão Contar (PRTB), não tem mais o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, que entregou o comando do PL ao ex-governador Reinaldo Azambuja, nem conta com a estrutura partidária que sustenta os políticos tradicionais. Ainda assim, se transformou em um fenômeno eleitoral, dono de capital político que as pesquisas apontam como sólido e competitivo para disputar qualquer cargo em jogo nas eleições do ano que vem em Mato Grosso do Sul.
RESUMO
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Capitão Renan Contar, apesar de não ter mais o apoio de Jair Bolsonaro e do PL, surge como um forte candidato para as eleições de 2026 em Mato Grosso do Sul. Pesquisas o apontam como um fenômeno eleitoral com capital político sólido e baixa rejeição, despontando como um nome competitivo para Senado ou Câmara dos Deputados. Sua atuação independente e identificação com o eleitorado de direita o tornam um ativo valioso no cenário político estadual. Contar é cortejado por diferentes grupos políticos, incluindo a senadora Tereza Cristina, que o convidou para concorrer a deputado federal pela União Progressista. No entanto, o Capitão mantém o foco na disputa pelo Senado, vislumbrando a possibilidade de influenciar decisões importantes, como impeachment de ministros do STF. A falta de estrutura partidária e apoio formal são desafios, mas Contar acredita na maturidade do eleitorado sul-mato-grossense e minimiza a importância do apoio de Bolsonaro. Seu nome figura como peça-chave no xadrez político estadual, com potencial para influenciar alianças e definir os rumos das eleições.
“Ele é o cara!”, disse ao Campo Grande News o diretor do Ipems (Instituto de Pesquisas de Mato Grosso do Sul), Lauredi Borges Sandim, ao apontar o líder da extrema direita estadual como o maior ativo político da atualidade, resiliente e um dos raros candidatos a surfar na onda da direita sem precisar de padrinhos ou estruturas tradicionais.
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Sandim, conhecido entre os políticos pela precisão nas projeções, detalha que Contar aparece tecnicamente empatado na disputa para o Senado, mas se destaca na última pesquisa por ter a menor rejeição entre os concorrentes, 43,92%, abaixo de Azambuja (45,59%) e distante do maior adversário, Nelsinho Trad (49,55%).
A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), eleita com apoio decisivo de Bolsonaro, aparece em último entre os oito candidatos, com 81,75% de rejeição, índice altamente corrosivo em qualquer disputa. “Ele não depende de caronas políticas, como Reinaldo ou Nelsinho, o que evidencia um voto mais ideológico e pessoal. É um fenômeno eleitoral, com potencial para ser a grande surpresa da eleição, devido a essa combinação de menor rejeição, identificação com o eleitor de direita e perfil próprio”, avalia Sandim.
O passe mais cobiçado da direita sul-mato-grossense
Assediado pelos adversários de 2022, quando chegou ao segundo turno na dianteira, Contar é visto como o passe mais cobiçado, ou o fiel da balança, que tanto pode facilitar quanto atrapalhar a estratégia de Reinaldo Azambuja. Prestes a assumir o comando do PL (Partido Liberal) no Estado, o ex-governador trabalha na consolidação de uma frente para garantir uma reeleição tranquila do atual mandatário, Eduardo Riedel, e sua própria eleição para o Senado. Tudo o que ele não quer, segundo políticos próximos, é ver a direita rachar de novo, como em 2022.
Franco-atirador, o capitão já está sendo cortejado ostensivamente pelas alas que gravitam em torno de Azambuja, que delegaram à senadora Tereza Cristina, cacique da nova federação União Progressista (UP), a missão de convencê-lo a disputar uma vaga de deputado federal. A pesquisa do Ipems dá a ele 19,99% da preferência para a Câmara dos Deputados, longe da segunda colocada, a ex-deputada Rose Modesto (UP), com 8,40%. E a léguas do oitavo, o deputado Vander Loubet, que tem 3,09%.
Tereza argumentou que a estrutura do Progressistas e da federação pode eleger até três federais — uma das vagas ela garantiria ao capitão. Contar, no entanto, recusou. Ele tem outros planos e pode embaralhar o jogo. “Vejo que temos espaço para chegar lá no Senado. Não podemos eleger gente com rabo preso que não consegue se posicionar contra o sistema. Estou pronto para atender o chamado caso o PL ou o Progressistas lancem um segundo nome para o Senado”, disse ele ao Campo Grande News.
Em uma das pesquisas do Ipems ele chega a liderar a disputa pelo Senado no recorte que inclui os dois cenários estimulados na disputa pelo primeiro voto, mas no cruzamento dos demais dados do levantamento, incluindo as duas vagas e todas as variantes, está em terceiro, empatado tecnicamente com Azambuja e Nelsinho Trad.
Picado pela mosca azul da política e sob influência da mulher, a publicitária e empresária Iara Diniz, Contar vai mesmo insistir em disputar uma das duas cadeiras do Senado. Ele avalia também que o Senado será o grande tambor da política dos próximos anos por ter a prerrogativa de abrir impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, uma aposta da extrema direita.

Sem o apoio de Bolsonaro
Filiado atualmente ao inexpressivo PRTB, ele reconhece que a falta de estrutura partidária, tempo de TV e apoio formal são desafios, mas insiste que o eleitor de Mato Grosso do Sul, o mais conservador do país, cerca de 55% ideologicamente à direita, já distingue candidatos de legendas. “O apoio do Bolsonaro é importante, mas não é determinante. O eleitor está muito mais amadurecido e não vota apenas porque alguém pediu”, afirmou, relativizando a ausência do aval direto do ex-presidente. Ele lembra que, na eleição do ano passado para a Prefeitura de Campo Grande, o apoio de Bolsonaro ao deputado Beto Pereira (PSDB) foi inócuo.
Esse impasse levou o próprio Bolsonaro a avisar a dirigentes sul-mato-grossenses, pouco antes de ter a prisão decretada, que pedirá votos para Reinaldo Azambuja, como primeiro voto, e no segundo para a vice-prefeita de Dourados, Gianni Nogueira (PL), descartando novas manifestações a favor de Contar, como em 2022.
Nos bastidores, Bolsonaro ainda teria criticado a influência de Iara sobre o marido, algo que, na sua visão conservadora, é inadmissível. O capitão, por sua vez, rebate: “Minha esposa é meu alicerce. Foi ela quem previu em 2018 que eu seria o deputado mais votado da história do MS. Ela tem leitura de cenário e me ajuda a manter a coerência.” Iara se especializou marketing político e tem experiência em redes sociais..
O governador Eduardo Riedel, vice-presidente nacional da federação UP, confirmou ao Campo Grande News que mantém negociações com o capitão: “O Contar foi um adversário na eleição. Eu já conversei com ele algumas vezes desde então. Ele é um quadro com capital político importante, tem vontade de ajudar, de contribuir. Depois da eleição acabou se retraindo, mas tem potencial e intenção de participar desse processo. Então vamos continuar a conversação”.
Um acordo com Contar é justamente o que interessa a Reinaldo Azambuja, mas isso exigiria colocar uma pedra sobre as divergências. Como deputado estadual, o capitão chegou a pedir o impeachment do ex-governador.
Do outro lado, o próprio Contar deixa claro que está disposto a conversar, mas sempre dentro de um alinhamento ideológico. “Eu estarei no grupo que vai combater o PT em 2026. Estou aberto a coligações ou até mesmo a migrar de partido, desde que o objetivo seja esse: bater à esquerda e apoiar um candidato de centro-direita à presidência. O Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo), por exemplo, é um ótimo nome.”
O jogo eleitoral em Mato Grosso do Sul ainda reserva outro movimento paralelo, articulado pelo PT. Se convencer Simone Tebet a disputar pelo Estado e com a chegada do ex-deputado federal Fábio Trad ao partido, o deputado Vander Loubet emplacaria sua estratégia mais ousada, mesmo que o preço seja provocar uma cisão entre os Trad: se a ministra aceitar concorrer ao Senado, Vander sairia como primeiro suplente. A equação ideal para ele seria a vitória de Simone em uma das duas vagas, a reeleição de Lula e o consequente retorno da ministra ao governo, abrindo caminho para que o suplente assuma como senador da República.
Para viabilizar o plano, o PT precisaria ampliar sua base, algo em torno de 10% do eleitorado de legenda (pouco menos que o PL no Estado), fazendo Fábio Trad candidato a governador. Hoje, diante da frente ampla montada por Reinaldo Azambuja, a tarefa parece quase impossível, mas, no cálculo petista, não inteiramente descartada, dependendo da conjuntura nacional e internacional.
A eventual aceitação de Fábio, contudo, abriria espaço para atritos no acordo de Azambuja com o irmão do ex-deputado, o senador Nelsinho Trad, que aposta suas fichas na dobradinha com o grupo governista. Nesse cenário, Azambuja e Riedel buscariam um plano B para a segunda vaga de senador e poderiam até fechar acordo com o Capitão Contar.
Tudo o que Azambuja não quer na eleição para governador é uma candidatura independente da direita fora do seu controle. Com o rompimento anunciado do PT com o governo, as forças políticas se dividiriam em três vias e, diante de cenários político e econômico incertos, poderiam ameaçar a estabilidade do grupo, que em 2026 completa contínuos 12 anos no poder. Contar é a peça mais importante nesse xadrez.