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A revolução do caráter

Por Fernando Hassessian (*) | 25/01/2015 09:00

As grandes revoluções foram desencadeadas por um sentimento coletivo, por um ideal, um propósito específico. Seja o nacionalismo, a cultura, ou a necessidade de reconstrução de um país, um sentimento de que alguma situação chegou aos seu limite, e que uma verdadeira mudança seria realmente necessária.

A Revolução Francesa foi despertada pelo descontentamento com a miséria, injustiça social e impostos. A Revolução Mexicana, por sua vez, foi o despertar contra a ditadura, assim como a Revolução Cubana que destituiu Fulgêncio Batista. Outras mobilizações sociais deram origem, por outro lado, ao poder nazista e facista, cada um com seus motivos, mas ambos baseados em um sentimento coletivo, da percepção de que somente uma revolução seria capaz de mudar um cenário esgotado.

O Brasil passou perto de uma revolução em 2014. Mas assim como a tradição brasileira de começar uma obra e não terminar, a revolução dos 20 centavos foi um esboço patético de vandalismo e desorganização.

Não que falte motivos para despertar um sentimento coletivo. Em meio à criminalidade, falta de estrutura, burocracia e altos impostos, a corrupção é figura central no sentimento, pelo cidadão, de impotência, de insignificância e fraqueza diante de um problema já enraizado no sistema político e econômico.

Para se ter ideia de quanto pode ser nociva a corrupção: prédios estão caindo no Quênia. Um dos motivos, segundo a imprensa internacional, é o pagamento de propina para a liberação de construções irregulares. Mas é só um exemplo, não precisa ir tão longe. Todos, absolutamente todos os brasileiros tem conhecimento de ao menos um caso suspeito de corrupção. E isso independe de partido. Independe até de ser político ou não: O funcionário que falsifica um atestado médico; o técnico que troca um parafuso mas diz ao cliente que precisou trocar uma peça inteira. Aquele que rouba energia, água e TV a cabo. O princípio é o mesmo, mas em outras proporções. Admita, é típico do Brasileiro.

Mas o que falta para despertar um consenso de que é necessário mudar, começando com si mesmo? No fundo, cada um tem a esperança de ganhar seu lugarzinho ao sol da corrupção. Cada um tem seu "jeitinho brasileiro" e acha que sem trapacear, não há progresso. O problema é que todos pensam igual, e para cada trapaceiro, há, no mínimo, um prejudicado.

O outro motivo é a "vingança": "O governo nos rouba, então vamos roubar do governo também". O mesmo raciocínio é usado quando se furta energia ou água. Em resumo, o brasileiro se diz descontente com a corrupção, mas não tem interesse em mudar. Cria-se um ciclo de desordem, de "toma lá, dá cá", "Se ele não ceder, eu não cedo"

Tudo bem, um sentimento coletivo pode até ser despertado, mas como proceder? No fundo, a descrença também fala alto. Mesmo que venha um líder, um discurso de honestidade. Acredita-se que o mesmo será corrompido ao se deslumbrar com as mazelas do poder. Ninguém acredita mais em ninguém.

Se é necessário um choque; um tapa na cara do cidadão? Na teoria sim, mas na prática, vimos o caso Petrobrás, o Caso Alston, mensalão deste e daquele partido... quer tapa mais forte?

E você, leitor, o que você pensa que falta para se concretizar a revolução do caráter brasileiro?

(*) Fernando Hassessian, jornalista

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