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ABRIL, QUARTA  17    CAMPO GRANDE 21º

Conversa de Arquiteto

Desde a Pensão Bentinho, conheça a história dos hotéis em Campo Grande

Ângelo Arruda | 27/07/2016 06:25
Pensão Bentinho, tinha localização privilegiada, em frente a Praça Costa Marques, atual Praça dos Imigrantes.
Pensão Bentinho, tinha localização privilegiada, em frente a Praça Costa Marques, atual Praça dos Imigrantes.

A riqueza econômica de uma cidade pode ser traduzida por uma série de fatores: circulação de dinheiro, quantidade de impostos arrecadados, número de veículos circulantes, de empresas, de negócios, enfim. Mas há um quesito que é pouco estudado e tem a ver com o desenvolvimento econômico de uma cidade: trata-se da quantidade e qualidade da rede hoteleira necessária para acompanhar o ritmo de crescimento.

Desde antes da chegada da estrada de ferro da Noroeste em Campo Grande, em 1914, que Campo Grande veio despontando, ainda Estado de Mato Grosso uno, como um importante centro de negócios, principalmente com gado.

Nessa esteira econômica de grande potencial, a cidade precisava receber e hospedar pessoas, negociantes, visitantes e com isso, imprimiu-se uma arquitetura construtiva com a finalidade de atender esse seu perfil. Já no início de 1900, havia pensões e hospedarias que se localizavam na Rua 26 de Agosto, a primeira rua da cidade. A pioneira foi a de João Alves, depois a Pensão Cristóvão, de D. Nita, e tinha também a Pensão Mineira de A. Marinho, segundo Paulo Coelho Machado.

No entanto, a mais famosa de todas era a Pensão Bentinho. De localização privilegiada – defronte a Praça Costa Marques, atual Praça dos Imigrantes, na esquina da Rua Rui Barbosa com a Rua Barão de Melgaço, a pensão de propriedade de Bento Gomes Benjamin (1882-1929) foi instalada em 1912 depois de passar por uma reforma que lhe garantiu 14 quartos com corredor central e um grande salão. Não havia banheiros no prédio; os banhos eram de cuia, no quarto ou ao ar livre no limpo Córrego Prosa. A Pensão Bentinho era preferida pelos boiadeiros, fazendeiros, viajantes, mascates e homens de negócio.

Hotel Democrata tinha 12 quartos e um amplo espaço frontal onde se proseava e até assistia filmes mudos.
Hotel Democrata tinha 12 quartos e um amplo espaço frontal onde se proseava e até assistia filmes mudos.

No mesmo ano de 1912 o português Manoel Augusto de Carvalho, genro de Bernardo F. Baís entregou sua imensa casa de pau-a-pique, ao lado da Igreja de Santo Antônio, na Rua do Padre, para que Francisco Torrezão Fernandes operasse o Hotel Democrata, – naqueles anos pouco mais de 500 pessoas moravam na vila. Era um edifício de dois andares, o primeiro da vila, com 12 quartos e um amplo espaço frontal onde se proseava e até assistia filmes mudos.

Foi também em 1912 que Júlio Maluf construiu um prédio na esquina da Av. Afonso Pena com a Rua 13 de Maio e deu início ao Hotel Globo.

Em 1915, adquirido pelos irmãos Suarez, foi totalmente reformado pelo construtor italiano Emílio de Rose e ganhou novos elementos em sua fachada: “o prédio tinha duas águias na esquina, à semelhança do Palácio do Catete e diversos globos no seu exterior e interior; era o mais frequentado da vila” diz Paulo Machado em seu livro A Grande Avenida.

Hotel Globo, na esquina da Av. Afonso Pena com a Rua 13 de Maio.
Hotel Globo, na esquina da Av. Afonso Pena com a Rua 13 de Maio.

Outros hotéis surgiram como o São Paulo, na Rua 14 de Julho além do Hotel Colombo, de Emilio Giugni, que em 1919 funciona na Rua 14 e nos anos 30 se transferiu para a Rua Dom Aquino, obra da empresa do construtor Manoel Secco Thomé.

O Colombo tinha dois andares, sacada no superior e um enorme brasão na parte frontal mais alta da fachada. Hospedou ilustres pessoas, por conta de sua localização.

Em 1915 era a vez de Adolfo Stefano Tognini – o Carrara, construir para João Vidal a Casa Paulista, na esquina da Rua 13 de Maio com a Rua XV de Novembro, defronte a Praça Ari Coelho, logo depois transformada no Hotel Central, com seus belos ornamentos clássicos na fachada frontal.

Hotel Colombo, de Emilio Giugni.
Hotel Colombo, de Emilio Giugni.

Na década de 30, com o gigantesco crescimento de Campo Grande, provocado pela exportação de carnes para abastecer mercados em guerra, diversos estabelecimentos hoteleiros foram construídos ou reformados e adaptados.

É o caso do Rio Hotel, Pensão Pimentel, Hotel Americano, do Copacabana e do Inca Hotel, na Rua Dom Aquino, de Izabel Saad.

O Rio Hotel, demolido em 1993, ficava na Rua Cândido Mariano e foi reformado pelos proprietários J. Batista Fernandes & Cia em 1938, a partir do projeto do arquiteto alemão Frederico Urlass; novos salões de reunião e amplos quartos foram instalados; a famosa Pensão Pimentel, de Nominando Pimentel, funcionou na casa de Bernardo F. Baís, de 1938 a 1954, na Av. Afonso Pena, ao lado do trilho da Noroeste; o Hotel Americano, construído por José Abrão para funcionar diversos escritórios, foi alugado, assim que ficou pronto por Américo Namour e desde 1939 funciona o mais original edifício em estilo Art Déco de Campo Grande, com seus 35 quartos.

Hotel Americano, construído por José Abrão.
Hotel Americano, construído por José Abrão.

Com a construção da estação ferroviária, era necessário ocupar os arredores com estabelecimentos hoteleiros e assim foram construídos o Hotel Barros, de Manoel Barros e depois de Gabriel Cardoso Ramalho, os atuais Copacabana e Esperança, uma mistura de estilo Art Déco e Ecletismo.

Em 1954 era inaugurado o mais moderno de todos os hotéis do seu tempo: o Gaspar, ao lado da estação ferroviária e da antiga parada rodoviária da cidade. Projetado e construído pelo engenheiro Joaquim Teodoro de Faria, usando as mais modernas técnicas construtivas, o Gaspar era o mais imponente dos hotéis da cidade, com seus cinco andares, varanda arredondada na esquina da Av. Mato Grosso com a Calógeras.

Nesse mesmo ano, inaugurava-se o mais moderno de todos os prédios da cidade, o Colégio Estadual Campo-Grandense e o ano de 1954 entram para a história da nossa arquitetura. Sem nenhum ornamento na fachada, o Gaspar anunciava a chegada da modernidade. No final dos anos cinquenta, Campo Grande já era maior que Cuiabá, em quantidade de pessoas residindo na cidade, atraindo negócios e atividades econômicas que necessitavam de estabelecimentos hoteleiros modernos.

Em 1954 era inaugurado o mais moderno de todos os hotéis do seu tempo: o Gaspar.
Em 1954 era inaugurado o mais moderno de todos os hotéis do seu tempo: o Gaspar.
Hotel Campo Grande na Rua 13 de Maio.
Hotel Campo Grande na Rua 13 de Maio.

Foi assim que a família Coelho, proprietária do Banco Financial de Mato Grosso Ltda., resolve iniciar a construção do mais importante hotel da cidade, o Campo Grande. De São Paulo veio o projeto de arquitetura, do escritório de Botti&Rubin e convidavam o engenheiro Walmor Rocha Soares para a construção.

Nasceu o belo Hotel Campo Grande na Rua 13 de Maio, em terreno quase quadrado, com subsolo para garage, andar térreo para a Agência do Banco e acesso do Hotel e mais 13 andares com apartamentos de luxo. O hall de entrada, em pé-direito alto, todo em concreto aparente, um belo jardim interno e uma cozinha internacional constituía o charme do hotel.

O Hotel Campo Grande inaugurado em 1966, era um hotel arrojado para sua época, devido à sua infraestrutura. Foi por muito tempo o maior hotel da cidade, servindo de ponto referência para os próximos hotéis de grande porte.

A área construída do Hotel Campo Grande era de 8.156,10 m2. O hotel dispunha de 82 apartamentos e quatro suítes. Segundo o engenheiro Valmor Rocha Soares o que se gastou, na época, dava para comprar 50 mil garrotes. Ou seja, algo em torno de 60 milhões de reais em preços de 2016. Muita grana.

Planta baixa dos apartamentos do Hotel Campo Grande.
Planta baixa dos apartamentos do Hotel Campo Grande.
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