Cérebro, intuição e sentimentalismo
Os seres humanos perderam a noção de como administrar o trabalho do cérebro impondo uma sobrecarga que já passou do limite natural, gerando desarranjos, alguns irreversíveis. É um estado em que o cérebro, submetido a demandas excessivas e contínuas, começa a falhar em suas funções mais básicas: atenção, memória, tomada de decisão e regulação emocional.
O sistema executivo cerebral entra em colapso, afetando planejamento, foco e memória. O estresse crônico se instala, gerando ansiedade, depressão, irritabilidade e até desarranjos nos relacionamentos. Vivemos uma epidemia de transtornos mentais. O Brasil lidera os índices globais de ansiedade. A velocidade da informação atropela o tempo da escuta, da empatia, da contemplação. Os acontecimentos, as comunicações e informações irrompem fortemente, afastando a busca pelas soluções.
Se quisermos um futuro mais humano, precisamos começar pela infância e isso requer uma transformação nos sistemas educacionais para que as novas gerações sejam ensinadas desde cedo. Precisamos nos movimentar, mas sem perder o ritmo natural de receber e retribuir. Muitas escolas ainda operam como linha de montagem, podando as individualidades.
Mas o ser humano não aprende como uma máquina; tem de vivenciar para saber. O contato com a natureza melhora a atenção, reduz o estresse, estimula a criatividade e a assimilação do ritmo natural. Os professores têm que se emparelhar com o ritmo natural e promover vínculos afetivos.
As novas gerações precisam receber bom preparo para a vida e o trabalho, mas isso deve ser feito sem moldar as individualidades que surgem com a intuição. No entanto, essa tem sido confundida com o sentimentalismo e, por isso, rejeitada. A intuição é o querer interior que se manifesta como lampejos indicando caminhos. O sentimentalismo, por outro lado, é uma amplificação das emoções, muitas vezes teatral ou desproporcional, que pode obscurecer a clareza interior e levar a decisões erradas.
A intuição é a raiz da individualidade autêntica. O maior desafio do ser humano é reaprender a confiar nela, não como um capricho emocional, mas como uma forma legítima de sabedoria que requer a ajuda do raciocínio para ser posta em prática. É na clareza do silêncio, junto à natureza, que a intuição se fortalece.
A produção e o comércio global estão desiquilibrados. No moderno mercantilismo, a maioria das nações está regredindo, sobra para as novas gerações fritarem hambúrgueres e lavar pratos. Países priorizam a obtenção de superávits comerciais, acumulando reservas e protegendo suas indústrias com subsídios e tarifas. O crescimento parece travado, o consumo retraído e as oportunidades, para as novas gerações, cada vez mais limitadas. As nações se endividam, o dinheiro perde valor, mas não há recomposição do salário, e o consumo se restringe.
Ocorrem desequilíbrios comerciais crônicos, com países exportadores acumulando riqueza e países importadores se endividando. Desindustrialização em massa em nações que abriram seus mercados sem contrapartidas, como o Brasil e parte da Europa. Concentração da produção ocorrem em poucos países, como China, EUA, Japão, que dominam setores estratégicos, coordenando as cadeias produtivas globais onde a produção de um bem ou serviço é fragmentada em várias etapas realizadas em diferentes países.
O mercado de trabalho apresenta baixa mobilidade social, oferta de empregos precários e mal remunerados, desilusão com o modelo econômico, que parece beneficiar poucos e excluir muitos, algo que gera frustração, desânimo e revolta das novas gerações. A sensação é de que estamos nos tornando engrenagens de um sistema automatizado, onde a alma é sufocada pela lógica fria da eficiência, buscando a minimização dos custos para melhorar os ganhos.
O mundo está em transição; o arcaico e o astuto não estão resistindo às pressões. A aceleração geral está inviabilizando o retorno a um ritmo adequado. Falta educação voltada para o futuro que seja capaz de ensinar habilidades que resistam à automação, estimulando a criatividade, o pensamento crítico, a empatia e o correto uso da tecnologia.
A desumanização não é apenas um fenômeno social; é um colapso silencioso da empatia, da escuta e do sentido de pertencimento. A desumanização é a perda da capacidade de enxergar o outro como um igual, um peregrino com a oportunidade de querer encontrar a Luz. É preciso rever os sistemas educacionais para que as novas gerações sejam ensinadas desde a infância a se movimentar e evoluir no ritmo natural.
(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP
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