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A fome dos tigres

Por Pedro Pedrossian Neto (*) | 22/08/2014 14:37

Na década de 1980, quando o mundo ainda se encontrava dividido pelas trincheiras da guerra-fria, despontaram no sudeste asiático quatro economias de tamanha pujança e agressividade para conquistar mercados externos que logo foram batizadas de “tigres asiáticos”. Rompendo a letargia, Hong Kong, Coréia do Sul, Singapura e Taiwan, adotaram reformas econômicas que, como por milagre, as transformaram nas novas estrelas do capitalismo nascente daquela região.

Mas os milagres, no capitalismo, infelizmente não caem do céu. Eles são fruto de políticas mundanas, pragmáticas, que eliminam as amarras para quem investe, trabalha e produz. Retirar impostos, diminuir a carga tributária, é a primeira tarefa de uma política industrial bem orientada. Capacitar a força de trabalho, criar “capital humano”, estimular a tecnologia e a introdução do progresso técnico no “chão da fábrica”, a segunda. Isso tudo sem nunca esquecer de abrir mercados externos, criar regras estáveis e previsíveis para o jogo econômico e consolidar, de vez, a “meritocracia”.

Há quase quarenta anos, lá pelos idos de 1967 até 1973, o Brasil também viveu seu “milagre”. Por conta de reformas econômicas adequadas às necessidades da época, em apenas 7 anos o PIB brasileiro cresceu incríveis 88%, isto é, cerca de 11% ao ano. Hoje, sem esconder uma certa nostalgia, comparamos o magro crescimento do governo Dilma de 1,8% ao ano e ficamos a sonhar com medidas que pudessem despertar – como ensinava o maior economista do século passado, Lord Keynes – os “espíritos animais” na nossa economia. Sem elas, cada vez mais longe dos tigres, nos afeiçoamos ao andar desajeitado das tartarugas...

Felizmente, entretanto, existem vários “brasis” dentro do imenso Brasil. Em 2001, almejando um futuro no qual a indústria tivesse destaque, o Mato Grosso do Sul criou um programa de incentivos fiscais – o chamado MS empreendedor –, que reduz a patamares muito baixos o ICMS devido pelas empresas deste setor. De uma só vez, o Estado permitiu a desoneração nas vendas de manufaturados, na aquisição de máquinas e equipamentos para fazer investimentos, bem como na compra de matérias-primas e insumos. Considerando que a carga de impostos no Brasil só fez crescer nas duas últimas décadas, trata-se de um feito e tanto.

De fato, há realmente muito o que se fazer para que tenhamos uma política industrial completa, mas seria injusto negar que a que se implementou até agora tenha surtido enorme efeito prático: de 2007 para cá geramos quase três empregos por hora; além disso, a indústria saltou de 14% para 22% do PIB estadual, sendo hoje quase duas vezes maior do que o da tradicional agropecuária. Liderado pela indústria, o PIB de MS cresceu 62% desde 2007, contra apenas 21% do resto do Brasil – isto é, quase três vezes mais.

Dos 79 municípios de MS, nada menos do que 51 receberam empreendimentos industriais, totalizando R$ 25 bilhões investidos. Vimos o nascimento de Três Lagoas – até então mero entreposto ferroviário – numa das mais pujantes cidades do Brasil, com indústrias de celulose e papel, adubos nitrogenados, siderúrgica e metalúrgica. Campo Grande fervilhou em novos investimentos, tornando-se lar até mesmo de empresas de alta tecnologia – simbolizadas nas fábricas de tablets, smartphones e placas solares, que hoje estão em construção.

Maracaju abrigará uma gigantesca indústria chinesa de processamento de milho; a fronteiriça cidade de Bela Vista recebe uma fábrica de cimento de grandes proporções; Cassilândia caminha para tornar-se o polo nacional da borracha; Chapadão do Sul e outras quatro cidades do norte terão investimentos expressivos de usinas de etanol de milho e de ração animal; Água Clara e Ribas do Rio Pardo recebem indústrias de compensados de madeira e de celulose. Ao todo, são quase R$ 40 bilhões em novos investimentos anunciados no MS – o que, para um Estado de 2,4 milhões de pessoas, representa o prenúncio de uma revolução industrial.

O Estado de Mato Grosso do Sul tem se esforçado muito, em sua metamorfose, para tornar-se o tigre que ele almeja ser no cerrado brasileiro. Na selva do desenvolvimento, tantos são os perigos que sobrevivem apenas os animais que, com imensa determinação, usam a fome como instrumento para seguir adiante em sua caçada. Na “batida” de sua presa, na caça aos seus objetivos estratégicos, o MS precisa olhar o futuro com coragem e inovação, mas guardar o instinto que lhe fez chegar até aqui.

(*) Pedro Pedrossian Neto é economista, mestre e professor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), secretário-adjunto estadual de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo e conselheiro do SEBRAE-MS.

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