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A cidade do medo

Por Laryssa Caetano (*) | 02/09/2016 16:18

Em 2008, uma cidade foi fechada por ladrões de banco. Primeiro, trancaram os policiais na delegacia e, depois, saíram de banco em banco, ameaçando funcionários, fazendo reféns e exigindo a abertura do cofre.

Era ano político e um dos candidatos tinha marcado uma caminhada pela avenida principal e quando ouviu os "picocos" até animou, pois achou que eram os fogos acompanhando a multidão. Quando os partidários viram homens encapuzados e com armamento pesado, atirando para todos os lados, saindo e entrando nas agências bancárias, foi um deus nos acuda.

Teve gente que colocou, em um único carro, todos os funcionários de uma agência que ainda não havia sido abordada. Outros, fugiram dos tiros. Mas o que mais impressiona nos relatos foi saber que, uma cidade com 23 mil habitantes, a maioria assumiu para si a responsabilidade de se defender contra forasteiros que vieram para roubá-los. De carro, de moto, a população desarmada, encurralou bandidos armados.

Já sem munição, sem carro e com uma multidão enfurecida no encalço, os bandidos - até então, valentes - não tiveram outra alternativa senão fugir. Uns dizem que os bandidos foram localizados e presos pela polícia dias depois, outros, que a quadrilha fugiu e não foi encontrada.O interessante é que há o orgulho nos olhos de quem conta, batem no peito que ali existe gente com bravura que defende a terra que vive. Realmente, há momentos em que o brio fala mais alto que o medo.

Mas passados oito anos, esta mesma cidade valente finalmente se rendeu ao medo. Comerciantes, donas-de-casa, funcionários públicos, todos têm medo daquele que não se deve falar, como os personagens de Harry Potter tinham medo do LDV (Lord Voldemort).

O que eu não entendo é que, hoje as armas são mais sutis que as metralhadoras, mas são mais eficazes e conseguem silenciar uma cidade inteira. São trocas de favores e cargos perdidos. A teia de dependência somente fortalece a rede de poder e essa retroalimentação constante impede as mudanças. Se os políticos existem para servir à sociedade, eu questiono porque todos se calam quando o jogo se inverte.

Vivemos tempos sombrios na política brasileira, mas quando os pequenos se posicionam firmemente contra o poderoso, ele não é ninguém sem aliados. É preciso que esta cidade volte aos tempos áureos da sua coragem perdida, que se lembre da bravura desta geração e que se motive para lutar, de cabeça erguida, contra o mal. Armas não intimidaram esta cidade, e qualquer bandido que tentar se meter a valente precisa saber que está em terra de gente honesta e que vai se defender até o fim. O tempo dos LDVs já passou, por isso, homens e mulheres, avante!

Qualquer semelhança com determinado município de Mato Grosso do Sul não é mera coincidência, é um fato.

(*) Laryssa Caetano é jornalista.

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