Do corte à costura, trabalho silencioso tem até tapeceiros da Santa Casa
Para quem trabalha, lugar é reduto de paz em um lugar carregado pelo peso da responsabilidade com a cura
Quando Miguel de Carvalho Batista, de 75 anos, fala que é tapeceiro, ninguém imagina que ele trabalha em um hospital. E já são 29 anos dedicados à tapeçaria dentro da maior unidade hospitalar de Mato Grosso do Sul.
RESUMO
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Há 29 anos, Miguel de Carvalho Batista, 75, dedica-se à tapeçaria na Santa Casa de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. No hospital, ele ensinou o ofício a outros três colaboradores, que juntos, mantém cerca de 700 poltronas, além de colchões, cadeiras e estofados. O trabalho artesanal se estende a outros setores como marcenaria, pintura e serralheria, que atuam em conjunto na manutenção dos equipamentos. Ademir Vanderlei Binelli, educador físico, trocou a profissão pela tapeçaria após aprender com Miguel. Para ele, o ofício se tornou terapêutico. Joventino Godoy Ferreira, também aprendiz de Miguel, compartilha do mesmo entusiasmo. A iniciativa gera economia para o hospital. A reforma de poltronas, por exemplo, custa em média R$ 400,00 na oficina interna, contra R$ 1.200,00 em oficinas externas. Mensalmente, a equipe atende cerca de 74 ordens de serviço, incluindo cadeiras de rodas, macas, cortinas e diversos tipos de assentos.
Bem humorado, Miguel brinca: “Sou quase dono da Santa Casa”.
Miguel se orgulha do ofício e, neste período, já perdeu a conta de quantos profissionais ensinou a arte de consertar poltronas, colchões, cadeiras e estofados em geral.
“O pessoal admira quando eu falo que sou tapeceiro no hospital!”.
Aposentado há 20 anos, Miguel não deixa o trabalho. A tapeçaria começou em sua vida, em 1962, como necessidade, mas se tornou um prazer. Ele trabalha junto com outros três colaboradores que cuidam da manutenção de diversos equipamentos, entre eles, 700 poltronas de acompanhantes de pacientes, que estão distribuídas nos seis andares do prédio, e nas unidades do Trauma, Banco de Sangue, Hemodiálise e Oncologia.
Ofício terapêutico
Tapeceiro há dois anos, Ademir Vanderlei Binelli aprendeu o ofício com o senhor Miguel. Educador físico de formação, Binelli abandonou a educação infantil e, desde então, trabalha na Santa Casa. Fez a transição de carreira e entrou para atuar na manutenção do hospital, hoje tornou-se tapeceiro.
“Aqui é uma paz, é super terapêutico. Aqui é o melhor local da Santa Casa”, diz Binelli ao confessar que se apaixonou pelo trabalho artesanal e não pensa em voltar para a educação. O ofício é silencioso e detalhado, desde o corte do material até a costura.
Na oficina, tudo é feito a mão e nos mínimos detalhes. Joventino Godoy Ferreira também aprendeu a função no setor, com aulas do senhor Miguel. “É um trabalho feito com cuidado, com amor. Quero levar essa profissão adiante”, comemora.
Oficinas
Além da tapeçaria, dentro da Santa Casa de Campo Grande há ainda outras três oficinas: marcenaria, pintura e serralheria. Alberto Nascimento de Araújo é o supervisor das oficinas e explica que os quatro setores trabalham de forma complementar. Uma mesma cadeira pode receber a manutenção da estrutura metálica, receber pintura, a troca do braço de madeira e, por fim, o estofado de corvin, que é costurado pelo tapeceiro Ademir Vanderlei Binelli.

Economia e produção
O supervisor das oficinas Alberto Nascimento de Araújo afirma que ter a oficina própria contribui para a economia. Diariamente, na tapeçaria são reformadas e substituídas em média de duas a três poltronas, conforme a demanda. Somente com o conserto das cadeiras, a unidade economiza R$800,00, uma vez que em oficina externa o valor do conserto está em R$1,2 mil e dentro do hospital o custo médio fica em R$400,00 por cadeira.
Mensalmente, o setor de tapeçaria atende 74 ordens de serviço entre manutenção de cadeiras de rodas e cadeiras de banho, reforma de poltronas de acompanhantes, sofás, cadeiras de escritório, longarinas - que são as cadeiras de recepção, fabricação de colchões para camas e macas e manutenção de cortinas divisórias para leitos.