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Da apicultura para a nossa mesa

Alice Borges Ferreira (*) | 05/09/2022 12:59

As abelhas são responsáveis por prestar um dos serviços ecossistêmicos mais importantes para a humanidade: a polinização. Esse assunto, que vem sendo recentemente abordado em muitos canais de veiculação, denota que as abelhas contribuem demasiadamente para a produção de alimentos. O próprio Albert Einstein, gênio da física, já pontuava: “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas, não há polinização, não há reprodução da flora; sem flora, não há animais; sem animais, não haverá raça humana”.

Essa frase faz um compilado daquilo que já estamos vivenciando hoje. De fato, estamos enfrentando um declínio dos polinizadores. Essa causa é tão importante que, em 2011, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (na sigla em inglês, FAO) iniciou um processo para alertar a população sobre o que poderia acontecer com a vida na Terra caso houvesse um desaparecimento dos polinizadores, incluindo as abelhas.

Nesse cenário de incertezas climáticas que vivenciamos, percebemos que existem iniciativas que colaboram para o aumento da população de abelhas ou, pelo menos, tentam manter a população existente. Essas medidas vão desde plantar espécies botânicas para as abelhas, que podem fornecer pólen ou néctar, até aplicar agrotóxicos em menor quantidade ou em horários em que as abelhas não estão no campo, realizando o trabalho de forrageamento.

Existe também o tópico do aumento da população de enxames. E é aqui que entram os apicultores e meliponicultores. No presente artigo, vamos nos ater mais aos apicultores, visto ser esse o tema deste texto. Podemos caracterizar tal grupo como formado por indivíduos que fazem a criação racional de abelhas com ferrão, denominadas Apis melífera.

Se analisarmos mais a fundo, podemos pensar que os apicultores são, em sua maioria, pessoas tanto do gênero masculino quanto feminino, que têm uma afinidade com abelhas e que, provavelmente, resolveram fazer disso um negócio, ou melhor, um agronegócio. Estes são responsáveis por auxiliar na manutenção de enxames, assim como no aumento da sua população, por meio de técnicas, como a de divisão de enxames, conforme a qual, a partir de uma colônia, se podem obter duas.

Ainda assim, por vezes se percebe que os apicultores são rotulados com palavras como gigolôs e ladrões de mel. Assim como em qualquer profissão, existem produtores que não cuidam de suas abelhas e que apenas realizam visitas no apiário para tirar o mel que elas produziram. É válido, no entanto, lembrar que a maioria dos apicultores possui conhecimento suficiente para saber que, para produzir mel e outros produtos apícolas, é necessário se fazerem manejos periódicos que mantenham os enxames fortes e saudáveis, de maneira que as populações de abelhas sigam aumentando.

A criação de abelhas, portanto, pode ser vista como um serviço ambiental, o qual, com o auxílio de técnicas de manejo realizadas pelos apicultores, resulta no aumento da população de enxames, assim como na polinização de inúmeras culturas. Além disso, essa atividade culmina com a colheita de produtos apícolas, os quais muitas vezes fazem parte do sustento de várias famílias.

Para que se tenham possibilidades dentro da apicultura e perspectivas melhores de mercado, é possível verificar que a produção de mel no Brasil atingiu, em 2017, um índice de 41,6 mil toneladas, culminando com uma receita para o país de 513,9 milhões de reais, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso denota uma perspectiva bastante interessante dentro do agronegócio brasileiro, permitindo a muitos produtores aliar práticas sustentáveis com receitas brutas que podem ser obtidas pela produção de inúmeros produtos apícolas.

Sendo assim, podemos pensar nos apicultores não como vilões, mas como indivíduos que – assim como a grande maioria das pessoas – precisam ter uma fonte de renda para sobreviver. E, aliado a isso, realizam uma atividade que resulta na manutenção das populações de abelhas Apis mellifera.

A apicultura, da mesma forma, é responsável pelo aumento do rendimento de muitas culturas de produtos que consumimos ao longo do nosso dia. Por exemplo, boa parte das frutas que utilizamos na alimentação é dependente da polinização de abelhas Apis mellifera. De acordo com dados da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas, alguns exemplos são: melões, maçãs, peras, quiuís, algumas frutas cítricas e outros tipos de vegetais.

Dessa forma, é importante que nós, como consumidores, atentemos para a importância das abelhas como um todo tanto para a biodiversidade como para a manutenção da humanidade. Os apicultores, nesse sentido, podem auxiliar nesse processo, por meio do aumento da população de enxames e da plantação de espécies nativas melíferas para as abelhas. Além disso, muitos contribuem, também, com a criação de abelhas sem ferrão, além de fornecerem espaço para que espécies de abelhas solitárias possam nidificar.

(*) Alice Borges Ferreira é zootecnista e mestre em Agronegócios (UFRGS).


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