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Dos conflitos humanos

Por Heitor Freire (*) | 24/04/2013 10:40

O conflito é uma atividade permanente no ser humano. Desde o princípio. O homem primitivo se viu na necessidade de caçar e de pescar para suprir suas necessidades de alimentação e ao mesmo tempo prover as de sua família. Daí talvez a origem do seu caráter bélico. O homem é a realidade mais profunda e mais complexa que se conhece no âmbito do universo natural. Por isso, oferece diversas leituras sobre a sua totalidade.

Vivemos num mundo de conflitos. Estes afligem a todos os seres humanos de todos os países, seja qual for sua posição econômica, nível cultural, raça, sexo ou idade. Alarmante proporção da sociedade se acha afetada por desequilíbrios mentais e desordens psíquicas que são produzidas pela generalizada angústia reinante no mundo.

Uma elevadíssima proporção de homens e mulheres que povoam o planeta se vêem afligidos por grandes lutas emocionais, que lhes roubam a paz, fazendo-os viver num clima de apreensão e ansiedade.

Na verdade, os elementos perturbadores da felicidade – a dor, a angústia, a ansiedade, o sentimento de culpa, o stress, o medo, a ira, a inveja, a vaidade etc. – são apenas efeitos de uma causa comum, primária e básica. A grande maioria dos conflitos humanos emerge da incessante ânsia do ter e do egoísmo. Enquanto não for vencida essa ânsia não cessarão os conflitos. Quando finalmente essa luta chegar a seu fim, emergirá a natureza verdadeira e divina que consagrará com sua coroa cintilante a fronte do ser triunfante e eterno. E assim, como acontece nas enfermidades físicas, neste complicado terreno faz-se mister estudar a etiologia do mal, para diagnosticar sua causa original e tratá-la.

Além dessas causas mencionadas, outro fator alimentador do conflito entre as pessoas é que este nasce na resposta. Se alguém é agredido verbalmente e responde da mesma forma, pronto. Está estabelecido o conflito. A partir daí, ele só vai crescer e gerar um desentendimento que, muitas vezes, se torna eterno. No entanto se o agredido permanece em silêncio, ou se responde de forma equilibrada, o conflito não se instala porque não encontra ambiente propício para sua disseminação.

Heráclito (535-475 a.C), filósofo pré-socrático considerado “O Pai da Dialética”, notabilizou-se por enxergar no conflito entre os opostos o nascedouro da concórdia, da harmonia, afirmando ainda que os contrários ocupam perfeitamente o mesmo espaço simultaneamente, como o início e o final de uma esfera. “Polemos pater panton”, “o conflito é o pai de todas as coisas”, é uma frase dele que traduz essa sua conclusão. Mas, no caso descrito por ele, a discussão tem sempre um enfoque de respeito entre os oponentes.

Assim tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, da oposição entre os contrários. Para este filósofo, a dialética pode ser exterior – um raciocínio de dentro para fora - e imanente do objeto – quando se foca na observação atenta do ser. Heráclito entende este processo dialético como um princípio.

Isto permite que o Ser seja uno ao mesmo tempo em que se encontra mergulhado nas constantes mutações do contexto que o envolve. Ele ainda afirma que “a única coisa imutável no universo, é a mudança” e que “se não sabe escutar, não sabe falar”, significando que a oposição dos contrários seja efetuada com equilíbrio e harmonia. Também acredito que este é o melhor caminho a ser seguido.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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