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Crueldade disfarçada em aparência religiosa

Maria Madalena* | 14/12/2016 15:29

O conto a Negrinha do Monteiro lobato evidencia o preconceito e a crueldade desenfreada da Dona Inácia, senhora aristocrata viúva e sem filhos, muito má. Mantinha sob seus regimes uma órfã filha de escreva “A Negrinha” com o intuito de aplicar lhe castigos beliscões, tapas e crocres.

O conto A Negrinha de Monteiro Lobato é uma narrativa em terceira pessoa, retrata a difícil história que perpassa nascimento, vida e morte de uma pequena menina órfã, de pele negra, filha de escrava que viveu os primeiros anos privada da liberdade e em situações limitadas em um espaço físico precário na casa da patroa.

Tinha a alma ferida pelo racismo e os maus tratos, o corpo físico que pesava pouco, limitado na sua fluência motora e psíquica marcado por cicatrizes advindas das situações de violências sofridas.

Qualquer atitude fosse de ação ou omissão serviam como motivação para abafar lhe a boquinha ou atacar lhe com beliscões e a fazia engolir o choro num grito de “Cale a boca, diabo!” O choro sempre se caracterizava por razões reais como fome e frio; mantinha se confusa com a ideias dos grandes e sempre escondida devido à aversão da patroa às crianças.

Viúva, sem filhos, fisicamente gorda, com boa aquisição econômica e grande reconhecimento religioso digna de regalias da igreja, mulher “sociável” agasalhada na cadeira de balanço na sala de jantar ora bordava ora recebia as amigas e o vigário para discussão e reunião; a Dona Inácia era intolerante aos choros de criança.

Assim cresceu Negrinha no ambiente de rejeição e reprovação o que a deixava imobilizada de braços cruzados horas e horas e olhos arregalados de espanto e medo tendo como divertimento apenas o cuco do relógio que a fazia feliz por um instante. Paulatinamente as horas ganharam significado diferente puseram a fazer crochê ela ficava piamente horas fazendo trancinhas.

Que conceito teria de si uma menina que nunca recebeu um carinho sequer, apenas depreciação apelidos, rótulos negativos. A abolição da escravatura não aboliu o ímpeto violento da Dona Inácia que fora senhora de escravos, carregava traços da sua história que a fizera mestra na violência contra as crianças.

O ápice de suas atitudes violentas se deu no dia em que a Negrinha desentendeu com uma criada nova em um momento de fúria, deixou escapar uns dos indelicados nomes que recebera na sua vida, a criada recorreu à patroa que providenciara um requintado castigo, mandou cozinhar um ovo tirou da água fervente e colocou o na boca da menina até que esfriasse sem sequer ela conseguir expressar a dor através de um grito. No mesmo instante a Dona Inácia recebe a visita do vigário e fala com ele o desafio que é ser caridosa.

O êxtase acontece na vida da Negrinha, quando vieram passar as férias na fazenda duas sobrinhas de Dona Inácia, meninas de bela aparência, saltitantes e felizes pela sala enquanto que a Negrinha permanecia atônita de olhos regalados a admirar os brinquedos desconhecidos por ela, sendo interrogada se nunca havia visto uma boneca, ela disse que não.

Invadida pelo medo da patroa, mas diante da admiração das sobrinhas ao saberem que a Negrinha nunca tivera a aquisição de uma boneca a boa senhora permitiu que ela brincasse até no jardim.

Desajeitada manuseava as bonecas com grande admiração e desvelo ação que causou lhe um insight sentiu se gente, alegria de ser humana, deixou de ser coisa e vibrava de satisfação, consciência que a levou a morte.

Terminou as férias, foram se as meninas e as bonecas, a casa volta à mesmice, tendo conhecido a alegria ela foi acometida pela tristeza profunda e morreu em situação de real abandono, mas a sua miragem fez o momento de maior beleza rodeada de bonecas loiras e de anjos e visitada pelo cuco que lhe visitava pela última vez de boca aberta.

Para o autor a história da Negrinha se resume em duas impressões que ficaram no mundo uma cômica na memória das meninas ricas e outra de saudades na memória da Dona Inácia pelo desejo de incitar um cocre.

*Texto publicado no portal Obvius

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