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A profecia

Por Manoel Martins de Almeida (*) | 19/04/2018 13:15

Em Corumbá, ali na rua Frei Mariano, entre as décadas de 1950/1960 havia um lugar bastante frequentado. Uma barbearia, uma banca de jornal, um café e uma cadeira de engraxate compunham aquele cenário de permanente afluência masculina. Consoante aos costumes da época nas cidades interioranas, o local se transformou em um palco de encontro obrigatório para um bom bate papo nas mais diversas rodinhas que se formavam. Pois foi numa dessas manhãs corriqueiras e, sem que fosse percebida a gravidade do momento, que se deu a profecia.

Piloto veterano e conhecedor do Pantanal, gaúcho de procedência e, talvez por isso com a visão de quem observa os fatos sem pertencer ao contexto, aquele senhor, que me permito não nomear para não envolvê-lo, ainda que por um absurdo raciocínio, às consequências do seu vaticínio, bradou em alto e bom som: “os verdadeiros donos do Pantanal ainda não chegaram”.

Vivendo a época dourada da pecuária pantaneira e desfrutando da merecida convivência com a incomparável natureza dos brejos mato-grossenses, aquilo foi interpretado, com justa razão pelos presentes, como se fora um repto ameaçador e desaforado. Como? Absurdo! Porquê? Conversa fiada de gaúcho invejoso! Isto aqui é nosso! Foi de nossos avós, de nossos pais! Eles vieram, desbravaram, consolidaram aqui uma pujante e bem sucedida comunidade. Isto nos pertence por direito!

As acaloradas discussões impediram, por certo, a percepção e o real alcance daquelas palavras. O próprio vate rio-grandense não conhecia a estranha força daquela frase agourenta. Também ele pensava se tratar de uma invasão de natureza territorial. Comprariam as nossas fazendas e se tornariam os verdadeiros donos do Pantanal.

Mas quem? Os paulistas endinheirados? Os Rockfeller? Os ingleses, os franceses, os belgas que por aqui haviam passado? Dos árabes do Petróleo ainda não se cogitava. Reforma Agrária? O Getúlio Vargas já o fizera, com imenso sucesso aliás, dividindo em glebas as imensas áreas pertencentes a estrangeiros, propiciando aos nossos patrícios a aquisição das mesmas. Digo aquisição para que não se interprete de outra maneira aquela reforma.

A bem da verdade, todos esses vieram e se foram, buscando melhores investimentos. Então a que se referia aquele dramático presságio? A quem deveríamos temer? Que futuro sombrio e frustrante nos aguardava? Teríamos cometido algum crime para que merecêssemos tal punição? Havia algo de errado em nosso processo de ocupação?

Por mais que se buscasse o entendimento daquela sentença de morte não poderíam sequer supor ,à época, que ela se fundamentaria hoje no reconhecido e descarado interesse de potências estrangeiras em obstruir o desenvolvimento brasileiro.

Mas não se anunciaram através de aporte de capital, de investimentos nas atividades aqui desenvolvidas; chegaram através de poderosas ongs internacionais que aqui ancoraram as suas caravelas para uma nova e atuaente colonização no sentido inverso, cujo escopo se traduz na imobilização do nosso crescimento para que não concorramos com as côrtes de além mar. Não vieram extrair o Pau-Brasil e nem roubar nosso ouro; vieram para interferir em nossa soberania através da manipulação de nossas leis. Não foi mais difícil do que convencer os indígenas que aqui viviam em 1500; ao contrário, foi mais fácil, porque boa parte das instituições do estado brasileiro se tornaram decadentes e corruptas. Ao invés de espelhos e apitos; dólares. No lugar de missas em latim, as campanhas de aquecimento global, das camadas de ozônio, do derretimento dos polos, do efeito estufa, dos gazes bovinos, da vaca louca, da Amazônia pulmão do Mundo, da escassez dos recursos hídricos, do desmatamento, da transformação do nosso território em reservas intocáveis, e muitas outras formas de terrorismo ambiental que todos já conhecem e que os Calabares de plantão endossam sem o menor pudor.

O Pantanal tem sido vítima das investidas desse poder obscuro desde a Constituinte de 1988 quando, inadvertidamente, nosso representante no Congresso nos incluiu na classificação de patrimônio nacional.

Não sabia ele que tornaria a vida do pantaneiro em um verdadeiro inferno. Nada de bom aconteceu até hoje. Tudo de ruim tem ocorrido desde então.

Temos agora, a Lei do Pantanal, a PL 750 que tramita nas comissões do Senado Federal. De autoria do Senador Blairo Maggi, essa proposta está ligada àquela inclusão na Carta Magna de 1988. Diz-se que ele se arrependeu da propositura, mas os ecoloucos não, estes vem tentando desesperadamente a aprovação de um texto ainda mais restritivo às atividades aqui desenvolvidas. Bravamente os Pantaneiros vem se defendendo do verdadeiro massacre legal que os oprime e lhes rouba um futuro de progresso que todos almejam.

É surpreendente a alienação das nossas forças políticas que tanto se arvoram em defensores do desenvolvimento do Mato Grosso do Sul. Seria desconhecimento? Não percebem o potencial do Pantanal no cenário econômico atual e futuro do estado? Representamos um terço do nosso território.Temos uma agropecuária forte e promissora, riquezas minerais, vias navegáveis, vocação turística, fronteiras importantes que brevemente nos ligarão ao Oceano Pacífico.

As restrições pretendidas pelas forças contrárias em nada contribuem para o nosso desenvolvimento tanto quanto para o meio ambiente pantaneiro. A sociedade sul-matogrossense deve dar um basta aos interesses estranhos que teimam em comandar nossa economia através da manipulação das leis ambientais. Não existe legitimidade nem sequer coerência por parte desses fantoches do colonialismo ambiental. Os números e a história amparam nossos argumentos. Basta de interferências! Foram os pantaneiros que conservaram o Pantanal até hoje. A responsabilidade sempre foi deles. Então eles tem o direito de permanecer nessa missão multissecular. Obstaculizar os caminhos do progresso da região pantaneira seria condenar a sua população ao atraso socioeconômico.

Fiquemos atentos em relação a essa proposta de lei. Aqui no Mato Grosso do Sul já foi realizada uma audiência pública sobre o tema. Em breve será feita em Mato Grosso. Cabe aos pantaneiros e às sociedades dos dois estados perceberem a importância deste momento. Não permitamos que aquela profecia se concretize. Unidos somos bem maiores que nossos adversários, porque estamos do lado da verdade e ela só pode ser entendida de uma forma: Os verdadeiros donos do Pantanal são e serão sempre os Pantaneiros! Vamos à luta!

Saudações Pantaneiras

(*) Manoel Martins de Almeida é produtor rural.

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