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Cidades

Casar, pra quê? União sem papel ultrapassa casamento formal em MS

Pesquisa do IBGE mostra que a convivência informal se espalha entre jovens e famílias de baixa renda

Por Jhefferson Gamarra | 05/11/2025 18:33
Casar, pra quê? União sem papel ultrapassa casamento formal em MS
Celebrante Maria Florencia Saves durante casamento em Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE nesta terça-feira (5), mostra que o modo de formar família em Mato Grosso do Sul está passando por transformações. Pela primeira vez, as uniões consensuais, quando o casal vive junto sem formalizar o casamento no civil ou religioso, ultrapassaram as uniões formais. O levantamento aponta que 41,2% das pessoas com 10 anos ou mais que vivem em união conjugal estão nessa categoria, enquanto 33% se casaram no civil e religioso.

RESUMO

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O Censo Demográfico 2022 revela mudanças significativas nos arranjos familiares em Mato Grosso do Sul. Pela primeira vez, as uniões consensuais (41,2%) superaram os casamentos formais (33%) entre pessoas com 10 anos ou mais que vivem em união conjugal. O estado registra 1,2 milhão de pessoas em algum tipo de união. As transformações são influenciadas por fatores socioeconômicos e religiosos. Entre evangélicos, predominam casamentos formais, enquanto católicos e pessoas sem religião optam mais por uniões consensuais. O estudo também aponta crescimento nas dissoluções conjugais, que aumentaram 38,3% em 12 anos, colocando MS em 6º lugar no ranking nacional.

O dado reforça uma tendência que já vinha sendo observada em outras regiões do país: a de que o casamento formal vem perdendo espaço, enquanto a convivência informal se consolida como principal tipo de união. Em Mato Grosso do Sul, mais da metade da população (53%) com 10 anos ou mais vive algum tipo de união conjugal, o que representa 1,2 milhão de pessoas. Esse percentual é praticamente o mesmo de 2010 (52,2%), mas o perfil dessas uniões mudou de forma visível.

O Censo mostra que, entre 2010 e 2022, os casamentos apenas civis cresceram, passando de 18,8% para 23,4%, enquanto os casamentos religiosos e civis combinados caíram de 36,6% para 33%. As uniões apenas religiosas também diminuíram, de 2,8% para 2,3%. Por outro lado, o número de pessoas que optam por viver juntas sem casamento aumentou e hoje representa a maior parcela entre todos os tipos de união.

Essa mudança é atribuída a fatores como maior independência financeira das mulheres, mudanças culturais e religiosas e flexibilização dos costumes sociais. Segundo o IBGE, as uniões consensuais aparecem com mais frequência entre grupos com menor renda e entre pessoas sem religião ou pertencentes a religiões de matriz africana e tradições indígenas.

Outro ponto de destaque é o aumento das dissoluções conjugais, que incluem separações, divórcios e viuvez. Em 2022, 19,1% da população de 10 anos ou mais do estado já havia passado por algum tipo de dissolução, contra 15,4% em 2010. Isso representa um aumento de 38,3% em 12 anos. Mato Grosso do Sul ocupa o 6º lugar entre os estados com maior percentual de dissoluções.

O número de pessoas que nunca viveram em união caiu de 32,4% para 27,9% no mesmo período, o que indica que mais pessoas têm se relacionado, mas também se separado ao longo da vida.

Diferenças entre homens e mulheres - Os dados do IBGE revelam que as mulheres mais jovens são as que mais vivem em união, formal ou informal. Entre aquelas com até 39 anos, 46,1% estão unidas, enquanto entre os homens da mesma faixa etária o percentual é de 38,8%.

A partir dos 40 anos, o cenário se inverte. Entre os 40 e 49 anos, os homens têm ligeira maioria de uniões (22,9%, contra 22,5% entre mulheres). Entre os idosos, a diferença é mais acentuada: 20,2% dos homens com 60 anos ou mais vivem em união, ante 14,7% das mulheres.

Para o IBGE, isso reflete a maior expectativa de vida feminina. Com mais longevidade, cresce o número de mulheres que passam a viver sozinhas após a separação ou a viuvez, o que reduz o percentual de mulheres em união nas faixas etárias mais altas.

Religião influencia o tipo de união - A religião também exerce influência nas escolhas conjugais. Entre os evangélicos, há uma presença mais forte dos casamentos formais — tanto civis quanto religiosos. Já entre os católicos, espíritas, pessoas sem religião, adeptos da umbanda e do candomblé, e das tradições indígenas, predomina a união consensual.

Os dados do IBGE mostram que 94,9% das pessoas que se declararam de tradições indígenas vivem em união consensual. Entre os sem religião, 65,1% optam por essa forma de convivência, e entre praticantes da umbanda e candomblé, 61,5%. No caso dos evangélicos, o cenário é oposto: 35,2% se casaram no civil e religioso e 32,6% apenas no civil, somando quase 68% em uniões formalizadas.

Renda e escolaridade - O levantamento revela ainda que as condições econômicas influenciam diretamente o tipo de união. Entre as pessoas com rendimento de até um salário mínimo per capita, 56,3% vivem em uniões consensuais. Já nas faixas de meio a dois salários mínimos, predominam os casamentos civis e religiosos, que chegam a 56,4% do total.

Segundo o IBGE, as uniões informais estão mais ligadas a condições socioeconômicas precárias, nas quais o custo e a burocracia de um casamento formal podem ser fatores limitantes. Nas faixas de renda mais altas, os casamentos civis e religiosos são mais comuns, embora representem uma parcela menor da população.

Diferenças regionais  - Entre os municípios sul-mato-grossenses, Paraíso das Águas tem o maior percentual de pessoas que vivem em união conjugal (63,9%), seguido por Jateí (61,2%) e Inocência (60,9%).

Por outro lado, Paranaíba se destaca com o maior percentual de pessoas que não vivem atualmente em união, mas já viveram algum relacionamento, totalizando 22,3% da população. Em seguida aparecem Paranhos (22,05%) e Maracaju (21,7%).

Os dados do Censo 2022 mostram que a estrutura familiar e conjugal em Mato Grosso do Sul está se diversificando. O casamento formal, antes símbolo de estabilidade e padrão social, vem dando lugar a novas formas de convivência.

A união consensual, agora maioria, reflete mudanças de valores, maior autonomia individual e transformações econômicas. O aumento das dissoluções e o declínio dos casamentos religiosos reforçam a ideia de que as relações estão mais dinâmicas e menos atreladas a convenções tradicionais.