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Mídia e greve nas universidades federais

Por Gerson Luiz Martins (*) | 03/07/2012 06:38

A greve de professores e técnicos nas universidade federais completou um mês. São 54 instituições federais paralisadas em todo país. Segundo dados da entidades que congregam os professores como o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES e a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior – PROIFES, estão paralisadas 90% das universidades federais. Como setor estratégico da sociedade, esta situação deve ser considerada gravíssima. E ainda segundo as informações das entidades sindicais e das poucos notícias sobre a situação, o governo está paralisado diante dessa realidade e, enquanto a sociedade não estiver sensibilizada para o problema, não irá equacionar a questão a curto prazo.

Quando se menciona a sensibilização da sociedade sobre a questão, isso se traduz nas raras notícias que a mídia em geral publica a respeito. Por que o tema Educação não é do interesse da mídia? Muitos comentários nas redes sociais reclamam do silêncio da grande mídia para a situação da educação no Brasil, focada, neste momento, na paralisação de 90% das universidades federais. A população desconhece a situação porque não vê essas notícias nos principais telejornais da noite. E muitas das famílias, como filhos nas universidades federais, criticam a greve porque vai prejudicar o calendário escolar de seus filhos, sem qualquer atenção para a situação precária em que vivem boa parte das instituições.

Uma comparação entre a estrutura física, de laboratórios, de condições de trabalho de professores entre as universidades publicas brasileiras e as europeias não é adequada, pois estas ultimas têm muitos anos de investimento público, assim como uma outra perspectiva de prioridade social e politica. Mas é inegável o que um governo pode fazer quando decide como prioritária a educação universitária. É o local onde se promove o desenvolvimento social, econômico e politico de um país.

Como setor estratégico da sociedade, a educação universitária não tem a mesma relevância para a mídia em geral. Em vários períodos jornais e emissoras de televisão criaram cadernos, seções especiais sobre educação, na maioria das vezes focadas na educação básica que tiveram vida efêmera. No geral, a mídia está afastada da educação superior. Projetos mais recentes dão um alento a esta situação como, por exemplo, o Globo Universidade, embora restrito às atividades científicas. Mesmo trabalhos de articulistas em vários jornais, ciberjornais e emissoras de televisão que são professores nas universidades raramente tratam do tema. Como especialistas, pesquisadores há um foco de interesse, mas a educação universitária é seu espaço para desenvolver suas pesquisas e, portanto, se este espaço não estiver adequado é necessário colocar em debate, em discussão pública.

O movimento de reivindicação dos professores das universidades federais não começou em maio deste ano, vem desde agosto de 2010 quando aconteceram os primeiros diálogos com o governo federal para a melhoria das condições de trabalho no ensino. A situação atual de paralisação das atividades é resultado do não cumprimento dos compromissos assumidos pelo governo federal. Como educação não é prioridade dos governos, os itens da pauta de reivindicação dos professores foram postergados mês após mês, sem qualquer sinalização de que seria resolvido. E quando se menciona que a educação não é prioridade dos governos, se compara os custos, ou melhor, os investimentos no ensino público com os custos da propaganda, do marketing dispendidos todos os meses. Um bom governo, com certeza, não é aquele que anuncia, mas aquele que faz!

Pode-se fazer um experimento. Verifique o leitor, nos jornais e telejornais de hoje, quantas notícias mencionam ou focam a greve nacional dos professores das universidades federais. Essa situação mostra claramente qual a importância da educação universitária para a indústria midiática. Enquanto Angela Bismarchi e sua irmã forem as notícias mais lidas nos ciberjornais, por certo a educação estará comprometida; não só pela atenção da mídia, mas também pela atenção do público.

(*)Gerson Luiz Martins é jornalista e pesquisador do PPGCOM e CIBERJOR/UFMS

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