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Magistral

Por Heitor Freire* | 09/01/2012 11:30

Essa foi a palavra que me veio naturalmente ao ler o artigo do professor Hildebrando Campestrini, “Nelson – e os pequis?”, publicado no Correio do Estado, edição de 24 de dezembro último: magistral, de magister, de mestre e também de coração.

Nesse artigo transparece de forma lúcida e fraternal a amizade que ligava o professor Campestrini ao dr. Nelson Trad. Ele soube, como sempre, registrar o seu sentimento e a sua emoção pela partida do amigo. Não há dor; há saudade, dos momentos que não se repetirão mais. Mas, ao mesmo tempo, há a certeza de um reencontro futuro: “Vá, irmão. Irei mais tarde”.

A amizade genuína como a que unia Nelson e Campestrini requereu tempo, esforço e trabalho para ser mantida. Amizade é algo profundo. De fato, é uma forma de amor. O grande tribuno romano Cícero relata uma situação dessa natureza: a que unia Damon e Pítias, discípulos de Pitágoras, cuja amizade foi submetida a uma prova exigente quando o rei Dionísio de Siracusa – que se aborrecera pelo fato de Pítias ter dito em público que nenhum homem deveria ter poder ilimitado sobre o outro e que os tiranos absolutos eram reis injustos – determinou a morte de Pítias. Este obteve a permissão de se despedir de sua família que residia em outra cidade. Para que Pítias pudesse viajar, Damon se ofereceu para ficar preso no lugar do amigo e, se fosse o caso, cumpriria a sentença. Pítias chegou no dia da execução todo ferido porque seu barco naufragara e, além disso, ele havia sido atacado por bandidos na estrada. Damon estava pronto para o sacrifício. O rei Dionisio, ao testemunhar tamanha dedicação e lealdade, perdoou Pítias e pediu para fazer parte desse grupo.

Em todas as ocasiões em que, no Instituto Histórico e Geográfico, quando reunidos, falávamos a respeito de Nelson Trad, o professor se manifestava de forma carinhosa, respeitosa, admirando o comportamento do amigo que se foi.

Com o falecimento recente do dr. Nelson, inúmeras manifestações já foram feitas e naturalmente continuarão, pois a vida dele se constituiu numa constante de atos significativos, marcantes, corajosos. Assim, lemos o artigo do dr. Ruben Figueiró de Oliveira, “Éramos três”, e logo depois o dr. José da Cruz Bandeira, “Éramos dois”, todos homenageando e recordando essa figura ímpar do nosso estado e da nossa melhor política. O Correio do Estado em editorial antológico registrou a contribuição dele para a história e a política em nosso estado.

Eu fui aluno, por um breve tempo, do dr. Nelson na faculdade de direito da Fucmat, no 2º ano, quando se começa a estudar direito penal. Ter um professor da envergadura de Nelson Trad foi marcante. Ele tinha uma maneira própria de enfatizar a palavra, quando unia ao discurso o seguinte gesto: juntar o polegar da mão direita com o indicador e, assim, com demais dedos estendidos no ar, dava força gestual ao assunto que estivesse abordando. Eu ficava intrigado com a pronúncia dele para a palavra inquérito: ele dizia “incuérito”, ficava bem esquisito. Mas no meu banco de estudante, acompanhando, eletrizado, a sua aula, eu não ousava perguntar. Pensava em perguntar em outra ocasião. Que nunca chegou.

Minha turma de direito teve entre os professores de direito penal, além dele, outros luminares dessa especialidade: Rêmolo Leteriello, Ricardo Trad, Jorge Antônio Siufi, Hélvio Freitas Pissurno e Elenice Pereira Carille.

Nelson e Therezinha legaram ao nosso povo uma herança das mais representativas: Nelson, Marcos, Fábio e suas filhas. Os varões seguem os passos do patriarca de forma consciente, ativa, marcante e significativa. Nelsinho conclui seu segundo mandato como prefeito (eleito da última vez, com mais de 70% dos votos) e soube montar uma equipe de elevado gabarito que transformou o cenário de Campo Grande: hoje um grande jardim e com avenidas largas que tornaram nossa cidade mais bela, com um tráfego mais fluido, uma cidade gostosa para viver.

Marcos, o deputado Marquinhos Trad, já no seu terceiro mandato de deputado estadual, marca sua trajetória de forma corajosa, não se curva a mandos nem desmandos de quem quer que seja e age sempre de forma independente.

Fábio, que exerceu a presidência da nossa OAB de forma inteligente, criativa e ousada, soube asfaltar o caminho para suceder ao pai na Câmara Federal, onde já se destaca como presidente da comissão que analisa o novo código de processo civil.

Agora que os filhos perderam a presença orientadora e estimulante pai, eles contam com a mãe: Therezinha, mulher forte que tem origem, é Mandetta. Quem ainda tem o privilégio de ter a mãe viva, pode fazer uma experiência que tem um efeito renovador: cheguem-se ao regaço da mãe. Foi daí que cruzaram o umbral para a vida. E aí sentirão uma energia renovadora. Porque mãe é fonte.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado

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