ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Cidades

“Dr. Faz Tudo” nega imperícia e diz ir à Justiça contra cassação pelo CRM-MS

Paulo Gonçalves nega 33 erros médicos e afirma que processo começou com morte de bebê que nasceu com má-formação cardíaca

Humberto Marques | 27/09/2019 14:48
Gonçalves, conhecido como "Dr. Faz Tudo", afirma que morte de bebê foi decorrente de problema cardíaco e falta de vaga em UTI neonatal. (Foto: TV Globo/Reprodução)
Gonçalves, conhecido como "Dr. Faz Tudo", afirma que morte de bebê foi decorrente de problema cardíaco e falta de vaga em UTI neonatal. (Foto: TV Globo/Reprodução)

O médico Paulo Marcelino Andreoli Gonçalves, conhecido como “Dr. Faz Tudo”, afirma que irá à Justiça contra a decisão do CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) que cassou o seu registro e lhe impediu de exercer a profissão. A decisão foi divulgada pelo órgão na quinta-feira (26) e é balizada na acusação de que ele feriu cinco artigos do Código de Ética Médica, a qual, afirma, ocorreram durante um parto em Antônio João –a 279 km de Campo Grande– realizado em 2009.

Gonçalves ganhou notoriedade no início do ano, quando reportagem do Fantástico, da TV Globo, atribuiu-lhe 33 denúncias por erros médicos em cirurgias em um hospital de Guaíra (PR), sendo, em sua carreira, registradas três mortes. Ao Campo Grande News, por telefone, ele afirma que foi à Justiça contra a emissora, da qual cobra indenização de R$ 350 mil e obteve, judicialmente e em primeira instância, “determinação para a retirada daquela matéria do ar”. O caso tramita na Justiça do Paraná, segundo o “Dr. Faz Tudo”.

“Meu CRM no Paraná tem 33 anos e não sofri nenhum processo ético-profissional nesse tempo”, afirma ele, que fez um breve resumo de sua atuação também em Mato Grosso do Sul –de Bela Vista, onde afirma ter começado a trabalhar em meio a uma greve no hospital “onde tinha morrido duas crianças” e afirma começar a ser perseguido, ele seguiu para Antônio João, onde houve o parto que resultou em morte.

Gonçalves afirma que, naquele período, ele não costumava atuar em plantão, mas ficava de sobreaviso em sua casa. “Nunca abandonei o paciente. Quando precisavam me chamavam, eu ia ao hospital se tivesse alguma eventualidade”, afirmou. No dia do parto, porém, “coincidiu de eu ficar no hospital, por isso foram me chamar e não acharam. Dormi no hospital de sexta para sábado. Consegui localizar a diretora que confirmou pensar que eu estava em casa”.

A grávida, afirma ele, era uma garota de 16 anos que não seguiu as orientações médicas. “Era menor, mãe solteira e só fez dois dos seis pré-natais. Tinha amarrado fita na barriga para esconder a gestação”, afirmou, entre outros problemas que relatou sobre a jovem. Gonçalves afirma que foi chamado para fazer a cesárea por volta das 19h30.

Gonçalves afirma que laudo comprovou morte por cardiopatia. (Imagem: Reprodução)
Gonçalves afirma que laudo comprovou morte por cardiopatia. (Imagem: Reprodução)

Causa mortis – Ele ainda afirma que o bebê nasceu com problemas cardíacos, o que consta no laudo que afirma ter em mãos. “A UTI neonatal estava lotada, não havia vagas. Encaminhamos a criança e ela morreu lá”, destacou. A necropsia, prosseguiu Gonçalves, atestou a causa mortis como uma cardiopatia. “Meu procedimento não interferiu na morte da criança, foi comprovado não haver nexo de casualidade e que não havia vaga no hospital”.

A alegação, afirma ele, rebate os cinco pontos que o CRM-MS utilizou para lhe cassar o registro – imperícia, imprudência ou negligência; responsabilidade por ato médico do qual não participou; afastar-se das atividades sem deixar substituto; ausência em plantão; e deixar de elaborar prontuário legível. Sobre este último, Gonçalves afirma que “cada médico tem uma letra e a letra é feia”.

O processo no CRM-MS, afirmou ele, foi aberto em 2012 e estava há seis anos parado. Depois da reportagem, porém, foi notificado naquela semana sobre a realização de audiência do caso, que caminhava para prescrição. “Minha advogada estava no exterior e eu estava doente. Não imaginava que, em quatro dias, iam marcar. Julgou à revelia”, afirmou.

Gonçalves afirma que deve procurar a Justiça comum para tentar reverter a decisão, uma vez que não haveria condições de contestar a decisão no próprio conselho.

O médico cassado ainda afirma que a situação em Guaíra foi resultado de perseguição política por conta do trabalho realizado, que teria contrariado interesses de pessoas que, acusa, teriam recebido valores por cirurgias. “Quando cheguei lá, em 2016, tinha 1.500 pessoas na fila por cirurgia. Fizemos em dois anos e meio as 1.500”, afirma.

Nos siga no Google Notícias