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Quinta no ranking de menores ao volante, Capital aposta na educação

"Dirijo carro, piloto moto", confessa menino de 15 anos. De 2011 a 2013, 153 “condutores” entre 11 e 17 anos se envolveram em acidentes.

Aline dos Santos | 05/07/2013 09:05
Tragédia: adolescente de 15 anos morreu em capotagem. Motorista do carro tinha a mesma idade. (Foto: Fernando da Mata/Arquivo)
Tragédia: adolescente de 15 anos morreu em capotagem. Motorista do carro tinha a mesma idade. (Foto: Fernando da Mata/Arquivo)

Todo mundo sabe de histórias de adolescentes que dirigem. Quem não tem um exemplo na família, conhece caso de amigo próximo ou tem conhecimento pela imprensa? Ainda assim, assusta quando a realidade é exposta em números.

Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que Campo Grande é a quinta capital do País no ranking de garotos entre 13 e 15 anos que dirigem. Para mudar esse dado, escolas públicas têm projeto voltado para educação no trânsito e o Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito) dá ‘curso’ como forma de punição e orientação aos pais dos infratores.

A advogada Michele Menegat Nunes, de 35 anos, conhece o lado trágico dessa conduta, misto de irresponsabilidade e vontade de ser “grande”. Já são quase dois anos de convivência com uma lembrança inconsolável: ela perdeu o filho de 15 anos em um acidente de carro. O veículo era dirigido por um garoto da mesma idade.

“Se a pena fosse devidamente aplicada, muitos pais não deixariam os filhos dirigirem um carro”, enfatiza a mãe.
A tragédia veio no dia 19 de novembro de 2011, um sábado. O filho de Michele havia feito uma prova na escola e depois, junto com amigos do colégio, foi para uma festa na casa de um deles.

A bebida acabou e José Eduardo Menegat Tavares Manzione entrou no Honda City dirigido por outro adolescente. No automóvel havia mais cinco garotos. Quando eles retornavam da conveniência onde compraram cerveja, o condutor perdeu o controle da direção do veículo ao fazer uma rotatória.

O carro bateu em uma árvore e capotou várias vezes. José Eduardo morreu no local e os demais ficaram feridos. Na denúncia feita à Justiça, o advogado da família da vítima argumentou que o adolescente conduziu o veículo a velocidades extremas, chegando a atingir 200km/h.

O motorista do automóvel tinha 15 anos quando o acidente aconteceu. Mesma idade de um estudante de uma escola pública de Campo Grande que confessa: “Dirijo carro, piloto moto. Meus pais não deixam eu pegar [veículo deles], por isso pego dos meus amigos”, conta.

Os dois meninos são exemplos do resultado da Pense (Pesquisa Nacional do Escolar), feita ano passado com 1.953 estudantes do 9º ano de escolas públicas e privadas da Capital.O resultado mostra que 28% deles responderam que dirigem veículos. É o maior índice da região Centro-Oeste e está acima também da média do Brasil, que é de 27,1%. 

Na sala de aula, o estímulo à consciência – A Secretaria de Estado de Educação em parceria com o Detran implantou em escolas estaduais de Campo Grande e de mais 27 municípios o Programa Trânsito na Escola: Formação do Jovem Condutor.

Desde 2011, o programa leva a estudantes de 14 a 17 anos de 82 escolas, em aulas em período extraclasse, orientações sobre trânsito seguro. Atualmente, 3.776 alunos participam do curso ministrado por instrutores com nível superior custeados pelo Detran.

Em duas horas aulas semanais, eles aprendem noções de direção defensiva, primeiros socorros, de proteção ao meio ambiente, de funcionamento de veículos e convívio social no trânsito.

Para os flagrados, a Justiça - Menores de 18 anos flagrados conduzindo veículos – seja em fiscalização ou por envolvimento em acidente – são encaminhados para o Premi Junior (Programa de Reabilitação do Menor Infrator), realizado pelo Detran-MS.

A cada turma, um grupo de adolescentes, encaminhado por promotor ou juiz, é provocado a refletir sobre as consequências de assumir o comando de um volante ou o guidão de uma motocicleta. Alem de legislação de trânsito, eles recebem atendimento psicológico e visitam o setor de ortopedia da Santa Casa de Campo Grande, ocupada majoritariamente por vítimas de acidentes de trânsito.

“Para saber o que causa um menor na direção e as consequências da atitude. É um ato ilegal perante o Estatuto da Criança e Adolescente e a legislação”, afirma a diretora de Habilitação e Educação de Trânsito do Detran, Elizabeth Félix. Nas aulas, os adolescentes afirmam que dirigem melhor que os pais ou que, como podem votar, também podem dirigir.

Mas, nas ruas, os números expressam outra realidade. Em 2011, 16 “condutores” com idade até 11 anos se envolveram em acidente. Em 2012, foram 14. Neste ano, já são cinco. Segundo estatística do Detran, entre 2011 e 2013, 153 “condutores” entre 11 e 17 anos se envolveram em acidente.

“É a ansiedade do amadurecimento. O carro para o menor está ligado à autoestima, autoafirmação, fazer exibicionismo para o grupo. Ele pode, ele sabe dirigir”, explica a diretora. Nessa idade, o dirigir vem acompanhado da alta velocidade e disputa de racha. Basta o roncar do motor ou o cantar do pneu para a rua virar pista de corrida.

Para os pais, punição - O programa exige a participação dos pais. Pois, muitas vezes, quem deveria educar acaba sendo mau exemplo. Em nome de pequenas comodidades, eles permitem que os filhos estacionem o carro na garagem, vá a um supermercado no bairro ou leve o irmão mais novo para a escola. A resposta padrão de que não sabiam, por vezes cai por terra no relato dos próprios adolescentes.

“O pai falar que não sabia não tem fundamento legal. O pai é responsável pelo menor, independente dele saber ou não”, salienta Elizabeth Félix.

Os adultos não escapam da responsabilização. De acordo com a diretora, a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) é suspensa, o veiculo apreendido e o proprietário recebe multas. O juiz pode determinar que o participante, que já tenha completado 18 anos, só faça processo para obter CNH após a conclusão do programa.

Em média, cada turma fica um mês no Premi Junior. Mas caso o grupo de mostre resistente à mudança de atitude, os ensinamentos podem levar mais tempo. A preocupação é evitar a reincidência, ou seja, que os menores de idade voltem a conduzir veículos pelas ruas. O programa é desenvolvido em parceria com a UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).

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