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Globalização e o Quintal de Nossa Casa

Por Rafael Rossi (*) | 27/08/2014 13:30

O termo globalização implica em pensar que graças aos avanços técnicos das últimas décadas e à união da tecnologia com a ciência o mercado tornou-se global. Isso quer dizer que efetivamente o mundo é “on line”, ou seja, não dorme e que as transações financeiras, de mercadorias e de fluxo de pessoas ocorrem em uma velocidade jamais vista na história da humanidade.

Alguns autores chegam a falar que esse processo de globalização levaria uma homogeneização da cultura e dos valores pelo mundo. De fato, podemos perceber cada vez mais hábitos e costumes de outros povos e outras culturas em nosso dia-a-dia, como por exemplo, a disseminação de termos em língua inglesa em nosso país, desde lanchonetes aos programas de televisão. No entanto, o geógrafo brasileiro Milton Santos (grande estudioso sobre a globalização) argumenta que justamente nessa dinâmica global as particularidades de cada lugar irão se manifestar. Embora a influência de filmes, propagandas etc.; que exaltam estilos de vida diferentes da realidade brasileira percebemos que esta se fortalece em um movimento de resistência.

Em seu livro “Por uma outra globalização”, Milton Santos argumenta sobre a globalização como fábula, como ela realmente é e como ela poderia ser. A primeira diz respeito aos discursos que nos afirmam que a globalização é algo benéfico que trouxe e continuará trazendo vários privilégios e vantagens ao modo de vida comum das pessoas, seja pelo acesso à informação, seja pelos bens tecnológicos que facilitariam nossa vida, possuindo e demonstrando, dessa maneira, um forte apelo ideológico.

Assim ela nos é propagandeada enquanto “fábula” e não do modo como ela ocorre. A globalização tal como ela é, por sua vez, se refere à realidade concreta cheia de contradições. Embora as tecnologias trouxeram avanços enormes para a área da medicina, por exemplo, assistimos o retorno de doenças que acreditávamos extintas como a cólera, malária, etc. Outra contradição se baseia no fato de que apesar dos avanços tecnológicos e das inovações ao universo do trabalho, ainda convivemos com o desemprego e a miséria. Dessa forma, a globalização na realidade em sua manifestação concreta acontece e se baseia enquanto perversidade à maior parte da população trabalhadora.

A globalização como ela poderia ser é defendida pelo geógrafo Milton Santos enquanto um outro uso dessas técnicas e desse processo global, para se criar as condições vividas e materiais de uma sociedade sem exclusões. Para isso é preciso refletir de modo crítico e aberto essas contradições e perversidades, para que assim, possamos ter consciência da necessária mudança. Portanto, pensar e discutir a globalização implica em debater nosso estilo de vida, nossas condições de trabalho e os discursos que nos anestesiam, para que o despertar de nossas mentes seja real e nossos braços possam destruir as prisões que nos comandam e ditam a nossa vida. Precisamos pensar o mundo e também o quintal de nossa casa, não de maneira fragmentada, mas sim articulada e raciocinada. Nossa cultura é resistência e permite lutar contra várias imposições do mundo globalizado, pois como nos lembra Mauro Iasi: “é tempo de tudo ou nada. E tempo de rebeldia. São tempos de rebelião. E tempo de dissidência. Já é tempo dos corações pularem fora do peito em passeata, em multidão. Porque é tempo de dissidência, é tempo de revolução.”

(*) Rafael Rossi, docente do curso de Licenciatura em Educação do Campo na UFMS em Campo Grande (MS)
E-mail: r.rossi@ufms.br

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