Tancredo Neves, Papa Francisco e Leão XIV
Tem gente que morre no dia errado, não acabou a sua obra.
Tem gente que morre no dia certo, em consonância com a natureza.
Como ocorre com todas as coisas, existem dúvidas sobre o tempo certo e o tempo errado para morrer.
Tancredo Neves e Papa Francisco morreram em 21 de abril.
Tancredo morreu no dia errado, segundo os democratas. Político jeitoso, possuía as habilidades certas para chefiar um processo de transição, de um regime ditatorial para uma democracia. Ele e seu vice, José Sarney, foram eleitos indiretamente pelo Congresso. Deveriam tomar posse no dia 15 de março de 1985. O Brasil precisava de Tancredo Neves vivo, vivíssimo. Mas, em 21 de abril de 1985, Tancredo morreu. Em situação conturbada o vice-presidente José Sarney tomou posse.
Com frio na barriga, os opositores à ditadura acompanharam o processo de redemocratização do Brasil.
A redemocratização foi consumada com a promulgação da Constituição Cidadã, em 5 de outubro de 1988.
Papa Francisco morreu no dia certo. Cumpriu a sua missão.
Aos 88 anos, Francisco enfrentava problemas graves de saúde. A perda de energia, para pessoas como ele, ativas, valentes, figura pública consciente do seu papel, é um desafio imenso. Papa Francisco, na justa proporção, respondeu às suas responsabilidades capitaneando, ao longo de seu papado, com fé, o planeta Terra.
Ensinou a separar o bem e o mal, fronteiras confusas em tempos de internet. Procurou a paz e, com prudência, implantou mudanças na igreja. Pode ter errado em algumas circunstâncias.
Ninguém é perfeito. Somando e dividindo, Papa Francisco cumpriu a sua missão na Terra. Lutou pela paz e pela concórdia, fortaleceu a reconstrução de uma comunidade internacional, em um espaço planetário, onde a defesa do bem comum exige paciência eterna. Proteger o meio ambiente, gente, bicho e planta não é fácil. A carta encíclica Laudato Si, Louvado sejas, herança do Papa Francisco, desperta seus leitores para o cuidado com a “casa comum”.
Francisco morreu, mas antes preparou a sua sucessão. Consciente do seu declínio natural, lúcido frente aos desafios atuais, contou com o apoio do Espírito Santo. Assim nasceu seu herdeiro, Robert Francis Prevost.
Uma reunião no céu
Após a decisão no Conclave, Francisco já instalado no céu, como de hábito, juntou os amigos para sugerir um nome para o papa recém-eleito. Leão foi a proposta mais votada. O Espirito Santo assoprou no ouvido de Prevost. Tratava-se de um nome forte, capaz de enfrentar falsos mitos, virar meme simpático, forte para entusiasmar a multidão na direção do bem comum.
Unanimidade. Precisamos de um Leão para propagar o bem e enfrentar o mal.
Na sequência, lá do alto, viciado no trabalho cotidiano Francisco procurou os amigos de velha data. Olhou do céu para a Terra e ficou preocupado. Viu uma imensa onda de ódio, movida pela tecnologia, avançando de forma devastadora.
Satanás colocava mais fogo na sua fogueira. Esquentava a água dos oceanos estimulando catástrofes, descongelando geleiras e incendiando florestas. Um fogaréu danado.
Francisco continuou olhando para a Terra e viu imigrantes desesperados, sem ter feito mal algum, fugindo da polícia por serem humanos indocumentados. Andantes buscando apenas um lugar para trabalhar, viver em paz, longe da fome e da guerra.
Preocupado pegou o binóculo e avistou gente, apartada do bem, sentada diante do computador seduzindo jovens, crianças, para produzir ódio e praticar mentiras.
Era necessário encontrar uma forma de fortalecer Leão XIV. Seu papado será longo e difícil.
Trabalhador incansável mesmo depois de morto, Francisco reuniu no céu os seus velhos amigos, os mais sábios, profundos conhecedores da alma humana. Era urgente contribuir com o seu herdeiro na arrumação da bagunça planetária. Chamou teólogos, pintores, escultores, arquitetos, literatos e ambientalistas na tentativa de evitar uma grande explosão, de todos e de tudo no planeta Terra.
No inferno Satanás esbravejava. Ele acreditava ter encaminhado bem a destruição do planeta Terra. Sua estratégia de guerra era organizar uma maioria significativa de demônios produtores do mal, organizados em fileiras por tipos de mentirosos, deixando o céu com uma minoria de bons ou quase bons desempoderada (sem muito poder ou dinheiro). O inferno todo trabalhava pela explosão do planeta. Afinal, são especialistas em fogo e gelo. Tudo em excesso, favorecendo crises extremas, humanitárias e ambientais.
Precavido e prático como todo bom jesuíta, Francisco, conhecedor das minúcias do poder e das ambiguidades humanas, deixou, ao morrer, um jovem substituto, Robert Francis Prevost. Um norte-americano, de 69 anos, nascido em Chicago, conhecedor de governos mais vocacionados para a guerra do que para a paz.
Era necessário para enfrentar o ódio, o fogo e a guerra organizar um sólido grupo de amigos.
Amizade para desentortar a humanidade.
A turma de amigos
Preocupado com a crise econômica, político-social e comunicacional, Francisco chamou para um encontro, na nuvem onde passou a viver depois de morto, os melhores especialistas da comunidade humana.
Imortais na terra e no céu. Reuniu Agostinho (354 d.C- 430 d.C), Tomás de Aquino (1225-1274), Francisco de Vitória (1483-1546), Francisco Suárez (1548-1617), Donato Bramante (1444-1514), Michelangelo Buonaroti (1475-1564), Rafael Sanzio (1483-1520), entre milhares de outros. Com a franqueza de sempre sugeriu com voz determinada: “Daqui para frente vamos trabalhar pesado. Eu preciso de todo mundo colaborando”.
Chamou Agostinho, amigo de séculos de Leão. Hábil na separação da verdade e da Verdade (de acordo com a fé cristã), no combate ao ódio e às fake news, doença contagiosa. No seu doutorado estudou profundamente como combater o narcisismo, a doença da moda, doença do espelho.
Na sequência, convidou Aquino, especialista em lidar com os iluministas, gente de muita razão. Modernos, mas não eternos. Competidores por natureza, dedicados à vitória de apenas Um, o vencedor. Competem até embaixo d’água pela perfeição. Iludem a si mesmos. Perfeito só Deus. Pensam que os números, a soma e a subtração, são santificados por um princípio divino. Brigam em torno da hora de dividir o bolo enquanto muita gente está com fome. Entendem pouco do trabalho pastoral. Ovelhas para eles são pura abstração, um número. Confundem o vencedor com o Redentor. Pensam que ciência e Verdade se confundem. Usam a língua para declarar superioridade em relação com a “plebe” e aos novos ricos (maioria), mas perdem nas eleições. Vaidade é a doença dos modernos mas não eternos.
Não se pode esquecer, Havard tem feito o melhor defendendo a autonomia das universidades com ou sem dinheiro. Isto é justo. Mas Havard será melhor e, ainda maior, quando não usar a língua (vaidade) para levantar barreiras e expressar superioridade ancestral. A genuína vontade de diálogo impõe sacrifícios e, não, arrogância. Arrogância é a fronteira mais difícil de escalar, bem mais do que as erguidas com ferro, cimento e arame.
Fronteiras dificultam a concórdia, não permitem negociar.
Franciscos
“Em um subgrupo reúnam-se os dois Franciscos, meus xarás, Francisco Vitória e Francisco Suárez. Vocês desde há muito tempo discutem com juristas e diplomatas o direito das gentes. Entendem do riscado.” No século 16, Las Casas estimulou muitas discussões sobre o tema, em Valladolid (1550-1551). Valeu a pena. Descobriram ser gente diferente, os povos originários, mas gente de carne e osso, parte da humanidade. Gente melhor do que os espanhóis conquistadores dos velhos tempos e os novos predadores brasileiros da floresta.
A discussão sobre as gentes, no século 21, voltou para a pauta. Não podemos esquecer: imigrantes são originários de algum lugar no planeta, na orbis, na Terra. São gente.
A implosão das organizações internacionais sugere retomar a temática do planeta e de tudo que dele faz parte, gente, doença, lixo, chuva, oceano, ovos, floresta, galinhas, temas que vão além das fronteiras. É necessário repensar o problema a partir da raiz. Encontrar uma forma de harmonizar Direitos Humanos e a proteção do meio ambiente com a soberania dos Estados Nacionais.
Difícil equação.
Como a bagunça no planeta Terra é de âmbito internacional, Francisco, o Papa, chamou para ajudar Francisco Vitória e Francisco Suárez. Sugeriu repensar o direito das gentes e os organismos internacionais.
Como fazer a comunidade de gentes retomar a busca do bem comum, produzir ideias novas, sobre o direito das gentes e sobre o Direito Natural? O que fazer para explicar que imigrante não é inimigo e a natureza uma só?
É necessário, com a ajuda do Espírito Santo, inspirar os terráqueos. Não se deve esquecer: as instituições internacionais, mesmo capengas, fazem muito pela humanidade. É possível melhorar. Diminuir os gastos, criar bancos de dados mundiais, reorganizar o pessoal em regiões do mundo, onde o custo de vida é mais barato, contar com o apoio interligado das universidades, remodelar o mundo das ideias repensando fronteiras e compreendendo que ar, água, bicho, planta e bactéria transitam e se misturam, apesar das fronteiras materiais e imateriais.
Os artistas, Papa Júlio II e o sapato
Papa Francisco, sabendo do “amor e da dedicação” de parte da humanidade pelo dinheiro e pelo poder, chamou para o encontro o Papa Júlio II, entendido no assunto. Na Terra, ele se destacou como hábil negociador de alianças militares e conflitos internacionais. Foi engenhoso na elaboração dos contratos e tratados (no Tratado de Tordesilhas, lá estava ele) e bom negociador de indulgências (ninguém é perfeito). Amava as mulheres em geral e algumas em particular. Conseguiu recursos para a reconstrução da Basílica de São Pedro. Profundo conhecedor da linguagem visual, no exercício do poder soube escolher os melhores arquitetos, pintores e escultores da época, capazes de produzir uma magnífica narrativa visual para ensinar o bem. Juntou Donato Bramante (1444-1514), Michelangelo Buonarroti (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520), entre outros artífices. Quanta habilidade na produção e no uso da pompa e circunstância.
Ele era e é um esteta apreciador da linguagem visual, voltada para a comunicação com o grande público. Papa Júlio II e seus artistas sabiam como ninguém combater a estética do ódio com a estética do equilíbrio. Para se ter uma ideia de sua visão no campo da comunicação, basta olhar os números. Hoje visitam, de corpo e alma, a Capela Sistina, em dia normal, dez mil pessoas, em dia de pico, 20 mil pessoas. Isto quando não tinha celular para ver a imagens por meio de um clique. Sem corpo e sem alma, só com o dedo na tela, o número é bem maior.
Papa Júlio II, atento ao sapato velho de Francisco, de sola furada, qualificou o contraste como magnífico, digno de um líder humanista. Disse ele: com o caixão o sapato combinava. Com a arquitetura representava o contraste necessário à comunicação. (Júlio fazia piadas de gosto discutível.) Gostei da solução pouco usual, disse Júlio II. A simplicidade falou alto. Menos é mais, dizem os arquitetos de hoje. Mas… Cuidado com a humildade. Humildade demais pode virar vaidade. Com uma risada santa completou: sapato velho é coisa do seu papado. Foi bom. Passou.
Com força visual, a última mensagem de Francisco para os irmãos na Terra foi Humildade.
Seu coração acertou, disse Júlio II. Agora você e Pepe Mujica vão fazer uma dupla e tanto.
Mas… O seu herdeiro vai viver uma outra história, uma outra circunstância histórica. Em termos de linguagem visual o conservadorismo corresponde à pompa, instrumento importante na comunicação. Olhe para os Estados Unidos, para o seu presidente. Penso ser melhor, na posse de Leão XIV, ele usar todos os barangandãs disponíveis no Vaticano. Nos tempos atuais, de apego a um novo absolutismo político, o barroco tem chances de vencer novamente a parada visual. Por contraste, quem sabe, se redescubra o equilíbrio, a velha harmonia renascentista, o homem como a medida de todas as coisas.
A simplicidade terá outro percurso no século 21. Conservador gosta de luxo. Não vai ser fácil.
Prevost tem, por natureza, alma pastoral, mas compreende a linguagem do poder. Ele já entrou em muitas casas pela porta da frente, e também entrou pela porta dos fundos. Dependendo da porta de entrada a dimensão das coisas muda.
Ele sabe escutar e ver, o visível e o invisível.
Papa Júlio II, instigado por Francisco, soube convencer Michelangelo e toda a sua trupe a inspirar o evento, após a escolha do novo Papa. A beleza do povo na praça é proporção com status de linguagem (espaço/gente). A Basílica de São Pedro e a Capela Sistina falam por si sós. Servem facilmente para inspirar jornalistas, fotógrafos, comunicadores. As imagens fragmentadas não perdem o seu sentido. Histórias conhecidas e repertório variado nas pinturas e esculturas permitem cortes, variações de foco, luz, cor, mantendo a beleza, a proporção e o equilíbrio, virtudes em baixa na atualidade. Linguagem adequada para expandir o bem.
Trata-se de aproveitar o momento da passagem, de um Papa para outro Papa, e fazer o mundo olhar o que falta, apartar-se do mal.
Esta é a missão de todos nós, preocupados com a destruição do planeta. De todos nós.
Pensem comigo disse Francisco. Falar com todos sem distinção numa casa de portas abertas, onde estão expostas algumas das mais importantes obras de arte da história da humanidade, é um luxo. Portas abertas para todos, pobres, ricos, quase pobres, quase ricos, gentes em trânsito, alguns da pobreza para a riqueza e muitos da riqueza para a pobreza, gentes de todas as colorações de pele, conformação de olhos, idade, inteligência e músculos, visíveis ou quase invisíveis, fracos, pobres. Uma maravilha distribuída para todos os olhos que querem ver. Um detalhe precisa ser lembrado: na Capela da Confissão, na Basílica, a partir de 1836, foi autorizado pelo Papa Gregório XVI qualquer padre católico celebrar missa nela.
A reunião no céu foi calorosa. Comida peruana, italiana, espanhola, filipina, portuguesa, argentina uma santa ceia com pratos dos quatro cantos do mundo. Era chegar, afinar a escuta, trabalhar na busca da solução dos desafios terrenos e depois almoçar junto e beber um bom vinho. Os beneditinos trouxerem o licor para finalizar o encontro com chave de ouro.
Sempre com as portas abertas.
A conversa foi tão animada que alguns papéis voaram e caíram na terra. Pergaminho, linho e cânhamo, papel jornal entre outros suportes da escrita. Na terra teve gente que leu e comentou com os amigos. Sempre é melhor ler o texto nas mãos, impresso.
Os pedaços de papel traziam perguntas e respostas sugestivas. Ideias para refletir.
Pergunta 1.298.437.239. Como fechar as fábricas de mentiras?
Comentário de Agostinho:
Mas por que a verdade gera o ódio? Por que os homens olham como inimigo aquele que a prega em teu nome, uma vez que amam a felicidade, que mais não é que a alegria nascida da verdade? Talvez por amarem a verdade de tal modo que tudo de diferente que amam, querem que seja verdade; e, não admitindo ser enganados, também não querem ser convencidos de seu erro. Desse modo, detestam a verdade por amarem aquilo que tomam pela verdade. Amam-na quando ela brilha, mas odeiam-na quando os repreende; e, como não querem ser enganados, mas enganar, eles a amam quando ela se manifesta, mas a odeiam quando ela os denuncia. Porém ela os castiga; não querem ser descobertos pela verdade, mas esta os denuncia, sem que por isso se manifeste a eles. É assim o coração do homem! Cego e lerdo, torpe e indecente: quer permanecer oculto, mas não quer que nada lhe seja ocultado. Em castigo, sucede-lhe o contrário: não consegue esconder-se da verdade, enquanto esta lhe continua oculta. Contudo, apesar de tão infeliz, prefere encontrar alegrias na verdade que no erro. Será, portanto, feliz quando, livre de perturbações, se alegrar somente na Verdade, origem de tudo o que é verdadeiro. (Santo Agostinho, “Confissões“)
Pergunta 2.976.264.543. O que fazer para evitar tantas guerras? Pode haver paz sem concórdia?
Comentário de Santo Tomás de Aquino:
“Art. 1 – Se a paz é o mesmo que a concórdia.
O primeiro discute-se assim. – Parece que a paz é o mesmo que a concórdia.
1. Pois, como diz Agostinho, a paz dos homens é a concórdia ordenada. Ora, o de que agora se trata é da paz dos homens. Logo, a paz é o mesmo que a concórdia.
2. Demais. – A concórdia é uma união das vontades. Ora, a essência da paz consiste nessa união; pois, como diz Dionísio a paz une a todos e produz a concórdia. Logo, a paz é o mesmo que a concórdia.
3. Demais. – Coisas que tem o mesmo contrário são idênticas. Ora um mesmo contrário – a dissenção – se opõe à concórdia e à paz; donde o dizer a Escritura· Não é Deus de dissensão, senão de paz. Logo, a paz é o mesmo que a concórdia. Mas, em contrário, pode haver concórdia de certos ímpios, no mal. Ora, para os ímpios não há paz, diz a Escritura. Logo, a paz não é o mesmo que a concórdia.
SOLUÇÃO. – A paz inclui a concórdia e lhe acrescenta algo. Logo, onde há paz há concórdia, mas nem sempre há concórdia onde há paz, se tomarmos este nome no seu sentido próprio. Pois, a concórdia, no sentido próprio, é sempre relativa a outrem; pois, ela faz as vontades de diversos corações convirem num mesmo consenso. Mas também pode se dar que a vontade de um mesmo homem tenda para objetos diversos; e isto, de dois modos. De um modo, quanto às diversas potências apetitivas assim, o apetite sensitivo muitas vezes busca o contrário do apetite racional, conforme aquilo da Escritura: A carne deseja contra o espírito. De outro modo, quando uma mesma potência apetitiva tende para diversos objetos desejáveis, que não podem ser obtidos simultaneamente. E portanto, há de necessariamente haver contrariedade entre os movimentos do apetite. Ora, unir esses movimentos pertence essencialmente à paz pois o homem ainda não tem o coração pacificado, enquanto, embora já tenha algo do que quer, ainda lhe resta a vontade de outra coisa, que não pode ter simultaneamente com a que já tem. Ora, operar essa união não pertence essencialmente à concórdia. Por onde, a concórdia implica a união dos diversos apetites dos que desejam; ao passo que a paz, além dessa união, implica também a união dos apetites de um mesmo homem.” (Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica“)
Pergunta 3. 222.789.257. Os direitos humanos e a proteção ao meio ambiente são temas que colocam em questão a soberania dos Estados Nacionais. O que fazer?
Comentário de Francisco Vitória.
“no princípio do mundo, quando todas as coisas eram comuns portanto permitido e lícito a qualquer um dirigir-se e percorrer as regiões que quisesse.” (Francisco Vitória, “Relectio Prior”)
“[…] No que toca ao direito humano, consta que por direito humano positivo o imperador não é senhor do orbe. Isto só teria lugar pela autoridade de uma lei, e nenhuma há que tal poder outorgue […] Tampouco teve o imperador o domínio do orbe por legítima sucessão, […] nem por guerra justa, nem por eleição, nem por qualquer outro título legal, como é patente. Logo nunca o imperador foi senhor de todo o mundo.” (Francisco Vitória, “Relectiones sobre os índios e sobre o poder civil“)
Do ponto de vista do planeta, da nossa breve existência, não valeria a pena retomar as velhas discussões dos humanistas? Se “de tudo fica um pouco”, não teria ficado um pouco do passado, da busca do bem?
Como disse José de Acosta (1539-1600), ao descobrir ser o planeta redondo:
O mar é um só.
(*) Janice Theodoro da Silva, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
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