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Indecências do Estado brasileiro

Por Valfrido M.Chaves (*) | 02/06/2014 11:07

Egresso dos anos 40, já vi e vivenciei algumas páginas de nossa história. Como é da natureza, onde há espinhos, flores, e da vida humana onde as lágrimas concorrem com os risos, minha geração viveu frustrações e triunfos, vivencias de impotência,humilhação.

Noutros momentos, sentimento de vitória, poder. Dessas experiências, algumas foram muito pessoais, como o nascimento de um filho,outras compartilhadas, como a fugidia eleição de Tancredo, a volta dos exilados, banidos pelo regime que findava.

O término do julgamento do “Mensalão”seria ainda um desses momentos de sensação de poder, de triunfo sobre um padrão de maldade que teima em querer se institucionalizar, bem sabe o lúcido leitor.

Houve momentos de humilhação, sentimento de total impotência que só a sensação da espera da morte podem proporcionar, parte da história pessoal, provenientes de uma prisão, interrogatório, coisas pelas quais muitos passaram na ditadura e não ficaram entre nós para testemunharem seus pavores e humilhações.

No que tange às páginas de humilhação e impotência, paciente leitor, não vou me referir ao banditismo quase à solta, confiante na benevolência das leis. São sentimentos que compartilhamos, graças à empatia com as vitimas, empatia de um ser humano com outro, e que talvez nos toque mais intensamente por termos vivenciado aqueles momentos a que já me referi.

Quero ocupar esta página e a atenção do leitor, para chamar a atenção ao fato de que, justamente passam pelo Estado brasileiro as maiores humilhações coletivas que testemunhamos e vivemos. Do Estado ditatorial, nada mais a ser dito. Do Estado brasileiro atual, dito democrático e de direito, colhemos os frutos da neo-zélite no campo da educação, saúde, insegurança, corrupção.

A ousadia da maldade é tanta que condenados pela até agora mais extensa página de corrupção brasileira,confrontam o STF com direito à torcida organizada e punhos fechados. Mas há um ponto em que, perdoem-me pela “neura” ou pela “nóia” , em que vemos o Estado brasileiro atual, por omissão e ação,humilhar e reduzir à total impotência setores e pessoas óbvias de nossa sociedade.

Quero mais uma vez trazer a lume a indecência, a imoralidade, a crueldade e covardia do Estado brasileiro, sobretudo nos três últimos governos,na sua política indigenista, indigente de patriotismo, brasilidade, moral.

Tal indigência pariu e embala um dito “conflito indígena”,onde duas comunidades são buchas de canhão de interesses que não mostram as caras. Uns abandonados, sem saúde, educação precária ou preparo para o trabalho dignificante, não tem nem como sonhar, os que o fazem abandonam as aldeias tuteladas.

Outros, trazidos pelo Império, pela Republica, para povoar,guarnecer, prosperar sertões e fronteiras, gente de fibra que comprou, pagou, recolheu impostos, plantou, transformou desertos em celeiros, são tratados pelo Estado num nível abaixo do bandido comum ou dos seres da biodiversidade.

O Estado não assume os direitos que, noutros momentos, reconheceu para os pioneiros, até para trazê-los para o sertão. Por outro lado permite e parece até participar, de ações e pregações destinadas a semear ódios e se isentar de responsabilidades. Mente-se e se ilude vergonhosamente. Só dá prá entender se pensarmos que há intenção em provocar o ódio, o conflito, a insegurança jurídica.

Se há recursos financeiros, meios para impedir os abusos e ensaios para guerrilha , porque eles não são usados? Qual é o papel e o desejo do Estado brasileiro nessa vergonha que nos humilha? Respondam os que embalam e manipulam essa copa da vergonha de nosso tempo. Ainda: porque não se diz o calibre do projétil que matou o índio em Sidrolândia?

(*) Valfrido M.Chaves é psicanalista e pós graduado em Política e Estratégia.

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