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Alemão fujão, por Heitor Freire

Por Heitor Freire (*) | 01/06/2012 14:04

No tempo em que trabalhei no Banco do Brasil, em Ponta Porã, entre os colegas e amigos com quem convivi naquele período áureo da minha vida, destaco hoje, o Júlio Cesar Baasch.

Descendente de alemães, nascido em Palhoça-SC, município hoje da Grande Florianópolis. O meu relacionamento com ele, em princípio foi de rivalidade no ping-pong, no futebol de salão e nas tiradas próprias dos funcionários do banco. Aos poucos, fomos nos harmonizando, chegando a amigos, compadres e irmãos verdadeiros.

Pois bem, o Alemão como ficou conhecido, depois de um determinado tempo, começou a namorar a Isabel, minha cunhada. Não sei por que, o namoro acabou. E ele então pediu transferência para o Rio de Janeiro. Por isso, Júlio ganhou o apelido de Alemão fujão.

Ao participar de um bingo, cujo prêmio principal era um jogo completo de casa, a Isabel ganhou o prêmio maior. Inclusive alguém falou: “Feliz no jogo, infeliz no amor”.

Na época a minha filha Valéria, a número 1, tinha dois anos e ensinaram para a Isabel, uma simpatia para fazer o namorado voltar: Colocar uma menina pequena embaixo da mesa e ela dizendo: “Volta tio Júlio, volta tio Júlio”. E lá ficava a Valéria em baixo da mesa, com essa cantilena sem parar. Pelo sim, pelo não, o certo é que, como narro a seguir a simpatia deu certo. Fica a dica.

Logo depois, fui designado para um curso de aperfeiçoamento em Curitiba. Quando lá estava recebi a visita de um colega que estava de ferias: Mateus Aerte Pires. Ele disse que o Alemão estava agora trabalhando na agência do banco em Itajaí-SC. E propôs que ligássemos para ele, pois estávamos no período da semana santa. Assim fizemos.

O Alemão ficou muito alegre e nos convidou para irmos até Itajaí. Quando lá chegamos foi logo perguntando pela Isabel e só falava nela. Ligamos para Ponta Porã. Na época poucas pessoas tinham telefone. Acabamos marcando dia e hora para que ele falasse com ela. Resumo da ópera: voltaram a namorar e se casaram logo depois, em l967.

Na ocasião do casamento, a mãe do Júlio, dona Virgulina, veio com antecedência para a cerimônia. Pouco depois que ela chegou, recebemos a notícia: seu Evaldo, marido dela e, portanto, pai do noivo, tinha acabado de falecer. Diante disso, urgia levar dona Virgulina de volta para assistir ao sepultamento em Santa Catarina. Júlio tinha um fusca azul. Embarquei nessa viagem, a bordo do fusca, com dona Virgulina, a noiva, minha cunhada Isabel, e o Júlio.

Seguíamos pela estrada de terra, não havia asfalto, quando de repente furou um pneu. Trocamos o pneu bem rápido, pois tínhamos hora para chegar, e seguimos viagem. Alguns quilômetros à frente, o pneu soltou-se da roda, voou para longe e fez o carro adernar para o lado. Entramos no mato atrás do pneu perdido que foi achado logo a seguir.

Na pressa de trocar o pneu, não tínhamos dado o aperto final e os parafusos se soltaram com os solavancos da estrada. Foi impossível achá-los. Apesar da situação, baixou uma luz e tivemos a ideia de tirar um parafuso de cada roda para repor os que faltavam e seguimos viagem com um parafuso a menos em cada pneu, até o primeiro borracheiro nos socorrer. Felizmente, conseguimos chegar a tempo em Palhoça para assistir ao sepultamento.

Na década de 80, o Júlio trabalhando no Banco do Brasil em Joinville, pediu transferência para Campo Grande. Passou a trabalhar no CESEC, centro de computação do banco, onde anos depois se aposentou.

O compadre foi residir na rua Salim Maluf, no Taveirópolis. Certa vez, comprou uma chácara em Terenos e, de quebra, também adquiriu um trator. O vendedor foi entregar o trator na casa do Júlio. E lá deixou estacionada a máquina, que tomava quase toda a rua. Sentindo-se dono de um trator, meu compadre resolveu pilotá-lo e dirigiu-se, todo pimpão, ao posto de gasolina mais próximo, em frente à sede do Esporte Clube Comercial.

O volante do trator estava com duas voltas de folga, e ele só percebeu isso quando atropelou a bomba de gasolina do posto, causando um baita tumulto. Nunca antes no Taveirópolis seu viu nada parecido. Pode ter sido um prenúncio de que o Júlio e o trator não foram feitos um para o outro. Tempos depois, ele naturalmente se desfez do trator e da chácara.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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