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Desigualdade e vida digna

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 24/05/2016 16:02

Os suíços estão discutindo projeto de renda mínima garantida de 2.500 dólares para todos os cidadãos, para que tenham uma vida digna e condições de participar na atividade pública da sociedade. E de onde viriam os recursos? Os seres humanos são desiguais entre si em sua maturidade e desenvolvimento; alguns agem com clareza e decisão na busca do que desejam; outros, mais acomodados, ficam à espera de benesses, mas isso não autoriza que sejam explorados e mantidos em condições sub-humanas. Esses têm de ser despertados de seu torpor e preparados para fazer parte do sistema.

Receber sem retribuir e sem esforço fere a lei do equilíbrio. Por isso, a intervenção pública deve estar voltada para criar condições e oportunidades para que os indivíduos se fortaleçam e se movimentem buscando um futuro melhor. É importante que as pessoas possam ter a subsistência condigna assegurada, mas isso deve ocorrer por meio do trabalho e esforço próprio. No Brasil, há uma situação bem particular: a de ser um país tão rico e ao mesmo tempo tão pobre.

Necessitamos de coragem e seriedade para tirar o país do subdesenvolvimento e dependência, oferecendo para a população: educação, alimentação sadia e oportunidades, mostrando a realidade brutal, mas oferecendo um caminho de real esperança. Basta de desanimar as pessoas, mantendo-as no nível de subsistência sem oportunidades.

No Brasil, o programa bolsa família trouxe algum alento para a histórica pobreza extrema existente, mas é preciso que os beneficiados se conscientizem da necessidade de não se deixarem acomodar e que tenham oportunidades de aprender e prestar trabalho remunerado para prosseguir, melhorando sua condição de vida.

Sabe-se que toda riqueza procede dos recursos da natureza. Mas se algumas pessoas se postam à frente e de forma impeditiva à participação de outros, é evidente que elas concentrarão a riqueza em suas mãos, e isso não se resolve com projetos paliativos de distribuição de renda. Para reduzir a desigualdade tem de ser promovida participação mais equitativa no montante das riquezas produzidas. No entanto, os sistemas econômicos se fundaram sobre trabalho por servidão e regime escravocrata como a fonte da produção de riquezas, o que criou o conceito de depreciação do valor do trabalho.

Algumas pessoas não querem olhar com sinceridade para a justiça e o equilíbrio entre trabalho e remuneração, justificando que nada pode ser feito e que a estrutura global do trabalho não permite a busca de alternativas para a crescente desigualdade. Os riscos decorrentes do aumento das diferenças e da falta de ocupação remunerada de forma adequada começam a ser percebidos nas regiões afetadas pela corrosão do tecido social e aumento da violência.

O foco socialista, por sua vez, busca a intervenção estatal para promover distribuição de renda de forma indiscriminada. Mas não basta a intervenção governamental com a criação de novos impostos; faz-se necessária a conscientização e a consideração mútua entre os seres humanos. Algumas questões precisam ser equacionadas para permitir o equilíbrio e a estabilidade, como na paridade cambial entre as moedas e os diferentes tratamentos dados à mão de obra em diversos países, postos em confronto pela globalização.

Grande parcela da população não consegue ou não sabe como organizar as finanças pessoais, uma lacuna que precisa ser eliminada de forma que as pessoas saibam como lidar com o dinheiro e como planejar seu orçamento com equilíbrio entre os ganhos e os gastos. A questão fundamental não é reduzir a desigualdade, mas sim impedir que ela se forme e se expanda, oferecendo a retribuição compatível com o que cada trabalho propiciar, o que certamente resultará em fortalecimento do mercado consumidor, ativando a economia. O problema está no tipo de sintonização de cada indivíduo, que deveria estar voltada para a evolução e melhora das condições gerais de vida.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado economista, articulista, palestrante e escritor.

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