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Bem-te-ouvi, bem-te-vi

Por Heitor Freire (*) | 13/01/2015 09:25

É interessante como a natureza se manifesta em suas mais diversas formas. O canto dos pássaros, que é uma das maneiras de comunicação, transmite uma linguagem peculiar: Ao iniciar-se a época da procriação, existem dois instintos que dão forma ao trinado de muitas aves: o de estabelecer um território e o de procurar parelha. O canto, em seu caráter de idioma que transmite informação de uma ave a outra, possibilita ambos objetivos.

Às vezes torna-se difícil estabelecer limites precisos entre o canto e o chamado. Mas o canto está relacionado principalmente à defesa de um território ou à atração da fêmea, enquanto o objetivo dos chamados consiste em transmitir outros tipos de informação como, por exemplo, avisar da aproximação de um predador.

Os cantos tendem a ser complexos arranjos de notas, emitidas de um modo rítmico, na maioria das vezes pelo macho.
O canto primaveril surge como resposta às modificações que os hormônios provocam no organismo da ave, particularmente o aumento de tamanho dos seus órgãos reprodutores, que se deve ao maior número de horas de luz. No inverno, a maioria das aves emudece e, em geral, a chuva e o mau tempo tendem a inibir o canto.

No ciclo diário, a luz é o fator principal que influi no canto. São mais aves que cantam durante o amanhecer (esse canto pode durar de 20 a 40 minutos) do que os pássaros que cantam em outros momentos do dia.

Nesta época de pleno verão, o que mais estou ouvindo, no meio da cantoria variegada dos pássaros, é o canto mavioso do bem-te-vi que se destaca de forma harmoniosa e suave. É um dos primeiros pássaros a vocalizarem ao amanhecer.

Medindo cerca de 23,5 centímetros, caracteriza-se principalmente pela coloração amarela viva no ventre e uma listra branca no alto da cabeça, além do canto que nomeia o bem-te-vi. É considerado um dos pássaros mais populares do Brasil.
Este pássaro figura atualmente como o símbolo de centros urbanos, dando nome a condomínios, parques, restaurantes e a muitas outras referências.

Seu nome popular possui origem onomatopéica, oriunda do seu canto.

Apesar de sua fragilidade aparente, o bem-te-vi não se intimida e ameaça vigorosamente outros pássaros maiores, como o gavião e o urubu, e até mesmo outros animais para defender seu território.

O bem-te-vi possui uma grande importância na dispersão de sementes em áreas de cerrado, além de ajudar no controle de pragas de insetos, graças ao seu hábito alimentar generalista.

Facilmente encontrado em fios telefônicos, telhados ou banhando-se em poças e chafarizes.

Sua "gritaria" consegue penetrar nos mais recônditos becos, podendo ser ouvido o ano todo. Em Sergipe por exemplo, a criançada o persegue a pedradas, pois, segundo a lenda, foi ele quem denunciou Jesus Cristo, quando os judeus o procuravam.

Mas isso não passa de uma lenda sem fundamento, pois este pássaro não habita e provavelmente nunca habitou a região do Oriente Médio, de clima e ambiente completamente diferente do nosso.

Em Belém do Pará, reza a lenda que quando um bem-te-vi canta no quintal da casa é porque alguma mulher morando embaixo desse teto está grávida. É uma lenda que atribui ao pássaro o papel de "anunciador".

No nosso escritório imobiliário na rua 15 de Novembro, a recepcionista, Marilda, ficava intrigada quando ouvia o canto dele. Eu dizia a ela: “Marilda, ouve o bem-te-vi”. E ela, de imediato: “Seu Heitor, vira essa boca pra lá”.
Eu gosto muito do seu canto. Assim, cante, bem-te-vi, que quero bem-te-ouvir.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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