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Reportagens Especiais

De símbolo de Campo Grande, hotel ficou invisível para as novas gerações

Inaugurado em 1971, estabelecimento que já foi o mais chique da cidade está fechado desde 2001

Paulo Nonato de Souza | 26/08/2017 07:27
No coração de Campo Grande, a imponência do prédio do hotel construído na década de 1960 (Foto: João Paulo Gonçalves)
No coração de Campo Grande, a imponência do prédio do hotel construído na década de 1960 (Foto: João Paulo Gonçalves)

Campo Grande comemora aniversário de 118 anos neste sábado, 26, com um de seus símbolos de desenvolvimento, a partir da década de 1960, esquecido e em completa decadência. É o Hotel Campo Grande, que foi referência arquitetônica e melhor lugar para se hospedar por aqui a partir de 1971, ano da sua inauguração, e com o fechamento em 2001 virou uma espécie de peça de museu.

Localizado no coração de Campo Grande, na Rua 13 de Maio, quase esquina com a Cândido Mariano Rondon, o imponente prédio de 13 andares, 82 apartamentos e quatro suítes, parada quase obrigatória de grandes clubes de futebol, artistas e bandas famosas, agora abriga, em seu térreo, lojas de produtos populares.

“A partir do térreo, está tudo fechado. A gente nem percebe que isso aqui já foi um hotel”, diz a vendedora de uma das lojas que pediu para não ser identificada. Por conta das lojinhas, a fachada foi toda alterada em relação a imponência de quando o hotel era o mais luxuoso de Campo Grande. Apenas os degraus de cimento que antecediam à gigantesca porta de vidro foram preservados.

Lojas de quinquilharias e bugigangas instaladas onde era a recepção do Hotel Campo Grande (Foto: João Paulo Gonçalves)
Lojas de quinquilharias e bugigangas instaladas onde era a recepção do Hotel Campo Grande (Foto: João Paulo Gonçalves)

Esquecido

Apesar de toda a grandeza arquitetônica de uma obra construída a base de cimento à vista, o prédio parece ter ficado invisível para as novas gerações. “Já ouvi falar, mas não sei onde fica”, reagiu o motorista de Uber, Luiz Fernando, de 25 anos, ao ser questionado se sabia onde ficava o Hotel Campo Grande, no momento em que deixava um passageiro a poucos metros da garagem do antigo hotel. Pudera, quando o hotel encerrou as atividades ele só tinha 9 anos de idade.

A mesma reação teve Willem Maciel, de 20 anos, embora trabalhe em uma loja de conserto de relógios bem em frente ao prédio do hotel. “Acho que é esse aí, mas não tenho certeza”, respondeu. A pergunta causou espanto ainda maior em Fabiana Rodrigues Soares, de 18 anos.

“Hotel Campo Grande? Sei não moço. Acho que não tem hotel com esse nome em Campo Grande”, afirmou ela, enquanto olhava alguns produtos em uma das lojas do térreo do antigo hotel. Quando informada de que estava exatamente na área de recepção, ela reagiu perplexa: “Nossa! Isso era um hotel?”

Construído pela tradicional família Coelho, que na época era proprietária do extinto Banco Financial, o Hotel Campo Grande marcou um período em que a cidade apresentava índices maiores de crescimento populacional e econômico em relação a Cuiabá, a capital do Mato Grosso. De tão ambicioso, o projeto de arquitetura foi encomendado em São Paulo, algo que hoje seria equivalente a fazer a mesma encomenda de arquitetos dos Estados Unidos ou da Europa para uma obra em Mato Grosso do Sul.

“Era um hotel luxuoso, mesmo para os padrões de hoje. Eu evitava até passar na frente”, declarou Carlos Henrique Fernandes, de 61 anos, sem demonstrar saudade do tempo em que o hotel era uma marca importante em Campo Grande. Mas tem quem conheceu o Hotel Campo Grande e sente o impacto econômico e sentimental do seu fechamento.

É o caso de Moacir Goery, de 56 anos, proprietário de uma banca de jornais e revistas na esquina da 13 de Maio com Dom Aquino há mais de 30 anos. “Conheci bem o hotel. Era o melhor da cidade, não existia outro igual, recebia grandes artistas, times de futebol e isso era bom para o comércio da região central de Campo Grande”, comentou ele.

“Cheguei só até a recepção. Eu era motorista de uma locadora e vinha sempre trazer ou buscar carros no hotel”, lembrou Jorge Luiz, de 56 anos. Já Alfeu Fernandes, de 50 anos, falou de quando buscava artistas no hotel para se apresentar em shows em Campo Grande. “Tive a chance de ver de perto a Roberta Miranda, o Roberto Carlos, muitos grandes artistas”, declarou ele, saudoso dos bons tempos proporcionados pelo hotel.

Inaugurado em 1971, o hotel de 83 apartamentos que recebeu grandes times de futebol e artistas famosos, fechou as portas em 2001 (Foto: João Paulo Gonçalves)
Inaugurado em 1971, o hotel de 83 apartamentos que recebeu grandes times de futebol e artistas famosos, fechou as portas em 2001 (Foto: João Paulo Gonçalves)
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