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Eu acho...

Por Heitor Freire (*) | 03/12/2019 13:00

Verdade ou mentira? Os dois conceitos são relativos porque se acham enredados por um terceiro que sempre ganha mais adeptos influenciados pelo modismo da hora: o achismo. São as tais verdades subjetivas, objetos de precipitadas e parciais análises pessoais, não respaldadas na realidade objetiva dos fatos.

Tal comportamento, segundo Jorge Ferrão (jornalista, radialista e publicitário, editor-chefe do blog e podcast Alerta Total), deveria ser chamado de “Síndrome do
Achismo”: “Não desenvolvemos a capacidade de analisar a vida como ela é. Por isso temos dificuldade em entender o que acontece, de verdade, à nossa volta. Assim, esse mundo imaginário, quase virtual, é concebido na cabeça de alguém ou de um grupo para ser assimilado (e difundido) pelo resto da sociedade consumidora das ‘informações’”.

Todo mundo “acha”, mas na realidade não sabe nada. E fica repetindo o que ouve, com ar de entendido como se fosse o dono da verdade. O ser humano ainda não conseguiu entender o imenso poder de sua palavra, e fica repetindo aquilo que ouve sem uma análise prévia e ponderada.

É interessante notar que o mundo empresarial está cada vez mais empenhado em sugerir aos seus executivos mudanças de hábito que lhes proporcionem crescimento pessoal e profissional, levando-os a prestar mais atenção nos padrões negativos. O Canal Meio, um site jornalístico que faz uma compilação diária de notícias do Brasil e do mundo, divulgou que a Fast Company, uma revista norte-americana de tecnologia e inovação pediu a oito executivos que descrevessem alguns hábitos de que tiveram que abrir mão.

Uma delas, Kate Lewis, diretora de um grupo de mídia, falou sobre uma mudança que potencializou sua carreira: passou a evitar usar a frase “eu acho” depois de perceber que enviava muitos emails nesse padrão. Uma atitude simples, mas que produziu um efeito positivo e verdadeiro.

É necessário compreender que criamos e recriamos nosso mundo por meio de nossas palavras. “Pensamentos são paredes ou... asas; como pensas, vives”. Palavras de Emmanuel, o mentor espiritual de Chico Xavier.

O achismo pulula por toda parte sem consistência e sem base verídica, e por isso não se sustenta. Ele se propaga fundamentado somente nas opiniões de seu divulgador, sem nenhum tipo de argumentação concreta. O perigo a que estamos expostos é o risco da disseminação do achismo.

A essência do achismo é a de construir suas próprias verdades, com base unicamente no princípio do “eu acho”.

O “achista”, se assim podemos chama-lo, cada vez argumenta mais e conhece menos. O que o impulsiona é a ilusão de impressionar as pessoas e de ser respeitado, buscando raciocínios que considera mais interessantes ou convincentes.

Um ideal a ser alcançado é a fidelidade de pensamento com base numa opinião firme e consistente, sem a frenética e inesgotável busca pelas novidades, que só leva ao vazio espiritual.

Estamos todos expostos aos riscos do achismo. As redes sociais estão amplificando essa moda, procurando a exposição e divulgação dos anseios dos “achistas”. Elas reverberam esse tipo de comportamento, e é preciso estar muito centrado e bem informado para ficar imunes a esse tipo de armadilha.

Agora mesmo, temos dois grandes campeões do “achismo”: Donald Trump e Jair Bolsonaro. Pela importância e alcance de seus cargos, infelizmente influenciam negativamente milhões de pessoas. Eles falam a primeira coisa que lhes vêm à cabeça, e frequentemente são desmentidos pelos fatos, ou são obrigados a voltar atrás em suas declarações. É triste que dois governantes se comportem de forma tão irresponsável abrindo mão de agirem como verdadeiros líderes.

Vamos acordar para essa síndrome e ficar atentos para não nos transformarmos em divulgadores inconsequentes de falsas verdades.

(*) Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis e advogado.

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